As 19 melhores frases de O Mapeador de Ausências, de Mia Couto

Mia Couto, em Mapeador de Ausências, volta ao seu passado e a sua infância em Moçambique. Para isso, criou Diogo, escritor branco que retorna a Beira em 2019, após longo hiato, para receber uma homenagem. Ao mergulhar em memórias familiares, ele compreende a real razão da viagem: redimensionar o papel do pai em sua vida e sua participação na luta de libertação da ex-colônia de Portugal nos anos 1970.

Veja também: 5 motivos para ler O Mapeador de Ausências, de Mia Couto

O NotaTerapia separou as melhores frases da obra. Confira:

Eis a minha doença: não me restam lembranças, tenho apenas sonhos. Sou um inventor de esquecimentos. (…) Estou doente, sou um escritor que perdeu a capacidade de ler e de escrever.

Antes, eu não existia; Agora sou invisível.

Por causa dessa impossível ausência, não aprendi nunca a ter saudade. Ou melhor, tenho saudades do meu pai apenas quando a mim mesmo me falto.

Em África não há distâncias. Há apenas profundezas.

O que conta não é a cova. É partilhar o peso do falecido. Nesse morto carregamos todos os vivos.

Para meu filho nenhuma coisa lhe pertence. Interessam-lhe as coisas que deixam de ser coisas, como aquele velho carro que ele insiste em conduzir.

Não acredito no luto, mas é sempre bom que alguém nos agasalhe a tristeza.

As autoridades portuguesas tinham retirado lições dos anteriores massacres e decidiram apurar o método: este novo massacre seria executado lentamente, tão lentamente como se, por um lado, não chegasse nunca a acontecer e, por outro, nunca parasse de suceder.

Naquele tempo eu já era o que hoje sou: um jogador sem jogo, ocupado numa eterna peleja contra mim mesmo.

Há pessoas que garantem que não veem raças, que só veem pessoas. Eis uma coisa bonita de se dizer. Mas neste mundo de hoje, meu querido neto, ser cego para as raças, pode ser uma maneira de não ver o racismo.

Os senhores já sabem: quanto mais medo se tem, mais ordens se dá. Quanto mais ordens se dá, mais ordens precisamos receber.

Alguém disse que a esperança alimenta multidões. Pois eu digo: o desespero cria exércitos alucinados.

Certa vez a minha vó perguntou-lhe:
– Uma coisa sempre me fez espécie Por que é que você, minha nora, nunca foi racista?
– Não sei – respondeu a minha mãe – Sempre foi muito distraída.

Alguns dos momentos mais felizes de sua vida foram passados nesse tempo tão infeliz. Aceitar que toda a nossa vida tivesse sido um inferno seria dar um prêmio aos opressores.

À esquerda estão os que morreram na guerra colonial, mais ao fundo estão os da guerra civil. Todos os outros – diz ele – simplesmente faleceram. A vida aqui é uma outra guerra – acrescenta. – A gente chega a ter vergonha de ser um sobrevivente.

Quando um regime começa a prender os poetas é porque esse regime está perdido. Se os senhores fossem inteligentes procediam exatamente ao inverso: concediam um prêmio ao Adriano. É assim que se cala um escritor.

As estradas de um filho são as costas de sua mãe.

Agora que já posso entrar na piscina, deixou de haver piscina. Esta é a metáfora da minha vida; Agora que já posso entrar, deixou de haver dentro.

Havia dois inimigos da inspiração poética: o primeiro era ser saudável num mundo tão doente; o segundo era ser feliz num mundo tão injusto.

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Mia Couto lançará livro de contos no Brasil ainda este ano - NotaTerapia 17 de abril de 2023 - 00:49
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