Adelaide Ivánova lança Asma, um livro de poesia que se inspirou em grandes nomes, de Homero a Virginia Woolf, de Chico Science a Ferreira Gullar

O filósofo Walter Benjamin, deserdado da terra, sugeriu um dia que escrevêssemos uma história a contrapelo, escovando em sentido contrário as longas narrativas de exaltação aos homens poderosos, seus triunfos incontáveis e danças macabras sobre pilhas de mortos. Ao mesmo tempo, um boiadeiro encantado de algum terreiro do Brasil bradava em seu ponto de chegada que as pedrinhas miúdas da Aruanda alumiam mais o mundo que as rochas do lajeiro. 

É da tessitura de contrapelos e miudezas que Adelaide Ivánova tece este Asma – um livro que parece ter sido escrito com um punhal lustrado com óleo de carnaúba, temperado no sereno das noites solitárias do Brasil. Por ele, ecoam (contundentes, sacanas, cortantes, despudoradas, transgressoras) múltiplas vozes de mulheres brasileiras; ora sibilinas como muxoxos, ora gritadas como berro saído das matas pernambucanas do Catucá, feito cabras parindo revoluções nas encruzilhadas que do Tejucupapo serpenteiam as bordas da Paraíba. 

Em cada verso, o corriqueiro se manifesta no assombro que margeia o cotidiano daquelas que a grana, a cruz e o rei relegaram à condição de sobras viventes. Destituídas daquilo que um país justo e fraterno poderia conceder às suas filhas, enluaradas e animadas pelo grande espírito dos bichos e das estrelas, elas gargalham na vasta imensidão da noite grande e baixam como cavalos de santo nos versos de Asma, apunhalando com belezas, com a tarefa tamanha de nos assustar, a própria vida. 

Luiz Antonio Simas

Vashti Setebestas é uma personagem que anda pela Terra atravessando o tempo, transmutando-se em muitas entidades, muitos corpos e muitos povos. Pelo caminho, é perseguida pela opressão de uma narrativa histórica escrita pelos homens. Com uma poesia ao mesmo tempo épica e popular, Adelaide Ivánova escreveu uma obra original para a literatura brasileira contemporânea. ASMA é um livro radical para tempos radicais.

A ciranda acabou de começar e quem avisa é Vashti Setebestas. 

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Sobre a autora:

Adelaide Ivánova nasceu em Pernambuco. Foi adolescente nos anos 1990, no Recife. Ganhou o Prêmio Rio de Literatura por seu livro o martelo, em 2018, dez anos depois de deixar a capital pernambucana e ir para Berlim, onde ainda hoje mora. Sonha em voltar.

Ficha Técnica

Título: Asma

Autora: Adelaide Ivánova

Tamanho: 12,5 x 21 cm

Acabamento: brochura

Número de páginas: 200 pp

ISBN: 978-65-85832-27-4

Preço: R$ 69,00

Editora: Nós

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