Os 7 melhores poemas de O Vento da Noite, de Emily Brontë

O Vento da Noite, de Emily Brontë, é um livro de poesia da consagrada autora de O Morro dos Ventos Uivantes. Composto por trinta e três poemas selecionados e traduzidos por Lucio Cardoso, escritor do início do século XX, a obra revela apenas uma parcela da produção poética da irmã da também famosa escritora Charlotte Brontë. Os poemas, quase sempre com temas que giram em torno do amor, da morte e da dor de existir, revelam uma face do lirismo romântico e de uma expansão da subjetividade. Leia mais aqui!

O NotaTerapia separou os melhores poemas da obra. Confira:

Eu não tinha necessidade do seu hálito
Para me elevar a tais pensamentos,
Mas um outro suspiro em voz baixa me disse
Que os negros bosques são povoados pelas trevas.

A folha pesada, nas águas da minha canção,
Escorre e rumoreja como um sonho de seda;
E, ligeira, sua voz miriápode caminha,
Dir-se-ia levada por uma alma fagueira.

E eu lhe dizia: “Vai-te, doce encantador,
Tua amável canção me enaltece e me acaricia,
Mas não creio que a melodia desta voz
Possa jamais atingir o meu espírito.

Vai encontrar as flores, as tuas companheiras,
Os perfumes, a árvore tenra e os galhos débeis;
Deixa meu coração mortal com suas penas humanas,
Permite-lhe escorrer seguindo o próprio curso.”

Mas ele, o Vagabundo, não me queria ouvir,
E fazia seus beijos ainda mais ternos,
Mais ternos ainda os seus suspiros: “Oh, vem,
Saberei conquistar-te apesar de ti mesma!

Dize-me, não sou o teu amigo de infância?
Não te concedi sempre o meu amor?
E tu o inutilizavas com a noite solene,
Cujo morno silêncio desperta minha canção.

E quando o teu coração achar enfim repouso,
Enterrado na igreja sob a lousa profunda,
Então terei tempo para gemer à vontade,
E te deixarei todas as horas para ficar sozinha…”

Eis Que Estás de Volta

Ah! Eis que estás de volta esta noite,
Para despertar ainda
O que eu julgava morto nos abismos do ser.
A luz aumenta;
De súbito, o coração ardente espalha sua luz vermelha.

Agora que vejo a palidez de tuas faces,
As grandes planícies de teus olhos,
E que uma palavra mal se desprende dos teus lábios,
Adivinhei o curso estranho do teu sonho,

E poderia jurar que este vento triunfante
Dispersou para bem longe as imagens do mundo,
E afastou do teu coração a memória inoportuna,
Semelhante às flores de espuma que recolhe a onda:

E agora és um sopro do espírito
E tua presença é um dilúvio penetrante,
O raio que brame no meio das tormentas
E o suspiro final da tempestade que morre.

És o vasto encanto em que se embala o universo,
Somente tu escapas à sua fascinação.
A vida rebenta sem descanso de tua fonte poderosa
E sobre ti agora a morte já não tem nenhum poder.

Assim, quando a morte tiver enrijecido o teu seio,
Tua alma subirá mais alto do que a sua prisão,
O cárcere misturará sua pedra à poeira,
A escrava confundida se perderá nos céus,
E a Natureza inteira acolherá o teu ser;
Tua alma se perderá nas dobras da sua Alma,
E se hálito receberá então os teus suspiros.

Ó mortal!
A fábula da vida é narrada bem depressa,
Mas basta uma vida – para não se morrer jamais.

De Pé
De pé,
Perto desta água morta e triste,
Sob o inverno dos raios e os lados da lua,
Ele sonha ainda com a obra do assassino,
Mais pesada em seu coração que a pesada noite.
Ela veio, a voz do sonho esfacelado,
Devagar no ar silencioso,
Como a mão que não tem força.
E no entanto, antes do negro grito dos corvos,
Ele estava ali, de pé, indiferente.
E no entanto, ouvia.
Assim ouviu a voz,
Doce como um perfume, chamar pelo seu nome,
Uma vez somente.
E depois o eco esmoreceu aos poucos…
Mas viam-se fugir, a cada batida do coração,
As asas do horror.
A mesma vida sempre acabava de morrer.

O Lago Morto

O lago morto, o céu cinzento ao luar;
Pálida, lutando, coberta pelas nuvens,
A lua;
O murmúrio obstinado que cochicha e passa
(Dir-se-ia que tem medo de falar em alta voz).

Tão tristes agora,
Recaem sobre meu coração,
Onde a alegria morre como um rio deserto.
Minhas pobres alegrias…
Não as toqueis,
Floridas e sorridentes.

Lentamente, a raiz acaba de morrer.

Onde Estás Agora

Ó sonho, onde estás agora?
Os longos anos já passaram,
Depois que sobre tua fronte
Eu vi a luz morrer,
E devagar tornar-se em podridão.

Ai de nós! Ai de nós! Ó desgraçada,
Eras loura e bela
E faiscante!
Eu não podia imaginar
Que o único fruto de tua imagem
Seria o desespero.

O raio de luar, a tempestade,
E as noturnais, deusas do verão,
A noite silenciosa,
Na calma solene,
A lua ronda, o céu puro,

Outrora,
Eram a trama do teu ser,
Mas já não são mais do que um manto exausto
De dores e de penas.
Ó tu que desamparaste o meu olhar,
Já é sofrer bastante
Ter visto para sempre se extinguir a tua luz!

O Sol Acabava de Descer
O sol acabava de descer para a noite,
Sobre as mansas colinas
Onde a erva se mistura ao pesado maciço das árvores.
E a terra era bela,
Mais bela e solitária
Como jamais a brisa a tinha visto,
A brisa terna,
Que torna a erva mais fresca ao cair do dia,
Que dá às vagas azuis mais vida e brilho,
E entreabre de repente as frágeis nuvens brancas,
Que parecem ser ao longe
Os fantasmas dos orvalhos celestes
Fugindo.
E tinham volteando durante a manhã inteira
Sobre as flores do azul, celeste alimento.
Agora se vão para os céus dos regressos,
Que primeiro conheceram seu glorioso esplendor.

Últimas Palavras

Eu não podia saber como é duro e cruel
Pronunciar a palavra Adeus;
Hoje no entanto volto como suplicante,
Para juntar às orações do coração a voz dos lábios.

A colina deserta e o inverno matinal,
Bem como a árvore de séculos nodosos,
Podem despertar o desprezo de tua alma:
Acharei para eles um desdém semelhante.

Tenho o direito de esquecer teus olhos negros,
Suas sombras,
E o encanto fascinante de teus lábios pérfidos.
Não renegaste as promessas sagradas
Que outrora formularam os teus lábios sem fé?

Se basta ordenar para forçar o teu amor,
Se ele se deixar deter pela razão das paredes,
Não saberei obrigar uma alma a se afligir
Com semelhantes traições e friezas desta espécie.

Pois sei que existe mais de um coração
Que, ligando-se ao meu,
Por uma longa prova assegurou esse laço.
E sei de um olhar cujo brilho passageiro
Durante muito tempo dividiu comigo o seu calor bendito.

Estes olhos serão para mim o Tempo e a Luz.
Minhas alma com seu auxílio enfim se evadirá.
Eles expulsarão de mim os sonhos insensatos,
E as sombrias litanias onde a memória se aconchega.

Edição: Civilização Brasileira, 2016

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