‘Quarentena da Resistência’: inspiradas em Carolina Maria de Jesus, catadoras de recicláveis lançam livro

As catadoras de materiais recicláveis foram um dos segmentos que mais sofreram o impacto durante a pandemia, pois durante certo período ficaram sem condições de trabalhar e perderam renda. Além de ser um trabalho marcado pela precariedade, insegurança e baixa remuneração, elas convivem frequentemente com diversos preconceitos, exclusão e invisibilidade social. No entanto, foi por meio da literatura que elas encontraram força e resistência.

O projeto “Quarentena da Resistência”, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Ministério Público do Trabalho (MPT), incluiu uma série de iniciativas para promover a capacitação e assegurar condições para o sustento das mulheres catadoras de materiais recicláveis organizadas em cooperativas. Uma dessas ações foi a criação de uma oficina literária, de forma virtual, durante 7 meses, para 21 mulheres de cidades do ABC paulista, com atividades promovidas pela FLUP para incentivar a escrita. Cada participante recebeu uma bolsa de estudos mensal destinada ao custeio de internet para os encontros virtuais e cestas básicas.

A inspiração surgiu com a escritora Carolina Maria de Jesus, após a leitura do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada”. Elas debateram, compartilharam experiências e escreveram histórias biográficas e intimistas. Nas narrativas, estão problemas relacionados à desigualdade social, violência doméstica, violência urbana, fome e busca por condições de vida dignas a partir do lixo descartado pela população. O livro “Quarentena da Resistência” reuniu 21 histórias e foi publicado pela editora Coopacesso. O evento de lançamento ocorreu na Feira Literária de Santo André (FELISA) no mês de novembro. Além disso, o livro também resgata a história de organização da categoria profissional dos agentes ambientais e evidencia a importância da sustentabilidade e os benefícios para a sociedade.

 

Também faz parte do projeto o documentário “As Recicláveis”, de 2020, que retrata o serviço ambiental prestado por catadoras de materiais recicláveis e as ações realizadas pelas instituições para implementar a legislação, bem como para garantir condições de trabalho, saúde e segurança para a categoria.

A procuradora do Trabalho do MPT-SP e uma das idealizadoras do projeto, Elisiane dos Santos destacou: “Inspiradas em Carolina Maria de Jesus, as catadoras, trabalhadoras severamente atingidas pela pandemia, em sua maioria negras, encontraram um lugar de fortalecimento e luta pela palavra e compartilhamento das dores e afetos. O potencial trazido pela literatura, a partir de reflexões sobre trabalho, racismo, gênero e outras questões que atravessam a vida das catadoras, reflete na organização do grupo e na defesa de direitos”.

Além disso, a procuradora salientou que: “o resgate da história de organização da categoria profissional, agora em livro, mostra à sociedade a importância fundamental do trabalho que realizam, ao tempo em que cobra do poder público as condições e políticas públicas para a valorização e reconhecimento do trabalho de milhares de mulheres e famílias no Brasil, trabalho este do qual depende a vida das pessoas e do planeta. Essa obra deve ser lida por todos e todas”.

Confira o vídeo:

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