“Asas”, de Maya Hanoch: quando a criança descobre suas asas para voar

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Quando peguei nas mãos o livro Asas, de Maya Hanoch, com ilustrações de Ofra Amit, não pude deixar de pensar na canção da banda Falamansa: “Cê parece um anjo / Só que não tem asas”. Cantarolei e comecei a tatear e folhear o livro, olhando as ilustrações sem as responsabilidades de uma narrativa.

A seguir, comecei a ler os textos de apoio, bibliografia, ficha catalográfica, e não pude deixar de notar que autora e ilustradora eram israelenses. Como nada no mundo é inocente, muito menos a literatura, fui pesquisar se as artistas também gostaria que crianças palestinas tivessem asas e pudessem voar tal como a personagem de seu livro.

Com alegria descobri que sim, inclusive encontrei um texto emocionante da ilustradora Ofra Amit mostrando a dificuldade de ser uma mulher de esquerda israelense que se vê assustada com a jihad islâmica – palavras dela – e ao mesmo tempo absolutamente insatisfeita com o fundamentalismo religioso israelense e as políticas excludentes de Israel. Ela, enfim, uma mulher israelense de esquerda, mas que gostaria de ver a Palestina tão livre quanto ela. Uma progressista, enfim, pensei. E fui ler o livro. 

Asas, de Maya Hanoch e com ilustrações de Ofra Amit, publicado aqui no Brasil pela Editora Peirópolis com tradução de Regina Berlim, conta a história de uma menina que tem uma mãe pintora que passa o dia a retratar diversas coisas do mundo. Um dia, a menina pede para sua mãe desenhê-la, mas não assim como ela é. Ela quer asas para que ela possa voar. No entanto, a mãe não consegue de forma alguma encontrar quais asas cabem à sua filha: se é uma leve de plumas como um pássaro ou uma pesada e de metal como as de avião. 

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No decorrer da obra, vamos descobrindo como essa menina, aos poucos, na engenharia da descoberta de suas asas, através das tintas de sua mãe, começa a entender que neste mundo é ela própria que precisa encontrar suas asas, uma vez que sua vida, sua liberdade e seus sonhos são condicionados ao quanto ela pode e quer ir longe. 

Um livro gentil, delicado, doce que pode fazer diferença na vida de muitas crianças, principalmente meninas. Entre um desenho e outro, a menina descobre que sonhar alto pode ser voar, mas é a montanha que leva a gente ao topo de todas as descobertas que precisamos. Um livro sensível, que educa meninas à liberdade, a auto-descoberta e ao empoderamento, afinal só descobre suas asas é capaz realmente de voar. 

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