8 motivos para assistir ao filme Anatomia de uma queda

Ainda não assistiu ao filme Anatomia de uma queda? Vale lembrar que o longa francês, lançado em 2023, será disponibilizado no catálogo do Prime Vídeo no dia 21 de março.

Embora muitas análises e críticas já tenham sido publicadas na internet, ainda é preciso levar em consideração aqueles que não tiveram a oportunidade de vê-lo. Por isso, o Nota resolveu listar não só alguns motivos, mas também reflexões, tentando, ao máximo, não revelar informações significativas da obra. De qualquer forma, não há spoiler que desagrade a experiência ou a expectativa de conversar sobre ele.

Leia também: 5 motivos para Oppenheimer ganhar o Oscar de Melhor Filme

Basicamente, a sinopse retrata a vida de Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e Samuel (Samuel Theis), seu marido francês. O casal vive junto com Daniel (Milo Machado Graner), o filho de 11 anos, deficiente visual, em uma pequena e isolada cidade nos Alpes. Até que Samuel é encontrado morto, em decorrência de uma queda, e a polícia passa a tratar o caso como um suposto homicídio, sendo a esposa a principal suspeita.

Confira 8 motivos que podem animar o espectador:

1. O longa-metragem ganhou, entre outras premiações, o prêmio Palma de Ouro 2023, o César, principal premiação do cinema francês, e concorreu a 5 categorias do Oscar 2024: melhor filme, direção, atriz, roteiro e montagem. Ganhou o de Melhor Roteiro Original. Nos Estados Unidos, registrou a maior bilheteria de 2023 para uma produção francesa.

2. Além de ser dirigido pela cineasta e roteirista Justine Triet, proeminente nome do cinema contemporâneo, conta com o destaque dos artistas Sandra Hüller e Milo Machado Graner pelas suas performances. Até o cachorrinho Messi, que interpretou Snoop, fez uma ótima atuação. Ele ganhou o prêmio Palm Dog 2023, em Cannes, categoria criada em 2011, e oferecida aos melhores atores caninos.

Alguns podem se lembrar, inclusive, da cachorrinha Baleia, de Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Compará-los, no entanto, seria injusto, já que desde 1938 (primeira publicação do livro), Baleia não cansa de morrer no imaginário dos leitores, e, no filme homônimo adaptado, em 1963, a morte causou a mesma ou maior comoção com a sua atuação. Ainda, por outro lado, embora ela tenha morrido, permanece mais viva do que nunca por meio da obra clássica brasileira.

Baleia, no filme Vidas Secas (1963)

3. Mesmo que as cenas e os diálogos sejam longos, eles são bem encadeados, evitando que fique cansativo. Isso faz com que estejamos atentos a cada detalhe das falas dos personagens.

4. No tribunal, as disposições das câmeras dão, por vezes, a impressão de que o espectador ocupa a posição de jurado. Os ângulos variam em diversos momentos, mas é possível perceber essa estratégia, predominantemente, quando a esposa está sendo interrogada.

5. Os elementos que geram a dúvida central são abordados de modo sutil, permanecendo coerentes também no que fica implícito. Acidente? Suicídio? Assassinato? No que acreditar quando não se têm provas materiais como, por exemplo, imagens de câmera de segurança ou digitais, mas apenas escassos indícios e testemunhos? Como considerar a parcialidade da percepção e do caráter incerto e frágil das convicções humanas?

6. O filme pode, ainda, gerar discussões sobre linguagem, testemunho, tradução, memória, plágio, fronteiras entre realidade e ficção ou “verdade” e imaginação, entre outros. Beatriz Sarlo, crítica literária argentina, destaca no livro Tempo passado: “Toda narração do passado é uma representação, algo dito no lugar de um fato”, ou seja, o registro do passado só pode ser acessado por intermédio das palavras. E disso suscitam outras questões: A memória é realmente confiável? Como o ser humano lida com as lacunas da memória para preencher a história? Com aquilo que acredita ser a “verdade” ou com a imaginação?

7. Daniel pode ser compreendido como a representação da metáfora do filme ou da metonímia, pois ao mesmo tempo que não enxerga ou tem a visão prejudicada, é o principal responsável por conduzir o desfecho da situação. Isso lembra a figura Têmis, deusa da justiça na mitologia grega, que é apresentada cega ou comumente com os olhos vendados para demonstrar sua imparcialidade. Já o título do filme também pode remeter à queda do homem ou à ruína de um casamento.

8. Outro detalhe que também passou despercebido por boa parte do público, dando a impressão, inclusive, tratar-se de uma ação proposital, é que os nomes dos personagens (Sandra e Samuel) correspondem aos nomes verdadeiros dos atores, enquanto Daniel, o filho do casal, tem origem do hebraico “Daniyyel”, e significa “Deus é meu juiz” ou “o Senhor é meu juiz”. Coincidência ou não, cabe salientar que nada parece gratuito quando o enredo é bem construído.

Além disso, é um filme extremamente dialógico e rico em exemplos para serem explorados, em especial, por estudantes das áreas de Direito e de Letras. Mas, entre outros aspectos, Anatomia de uma queda tem a intenção de enfatizar tanto a volatilidade da memória quanto a fragilidade das certezas.

Veja o trailer:

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