Sambizanga (1972): o melhor filme sobre a colonização portuguesa na África

Um dos filmes mais importantes do cinema vem do continente africano, Sambizanga (1972). Sambizanga é um filme angolano de 1972 que conta a história de Domingos Xavier, um homem que lutava pela libertação do país e morreu na prisão após longas sessões de tortura da PIDE, a polícia de Salazar.

A direção do filme é de Sarah Maldoror, uma das pioneiras do cinema africano negro. Veja a radicalidade e a coragem: ela fez o filme denunciando o colonialismo e as torturas DURANTE o regime colonial e ditatorial de Salzar. O filme é de 1972 e a independência de Angola viria só em 1974. Sem dúvida, ela contribuiu com isso.

O filme é baseado no livro chamado “A vida verdadeira de Domingos Xavier”, de José Luandino Vieira, o maior romancista de Angola ao lado de Pepetela. O livro é publicado em 1974, dois anos depois do filme que é de 1972. Ué, mas não é baseado nele? É que isso tem a ver com a história do autor.

José Luandino Vieira adotou Angola como pátria. Ele começou na militância através de jornais e revistas e foi preso diversas vezes. Na última vez, foi enviado para Tarrafal, um campo de concentração, onde ficou por 14 anos. Não entrou na luta armada porque estava preso. Escreveu muitas de suas obras da prisão, mas só publicou depois. Porém, conseguiu envia-la para amigos do lado de fora com ajuda da esposa. Hoje está vivíssimo e com 88 anos.

Voltando ao filme: a diretora utilizou quase apenas não-atores e foi tecendo as histórias através da trajetória da esposa atrás do marido. O mais legal é ver a rede de solidariedade que vai se formando e as diversas práticas culturais dos diversos territórios de Angola.

Leia tambem: “Margens e Travessias”: Boaventura Cardoso lança romance que protagoniza o povo de Angola

As cenas de tortura são brutais e denunciam não apenas a violência de brancos sobre os negros, em uma espécie de apartheid, mas também da conivência (ou silêncio forçado) de outros negros com as violências cometidas. Tem uma cena, de um coral negro, que é de chorar.

Esteticamente, Sarah Maldoror faz um passeio de cores através das paredes das casas e, principalmente, pelas estampas das roupas. Algumas cenas poderiam, inclusive, colocar um cadinho de inveja em um tal de Pedro Almodóvar.

Enfim, trata-se de uma obra que reúne TUDO que uma grande filme precisa: uma forma arrojada, uma luta política, ética e estética. É uma celebração do povo angolano e uma denúncia ao colonialismo. Ter uma mulher na direção deu uma perspectiva que não ficou centrada apenas na luta, mas em suas consequências nas famílias. Fez toda diferença. Um clássico.

Assista ao filme DE GRAÇA aqui!

Related posts

CRÍTICA: A estrela cadente (2023): filme bom também é aquele que (se) distrai

Love Lies Bleeding – O Amor Sangra (2024): um quase sensível thriller de vingança

“Conduzindo Madeleine” (2022): toda viagem é uma companhia nas sutilezas do cinema frânces