A meta é mais que ambiciosa: criar um novo “ismo” – nem mais, nem menos. O autor, Geraldo Henrique Coelho dos Santos, que assina como Gê Coelho, é um homem jovem, simples, de fala mansa, e dentro dele pulsa uma paixão pouco vista em um militante da causa antirracista e dos favelados. Mais: ele não apenas propõe, ele age: participa de empreendimentos como a Favela Seguros, empresa subsidiária da gigantesca MAG Seguros, onde trabalha, e que deu apoio para a publicação e divulgação de seu livro Favelismo – a revolução que vem das favelas, publicado pela Geração Editorial.

Gê Coelho nasceu numa favela, começou sua educação tardiamente e desde então não perdeu tempo: educou-se, formou-se em História, fez mestrado em Filosofia e escreveu a dissertação acadêmica que deu origem a este livro, no qual propõe um novo modelo econômico, político e social: o favelismo. “O favelismo”, diz ele, “é uma teoria política que reconhece a favela como um sujeito histórico, coletivo e ativo na produção de conhecimento, cultura e transformação social.”
Com uma população estimada em cerca de 17 milhões de pessoas, as favelas movimentam mais de R$ 200 bilhões por ano. Dentro da favela, de sua estrutura, de suas vivências, deste lugar onde a luta diária é por direitos básicos, e aonde o estado não chega – e, quando chega, é violento e opressor – há uma população com seus saberes e uma energia revolucionária que produz arte, produtos, serviços, ideias e política. Uma política que ainda vai se expressar por um partido próprio.
Este novo modelo está baseado na solidariedade, na coletividade, no respeito, no amor, na teimosia, no pensamento crítico – uma visão nova sobre a situação da população das “comunidades” (as favelas) e o que se pode fazer para não só resolver seus problemas, mas usar a energia e o potencial presentes nelas. O favelismo tem grandes ambições: sair da defensiva e ir para as ruas, em busca de compreensão, apoio e sustentação.
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Segundo Gê Coelho, “uma parte expressiva da sociedade brasileira já começa a reconhecer o protagonismo das favelas como territórios de potência econômica, cultural e política. Entretanto, esse reconhecimento ainda é fragmentado, frequentemente folclorizado, e raramente se converte em políticas estruturais de valorização. Com uma população estimada em cerca de 17 milhões de pessoas, as favelas movimentam mais de R$ 200 bilhões por ano, segundo dados da economia popular. Não há futuro para o Brasil enquanto projeto nacional sem o enfrentamento direto da desigualdade social — e isso passa, inevitavelmente, pela centralidade das favelas. O favelismo, enquanto teoria política e projeto civilizatório, propõe justamente esse deslocamento epistemológico: deixar de ver a favela como carência e passá-la a enxergar como inteligência coletiva, potência criativa e eixo estruturante de um novo Brasil.”
“Como bem diz meu amigo Celso Athayde, uma de minhas maiores inspirações, ao lado da minha mãe, na construção do favelismo: “Ou dividimos as riquezas desse país, ou todos pagarão o preço da desigualdade”. A favela não é o problema do Brasil — é sua solução, desde que seja ouvida, respeitada e colocada no centro do debate nacional.“, completa.
Sobre o autor:
Gê Coelho (Geraldo Henrique Santos Coelho) é mestre em filosofia e ativista político, com a vivência forjada nas favelas do Rio de Janeiro. É fundador da Frente Favela Brasil e da Frente Nacional Antirracista. Dedicou toda sua vida à luta contra as desigualdades, pelo fortalecimento da identidade preta e favelada e pela resistência e construção de novas possibilidades para o povo periférico