⁃ Olhe quem vem lá.
⁃ Quem?
⁃ A Silene.
⁃ Que Silene?
⁃ A Silene Seagal.
⁃ Bom dia, Silene.
Assim começa uma icônica sequência de um dos mais hilários filmes do cinema brasileiro. Lançado em 2007 e agora relançado em cópia restaurada, “Saneamento Básico, o Filme” traz muitas gargalhadas, mas também debates e crítica social.
Um grupo de moradores vem há tempos procurando uma maneira de arrecadar verba para fazer uma fossa numa saída de esgoto. Um dia, indo à prefeitura, descobrem que há um edital aberto cuja verba oferecida conseguirá cobrir o serviço da fossa. O único problema é que se trata de um edital na área de cinema, e a contrapartida é que terão de fazer um filme com parte da verba.
É assim que os cineastas de ocasião, o casal Marina (Fernanda Torres) e Joaquim (Wagner Moura), pedem emprestada a câmera nada profissional do cunhado de Marina, Fabricio (Bruno Garcia). A escolha óbvia para ser a protagonista do filme é a irmã de Marina, Silene (Camila Pitanga). Quem também será arrastado para participar do filme é o pai de Marina e Silene, o carpinteiro Otaviano (Paulo José). Para fechar o elenco, temos Lázaro Ramos como um editor que dará ao material gravado a forma de um filme.

A produção de “Saneamento Básico, o Filme” foi feita pela Casa de Cinema de Porto Alegre, fundada pelo diretor da película, Jorge Furtado. Um cineasta arguto, atento às desigualdades e absurdos da sociedade, Furtado ganhou um prêmio no Festival de Berlim de 1990 com o famoso curta “Ilha das Flores”, que também foi restaurado e será exibido com “Saneamento Básico, o Filme” em sessão dupla, ao estilo dos programas das matinês de antigamente.
Sobre o elenco de peso, Jorge Furtado declara:
“Saneamento Básico, ao contrário de Ilha das Flores, é uma comédia. Uma comédia que tem oito personagens vividos no filme por grandes atores. Eu desafio algum colega a um filme brasileiro com um elenco de tantos e tão bons atores como o Saneamento. E eles brilham numa comédia que fala, como toda comédia, de política.”

Sem dúvida Furtado está se referindo aqui à crítica à burocracia, que consegue arrastar por anos uma obra urgente. Ao mesmo tempo, a verba providencial vem da cultura, campo que assistiu recentemente a uma queda nos investimentos, mas que percebemos que é fundamental para um país se posicionar em relação ao mundo.
Vem sendo divulgado junto ao release da reestreia de “Saneamento Básico, o Filme” que ele conta com a indicada ao Oscar Fernanda Torres, mas a ela se juntou neste fim de semana Wagner Moura como ganhador de um prêmio de atuação em Cannes, prêmio este que Torres já havia ganhado nos anos 80. Ver os dois juntos em cena é, portanto, sorte e privilégio, prova de que este filme reúne o que há de melhor no Brasil.
Revisado por Mariana Perizzolo
“Saneamento Básico, o Filme” volta aos cinemas, junto de “Ilha das Flores”, em 29 de maio. Confira o trailer:
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