O que pode significar o “eu te amo”? “Em que situações, a frase apareceu na sua vida? O que a provocou? Quais as suas consequências? Quais as interpretações para quem disse e para quem escutou a sentença?” (PEREIRA, 2024, p. 25)
Para os apaixonados, pode ser relativamente fácil pronunciar “eu te amo”, mas para aqueles que acabaram de se conhecer? Isso pode ser motivo para que o outro se assuste e se afaste ou, quem sabe, seja a oportunidade para uma maior aproximação?
“Na primeira noite de Carnaval, Iara diz eu te amo para Pedro e fotografa o seu rosto. Na manhã seguinte, ela desaparece. Deixa um texto no apartamento dele.” (PEREIRA, 2024)
Mesmo sabendo que não existem critérios, algumas pessoas preferem o aprofundamento da relação ou até se sentirem confiantes para declararem o seu amor; outras não dizem nunca, porque pressupõem que o silêncio seja a resposta; ou apenas respondem automaticamente “eu também”, cientes de que o outro entende; no entanto, talvez seja pouco provável e até incoerente afirmar isso num primeiro encontro.
“Afinal, um eu te amo é o que? A resposta mais óbvia costuma ser enganadora. Na superfície, a frase é uma declaração de amor, mas basta um breve exame de cada caso para que outros sentidos apareçam. […] Um eu te amo é uma promessa de felicidade, um pedido de ajuda, uma tentativa de controle, um artifício erótico, uma saudação cotidiana…Com frequência possui mais de um significado, quando quem diz e quem escuta interpretam a sentença de formas contraditórias.” (PEREIRA, 2024, p. 29)
Por outro lado, a sentença ‘eu te amo’, fácil também de ser repetida à exaustão, é capaz de carregar uma variedade de sentido que nem sempre coincide com o conceito de amor.
“Do ponto de vista da gramática o eu te amo não tem mistérios. É uma frase com sujeito, objeto e verbo bem definidos. Eu, tu, amar. Eu e tu possuem sentidos claros e indiscutíveis. Para amar, a história é outra.” (PEREIRA, 2024, p. 29)
Vários são os poetas, compositores e tantos artistas que tentam definir, traduzir e decifrar o amor de todas as formas e nas mais diversas obras, mas a complexidade das relações humanas é um emaranhado de fios entrelaçados por mãos invisíveis. Quando se tenta compreendê-los como são trançados, eles adquirem nova forma ou se desfazem.
Leia também: “Um Amor”: romance de Sara Mesa mostra que o amor é aquilo que a gente inventa
Em “O amor começa”, no livro Urgente é a vida, o escritor mineiro Alcione Araújo, respondendo à crônica do amigo Paulo Mendes Campos, disse que: “Para cada par o amor escolhe como começar, onde começar, quando começar. Mas, em geral, prefere o inesperado ao previsível, o impensável ao visível, o improvável ao possível.” (ARAÚJO, 2004, p. 40)
É por esse caminho que “Uma breve história do eu te amo”, romance ficcional do autor, roteirista e documentarista fluminense Igor Miguel Pereira, lançado pela Editora Patuá, em 2024, conduz o leitor – como um enigma ou um quebra-cabeça, em que Pedro vai reunir ‘as pistas’ ou ‘as peças’ deixadas por Iara que, pouco a pouco, elucidarão a trama. Ele acaba por se envolver bem mais do que esperava, como se estivesse seduzido pelo canto da sereia, despertando e aguçando seus sentidos. Lentamente, corpo e sentimento se enlaçam. Já a fotografia no começo da narrativa, a princípio, parece ter pouca relevância, mas é por meio dessa ação que ocorrem, ao longo da narrativa, vários desdobramentos.
Essas ‘peças’ são as páginas de um texto em que a voz da protagonista dialoga com outras vozes na tentativa de compreender a questão que perpassa toda a obra – “a história do eu te amo”. Para isso, o autor utiliza vários recursos: ao mesmo tempo que um outro texto é inserido na narrativa, que instiga a curiosidade do personagem, aparecem referências variadas, como livros, poemas, entrevistas, canções, mitos. Sua escrita é também bastante detalhista, investindo em toques de erotismo e sensualidade em alguns momentos, e, mesmo abordando um tema tão recorrente, não segue pela via dos clichês nem carrega sentimentalismos usuais.
“Ao contrário do amor, o eu te amo é um dado que pode ser observado com facilidade. Quem consegue responder, sem uma divagação, sem um porém, sem uma dúvida em que momentos amou ou foi amado? Mas qualquer pessoa pode informar quando ouviu ou disse um eu te amo. A frase é um acontecimento verificável e de fácil compreensão.” (PEREIRA, 2024, p. 24)
Na busca por respostas, Pedro desvenda o mistério por trás da frase “eu te amo”, embora se mantenha a confirmação de que o amor continua sendo um dos maiores mistérios, pois nem manuais, análise de casos ou interpretação de dados são capazes de decifrá-lo.

FICHA TÉCNICA
Autor: Igor Miguel Pereira
Editora: Patuá
Categoria: Romance
ISBN: 978-85-8297-895-5
Formato: 14 X 21 cm
Páginas: 104
Ano: 2024
Compre AQUI!
Sobre o autor

Igor Miguel Pereira é autor, roteirista e documentarista. Nasceu em Angra dos Reis (RJ), cresceu no interior fluminense e vive no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, desde 2011. É formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UnB, com especializações em Cinema Documentário (FGV) e Artes da Escrita (Universidade Nova de Lisboa). Publicou seu primeiro livro aos 18 anos e, desde então, alterna entre contos, crônicas e roteiros. “Uma Breve História do Eu Te Amo” é o seu quinto livro publicado.