As 15 melhores citações de Misto Quente, de Charles Bukowski

“Não deve ter sido fácil ser um cidadão estado unidense após a Segunda Guerra Mundial. Por um lado, havia toda pressão de maior país do mundo, de potência mundial, onde o sonho americano mais que uma possibilidade era quase uma obrigação a todo cidadão e, por outro, havia uma semi-consciência pesada pelas atrocidades cometidas nessa guerra, principalmente após os ataques com a bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki. Em Bukowski, se pode ver uma completa tentativa de apagamento de qualquer marca dessas duas oposições: tanto do americano belo, bom e bem sucedido, quando daquele que se vê margeado por uma espécie de culpa. A palavra para Bukowski é um vírus, uma violência que ele evita até o fim, mas que escapa entre suas orgias e bebedeiras.” (Luiz Antonio Ribeiro)

Meu pai não gostava de gente. Não gostava de mim.
– As crianças foram feitas para serem olhadas e não ouvidas – ele me falou. (p.18)

 

– Ele só fica olhando. É tão quietinho.
– É assim que queremos que ele seja.
– As águas paradas são as que têm maior profundidade.
– Não nesse caso. A única profundidade que ele tem são os buracos dos ouvidos. (p.24)

 

Foi no jardim de infância que conheci as primeiras crianças da minha idade. Elas pareciam muito estranhas, sorriam e conversavam e pareciam felizes. Não gostei delas. Sempre me sentia enjoado e o ar tinha um aspecto estranhamente calmo e puro. (p.30)

 

– Você vai comer sua COMIDA! – disse meu pai – Sua mãe preparou essa comida! Você vai comer cada cenoura e cada ervilha em seu prato!
(…)
Comecei a comer. Era terrível. Sentia como se os estivesse comendo, comendo as coisas em que acreditavam, aquilo que eles eram. (p. 45)

 

De nada ajudava a conhecer o castigo, tantas vezes já aplicado. Para o mundo inteiro lá fora era indiferente o que se passava aqui dentro, e pensar nisso também não me ajudava. (p. 76)

 

Não gostava do jeito que eles caminhavam, de sua aparência, de certo modo como falavam, mas também não gostava dessas coisas em meu pai e minha mãe. Continuava com a sensação de estar certado por um grande espaço em branco, um vazio. Havia sempre uma sombra de náusea em meu estômago. (p. 88)

 

O buldogue se aproximou. Eu não podia ver aquele crime. Senti uma vergonha profunda por abandonar o gato à própria sorte. Havia sempre a chance de que o bichano pudesse escapar, mas eu sabia que os garotos não deixariam isso acontecer. Aquele gato não enfrentava apenas o buldogue, ele enfrentava a humanidade inteira. (p. 99)

 

As garotas pareciam encarar a coisa com maior seriedade. Era por isso que não se podia confiar nelas. Pareciam compactuar com as coisas erradas. Elas e o colégio pareciam cantar em uníssono o mesmo hino (p. 135)

 

Eu havia rompido com a religião alguns anos atrás Se houvesse alguma verdade por trás dela, era uma verdade que idiotizava as pessoas ou atraia as mais idiotas. E se por acaso a religião não contivesse em si verdade nenhuma, os tolos que nela acreditavam seriam duplamente idiotas. (p. 153)

 

Não valia a pena confiar em nenhum outro ser humano. O que quer que fosse preciso para estabelecer essa confiança, não estava presente na humanidade. (p. 158)

 

Um homem precisava de alguém. Não tinha ninguém por perto, assim você precisava inventar uma pessoa, criar um homem do modo como deveria ser. Isso não era faz-de-conta ou enganação. A outra alternativa sim é que era faz-de-conta e enganação: viver a vida sem um homem desses por perto. (p. 162)

 

Nunca ocorreu a ela que talvez os livros estivessem errados. Ou que talvez isso não tivesse a menor importância. Contudo, nada perguntei. (p. 169)

 

Apenas mais um cara que tinha que cagar como todos nós. Médico, advogado, soldado – não importava qual fosse a escolha. Uma vez dentro do molde, só restava seguir em frente. (p. 194)

 

– Você é um cínico?
– Sou infeliz. Se eu fosse um cínico provavelmente me sentiria melhor. (p. 252)

 

Eu tinha notado que em ambos os extremos da sociedade, tanto entre os ricos quanto entre os pobres, frequentemente se permitia que os loucos se misturassem livremente entre as pessoas. Eu sabia que não era inteiramente são. Também sabia, uma percepção que eu tinha desde a infância, que havia algo de estranho em mim. Era como se meu destino fosse ser um assassino, um ladrão de banco, um estuprador, um monge, um ermitão. (p. 305)

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