Fotografia de Arquitetura: a arte de contar histórias

Quero começar esse texto sobre histórias contando a minha.

Em 2012, me formei no curso de Direito. Trabalhei na área jurídica durante os 5 anos de graduação e percebi que, apesar de ter gostado muito, atuar na área me faria infeliz. Tratei de conseguir a aprovação na OAB, passei e ali encerrei esse capítulo da minha história. Me lembrei do conselho que minha mãe me deu desde a época da escola, de que eu deveria escolher algum curso relacionado à arte. Lembrei do meu pai, que sempre me viu fotografar tudo à minha volta desde criança, com a câmera analógica, que me disse, numa conversa despretensiosa, que eu poderia ser fotógrafa. 

Pois bem, por agora preciso voltar um pouco mais à minha infância, quando eu era ainda bem novinha. Sabe quando os adultos perguntam sobre qual profissão a gente gostaria de ter? Eu respondia que queria decorar casas. “Ser decoradora”, eu dizia. Foi só quando já adulta que descobri que isso se chamava Design de Interiores. O que aconteceu com aquela criança que sonhava em decorar e montar casas para se transformar na adolescente de ensino médio que resolveu prestar vestibular para Direito?

Bem, basicamente, mesmo com meus pais me dizendo que eu deveria escolher algo relacionado à arte, eu coloquei na minha cabeça que deveria escolher algo mais sólido, um curso que me trouxesse estabilidade financeira. A escolha pelo Direito não foi sem fundamento. Sempre amei ler, me destacava bem nas matérias de humanas na escola, e pensar que eu poderia atuar na Justiça me deixava inspirada a fazer diferença no mundo. 

Aline Resende, fotógrafa de arquitetura

Voltamos, então, ao ponto em que decido não atuar na área jurídica, que me recordo dos conselhos que meus pais me deram e que não segui na época. Decido, já depois de formada, mudar completamente de área e estudar Design de Interiores. Aquele antigo desejo de infância finalmente voltou à tona.

Porém, ao estudar Design de Interiores percebi que não queria atuar fazendo projetos, desenhando casas, prédios e ambientes, apesar de nutrir muito amor pela Arquitetura e Interiores. Decidi, então, estudar Fotografia. E ao imergir nesse mundo de captura de imagens, descobri a existência de algo incrível, um ramo muito específico, a fotografia de Arquitetura e Interiores. É nesse capítulo da minha história profissional que finalmente me realizei.

Leia também: Edgar Allan Poe e o daguerreótipo: as primeiras fotografias a chegar ao grande público

Já são nove anos em que trabalho fotografando Arquitetura e Interiores, e posso dizer que durante esse tempo realizei vários sonhos. Viajei para diversos lugares do país a trabalho, atuo na minha cidade, Belo Horizonte, como em todo território mineiro, além de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Tive fotos publicadas em livros, vendi e sigo vendendo quadros, dei aulas, palestras, fiz várias exposições, uma delas em um museu que sempre admirei muito aqui em BH, no Circuito Cultural Praça da Liberdade. Tive foto minha exposta no tradicional Festival de Fotografia de Paraty e também na maior Feira de Arquitetura da América Latina, que acontece todo ano em São Paulo. Fui fotógrafa oficial de uma exposição em Portugal e de importantes Mostras de Arquitetura de Minas Gerais, como a Modernos Eternos e Morar Mais. E continuo sem acreditar que consegui tudo isso, porque foram realizações que me emocionam muito, e significam demais para mim.

A fotografia de Arquitetura e Interiores é um mecanismo muito mágico de contar histórias, carrego sempre uma malinha e minha mochila, e dentro dela, meu equipamento, câmeras, lentes e tripé. Com essa mala de viagem, adentro na casa das pessoas, vejo a luz entrar pela janela, os móveis, os adornos, os movimentos, as cores, os reflexos, os motivos por trás do projeto da sala, do quarto, da varanda, do banheiro, da cozinha…

Foto de Aline Resende feita em Soho, NY

Na maioria das vezes, quem me contrata são os arquitetos e designers que desejam registrar e eternizar os projetos que fizeram para seus clientes, sejam eles de uma casa, de um prédio, de uma loja, de um escritório comercial, de hospitais, clínicas, consultórios, estúdios, espaços culturais, entre outros. Assim, embarco em um passeio conhecendo os moradores, os lojistas, os médicos, os dentistas, tatuadores, professores de yoga, pilates, artistas plásticos, crianças que me mostram animadas o seu novo quarto, bebês que sorriem para mim antes de eu fotografar seus berços, os móveis com seus poéticos brinquedos, senhoras que sempre fazem uma mesa de lanche ao final da sessão com café passado na hora. 

Eu realmente gosto de fotografar, “colocando na mesma linha cabeça, olho e coração”. Me desligo de tudo, entro num mundo à parte onde me permito sentir, observar os detalhes, a luz que entra, a luz que sai, as sombras. E numa mistura de técnica, cálculo, olhar atento e emoção, capturo cenas que contam a história daquelas pessoas, daquelas casas, dos ambientes que foram carinhosamente estudados e projetados pelos meus clientes.

Agora, para finalizar esse texto, preciso voltar a mais uma memória de infância. Quando eu criei a fama de ser muito curiosa. Isso porque eu gostava de entrar na casa das pessoas e abrir armários, gavetas, ver as fotos, os livros, os adornos. Tudo isso me arrepiava de emoção. Apesar de não ser visto com bons olhos pelos adultos, e até compreendo, eu era uma criança “fuxiqueira”. Recordo-me da minha avó paterna reparando que, toda vez que eu ia à sua casa, eu abria as mesmas gavetas, olhava fascinada as mesmas fotos antigas, de um tempo em que não era nascida. Me perdia entre enfeites, copos coloridos e xícaras. 

E foi só recentemente que deparei com o fato de que, hoje,  eu trabalho exatamente fazendo o que mais amava quando criança: entrando na casa das pessoas, organizando adornos, gavetas, abrindo armários, portas e janelas, pegando copos coloridos, xícaras, jarras e baús antigos. Enquanto eu conto a história daquelas pessoas, das casas e estabelecimentos, eu conto, também, a minha, e assim alimento a alegria daquela criança curiosa que existe dentro de mim.

Siga a fotógrafa Aline Resende nas redes sociais!

Sobre a autora:

Aline Resende é mineira, formada em Direito, deixou o mundo jurídico para estudar fotografia e trabalhar com algo que realmente amava. Desde 2015 seu trabalho consiste em fazer cliques capazes de despertar sentimentos, memórias e claro, contar histórias. De Belo Horizonte, Aline se formou em Direito, mas logo em seguida foi em busca de algo que fizesse seu coração vibrar.

Entrou no curso de Design de Interiores e, ainda assim, algo não estava preenchido, apesar de gostar de arquitetura desde criança. Passou a estudar fotografia e, desde então, seu coração pulsa ao registrar cada momento, um jeito de contar histórias por meio de imagens com seu olhar sensível e criativo. Aline atua há 9 anos como fotógrafa de arquitetura e interiores. Adora brincar com luz, sombras, reflexos, cores, escalas e formas geométricas.

Related posts

Artista cria impressionantes esculturas no buraco de uma agulha

A arte de Ana Julia: capturando o fragmento de memória de um tempo congelado

“Sentir Mundo – Uma Jornada Imersiva” leva o espectador para o mundo das formigas, insetos voadores e microrganismos