O livro ‘Nômades Invisíveis: a origem da resiliência dos imigrantes e refugiados’ (2023) é resultado da compilação dos escritos da jovem colombiana Mara Lobatón e de seu pai, o peruano Jesus Eli Lobatón. O livro é escrito a partir da reunião de um conjunto de eventos com pessoas migrantes e histórias criadas que representam a vida de outros imigrantes.
Atualmente, não é difícil encontrar autoras e autores que escrevem suas histórias sob uma perspectiva totalmente pessoal. Nesses casos, é muito difícil separar a obra de seu/ua autor/a e sobre isso, há inúmeras críticas, mas a relevância da escrita de si é indiscutível.
Principalmente quando a “escrita de si” parte de pessoas que foram silenciadas e apagadas ao longo da história, mas que agora se manifestam, ocupando então um lugar de sujeito e não mais de objeto. Muitas narrativas estão sendo contadas e mais ouvidos estão dispostos a escutá-las.
Os imigrantes não são ‘Nômades Invisíveis’
Os imigrantes são parte desta comunidade que foi constantemente vista de fora, mas que agora, demonstram com firmeza que não estão invisíveis e que podem se manifestar de diversas maneiras, sobretudo com arte e manifestações culturais.
Eli, o autor, ressalta a importância da literatura no processo de humanização da trajetória de pessoas imigrantes e afirma:
“Imigrantes não são invisíveis […] todos temos um antepassado imigrante”.
Considero este um livro experimental no qual estão concatenadas uma série de histórias e relatos, verídicos e ficcionais, em cenários possíveis e reais.
Há em ‘Nômades Invisíveis” uma humanização necessária para compreender que há um terceiro olhar, para além do olhar daquele capturado pelas/os turistas ou das pessoas interessadas em assuntos sócio-políticos, sobre as histórias de imigrantes, que nem sempre foi considerado:
“Existe, porém, um terceiro olhar. A verdade é que esse é finalmente o olhar que mais interessa – e estamos falando do olhar do cubano: o que sente, o que pensa, o que vive o nativo, o que quer e sonha o cubano para si próprio e para os seus” (p. 38).
A experiência de um vivida por muitos
Por mais que você conheça alguma das histórias presente neste livro, ainda assim, você será capturado pela verdade impressa nas palavras ora de Eli, ora de Mara, que relatam histórias de sucesso e outras nem tanto, mas que sempre partem de um lugar de similaridade de quem as vivenciou.
Seja na aventura de Javier Zamora, enquanto ainda era apenas uma criança de 9 anos, ou na história de Claudine e sua fuga da República Democrática do Congo ou das pessoas do vilarejo Zuen-chuang na cidade de São Paulo, todas essas histórias aconteceram, porque houve o movimento dos corpos-territórios pelos mais diversos motivos.
E apesar dos motivos que conduzem as pessoas a transitarem como nômades pelo mundo, todas elas acabam encontrando um ponto comum:
“Existem muros para conter e desmoralizar os imigrantes ilegais. Sim, fugir em busca de uma vida melhor é ilegal; querer vencer a fome em terras distantes é ilegal; ser estrangeiro sem dinheiro para gastar como turista é ilegal; estar disposto a fazer os trabalhos que ninguém quer fazer vindo do terceiro mundo é ilegal” (p. 20).
Apesar de considerar este livro uma obra experimental, pois rompe com os parâmetros estabelecidos, mesclando a concatenação de relatos de fatores reais vivenciados por imigrantes ao redor do mundo e de histórias criadas para ilustrar a vida do imigrante que vive no Brasil, sob a perspectiva do próprio migrante, também compreendo que obras como essa precisam ser escritas, publicadas e sobretudo, lidas.
É necessário que a literatura seja cada vez mais diversa e que mais pessoas ocupem espaços de escrita reescrevendo a norma e as estruturas de poder.
‘Nômades Invisíveis’: resiliência e resistência
Segundo Eli, a obra relata a resiliência e o amor pela vida, por meio de histórias de pessoas imigrantes, que ajudam a entender as motivações da migração e como chegam enquanto refugiadas em cidades como São Paulo, após sobreviverem a guerras civis, massacres ou ditaduras em seus países de origem.
Concordo com o autor, mas vai além! O livro é uma construção minuciosa, sem julgamentos de experiências de pessoas que migraram, por razões diversas e que se movimentaram pelo mundo honrando suas origens nômades, e que acabaram se adaptando ou não a novas realidades.
Pessoas que estão sujeitas a barreiras culturais e a violências, como foi o infeliz caso do senegalês, Ngange Mbaye, morto no dia 11 de abril de 2025, no bairro do Brás, em São Paulo. Histórias como essa reverberam profundamente na alma de quem migra e busca refúgio, porque contrariam o desejo de se estabelecer em novos espaços.
Para adquirir o livro ‘Nômades Invisíveis: a origem da resiliência dos imigrantes e refugiados’, acesse o Instagram do Jesus Eli Lobatón @oprofe.eli