CRÍTICA: A estrela cadente (2023): filme bom também é aquele que (se) distrai

A primeira coisa que se pode dizer sobre “A estrela cadente” é que é um filme que se distrai. E isso que seria uma crítica em quase 100% dos casos, nesse é um baita elogio. Sem as constantes distrações, talvez o filme caísse no erro de ser sério ou, ainda pior, se tornar uma comédia pastelão. 

A história do filme não tem muito mistério: Boris é um ativista político que está refugiado com dois parceiros em um bar chamado “A estrela cadente”. Segundo informações do jornal, ele havia cometido um atentado a um banco e morria de medo de sofrer uma represália. Com isso, eles resolvem encontrar um outro sujeito igual a Boris para tomar o seu lugar. É quando encontram Dom, sujeito com as mesmas feições que Boris,  recém separado de um casamento e que vive um luto pela filha. 

E a história seria só isso se não fosse aquilo que chamo de “distrações”. Em cenários profundamente teatrais, que lembram tanto um musical de baixo orçamento quanto um ambiente noir dos cabarés, mas também de como os quadrinhos retratam esses lugares, as personagens estarão a todo instante sendo interpeladas por desejos aleatórios de algumas de suas figuras. Gritar, dançar, correr, vale tudo. Em especial a personagem da estonteante dançarina Kaori Ito tem grande destaque ao a todo instante interromper a narrativa convidando outros para números físicos, dançantes e musicais. 

O recurso do uso do corpo como ferramenta não apenas de humor ou de narrativa, mas do próprio movimento da história, um movimento que não precisa necessariamente ser da ordem do narrado, faz com que A estrela cadente, em alguns momentos irrite porque nos coloca o desejo de entendermos o que vem a seguir, porém, também diverte, principalmente pelo fato de nos desengajar em sua própria história. 

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O jogo que se instaura, então, é também um jogo de cena, como por exemplo com repetições, no caso da tentativa de um homem sem braço matar Boris. As brincadeiras que se dão nesse meio tempo se tornam parte do divertido trajeto. 

A estrela cadente é uma surpresa pelas caricaturas, pela narrativa curiosa e, principalmente, por mostrar corpos para além do realismo tradicional. Um filme que podia ser chato e comum e, embora não seja genial, diverte e é belo. É belo e diverte. E já está bom, né?

Ficha Técnica
Direção: 
Fiona Gordon e Dominique Abel
Roteiro: Fiona Gordon e Dominique Abel
Produção:  Fiona Gordon, Dominique Abel, Christie Molia
Elenco: Dominique Abel, Fiona Gordon, Kaori Ito, Philipe Martz, Bruno Romy
Direção de Fotografia: Pascale Marin
Montagem: Julie Brenta 
Gênero: policial, comédia
País: França, Bélgica
Ano: 2023
Duração: 98 min.

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