A existência de Looney Tunes – O Filme: O Dia que a Terra Explodiu é quase um milagre. Está bem documentada a briga que o atual CEO da Warner Discovery, David Zaslav, trava contra os elementos mais clássicos da própria empresa, cancelando filmes praticamente prontos em troca de incentivos fiscais e colocando outros em um limbo, como o recente caso de Coyote vs Acme, que foi adquirido por outra empresa para o seu lançamento.
Looney Tunes – O Filme quase seguiu um caminho similar, sendo originalmente planejado para ser lançado somente no streaming da empresa, mas que encontrou espaço nos cinemas e agora é o primeiro filme animado dos personagens a ser lançado nos cinemas com material totalmente original.

Em tempos em que o fotorrealismo parece imperar, com a Disney produzindo versões desaturadas dos seus clássicos animados, os Looney Tunes apostam no formato que os consagraram, a animação 2D, que está belíssima. Por diversas vezes me peguei admirando a fluidez dos traços que formam as expressões dos personagens.
Mais ainda, a trama foi pensada para tirar o melhor desse formato de animação. Com influências diretas das ficções cientificas dos anos 50, o longa acompanha Gaguinho e Patolino, apresentados agora como irmãos adotivos, lutando para manter a casa onde passaram a infância intacta.
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Para isso, eles vão precisar arranjar um emprego. Nesse momento, Looney Tunes – O Filme, dirigido pelo estreante em longas Pete Browngardt, segue a fórmula já consagrada dos personagens, a dos curtas recheados de gags visuais. Cada trabalho se torna um filme dentro do filme, e revela que a franquia está muito atenta aos tempos:sobra piada até para a profissão de influencer.
Apesar de ser uma obra voltada para o público infantil, existem algumas piadas de duplo sentido voltadas para os adultos. Sutis, mas que estão lá.
Mas uma trama maior existe, que diz respeito a uma invasão alienígena que ocorre por meio de um chiclete. Há um fundo surpreendentemente emocional nesse momento, com os laços afetivos de Gaguinho e Patolino sendo testados em meio ao ataque.

O destaque, contudo, fica na animação, fazendo total proveito da flexibilidade cartunesca oferecida pelo formato, que tanto faz falta na animação contemporânea. O clímax é particularmente surtado nesse sentido, envolvendo uma pilha de chicletes e um Patolino liberado de qualquer inibição.
Se exalto tanto a animação de Looney Tunes – O Filme, não é para desmerecer filmes feitos em 3D, que possuem características próprias tão potentes quanto o 2D, mas sim para lembrar que certas técnicas, consideradas “antigas”, também possuem seu espaço e merecem ser resgatadas, como esta aventura de Patolino e Gaguinho prova tão bem.
Revisado por Letícia Magalhães