Foi em 2017 que o crítico de cinema Steve Rose, em um artigo para o The Guardian, introduziu o termo post-horror ou, em bom português, pós-horror. Rose se referia a filmes como “A Bruxa” (2015), “Ao cair da noite” (2017) entre outros, os quais afirmava que se encaixavam no chamado então pós-horror, um subgênero definido por ele que trata de filmes de horror mais focados em elementos psicológicos e sociais, sem jumpscares ou gore.
No entanto, as definição de Rose são questionáveis, uma vez que o horror sempre teve como foco críticas sociais e o fator psicológico, desde Frankenstein, de Mary Shelley, que lida com a relação do homem com a evolução da ciência, ou Drácula, que pode ser lido como tratando de xenofobia, visto que o Conde é de uma região diferente dos protagonistas, ou até mesmo lido sob uma perspectiva queer.
Ou seja, desde os primórdios o horror tem sido uma arte elevada, e a editora O Grifo, em 2021, veio provar isso com a antologia O Novo Horror, trazendo contos de vários grandes nomes do horror nacional, os quais tratam dos mais diversos temas e variam em estilos, indo desde o folk horror, body horror, até narrativas mais psicológicas e introspectivas. Com O Novo Horror, a editora demonstra que as diversas vertentes do horror podem andar juntas, sem que qualquer uma precise ser considerada mais elevada, e traz horror de qualidade, incluindo críticas sociais, gore e muito mais.
Tanto foi o sucesso da antologia, que a editora O Grifo lançou um segundo volume, publicado neste ano de 2024. Esse segundo volume inclui vinte e quatro contos de diversos autores talentosos do cenário de horror national, inclusive escritores premiados, como Juliana Cunha, Simone Sauressig, Lara Brasil, Fernando Mantelli, entre muitos outros, além de uma introdução maravilhosa e poética escrita pela talentosa autora Verena Cavalcante, em que ela traz reflexões sobre a problemática do termo pós-horror, discutido acima.
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Verena também defende que, na verdade, o horror em si sempre tratou de questões sociais e profundas, como é o caso de diversos contos deste livro, e introduz o tema de uma forma poética, trazendo imagens de como o medo se apresentou em sua infância, o conectando assim com a temática de O Novo Horror, em que o novo se refere à nova geração de autores que apresenta e ao novo e forte interesse pelo horror que vem surgindo nos últimos anos na literatura nacional.
Recomendo fortemente a leitura da obra como um todo, sendo um ótimo recorte do cenário de terror nacional contemporâneo, e deixo aqui listados os cinco contos que mais me marcaram dentre os vinte e quatro que compõem o livro:
“Fantasmas Nunca Morrem” de Lucas Faco: um dos primeiros contos do livro já nos surpreende com uma narrativa em segunda pessoa, em que somos colocados na pele de um pai de família bem sucedido. Porém, um trauma do passado o persegue.
“Coroa de Flores”- de Clarissa Moura, é uma narrativa breve e extramamente poética, que desemboca em um body-horror bem descrito e um final aterrador.
“Pássaro de Gaiola”, da Mia Sardini, traz uma narrativa forte, imagética, que começa e termina com reflexões sobre a cor vermelha e seus significado para introduzir os dilemas de uma prostituta e um cafetão obcecado por ela. O final é magnífico, lembrando contos de Edgar Allan Poe.
“O Nebulizador”, de Duda Falcão, é um terror atmosférico em que um homem precisa cuidar da vó doente, que sempre usa um respirador. As descrições da respiração da mulher e do ambiente, mais o final impactante, fazem desta uma das mais fortes narrativas da obra.
“Praga de Jardim” de Eduardo Sabino, é uma narrativa insólita em que um senhor aposentado, que gosta de cuidar do seu jardim, se depara com plantas um tanto inusitadas.
A obra toda traz diversos contos bem distintos, alguns mais longos, outros mais breves, variando entre temas, os quais incluem desde vampiros a um homem de papel, um ladrão de cadáveres, uma escritora em uma casa misteriosa, etc.
Uma leitura marcante, recomendada para todo bom leitor do gênero e apreciador da literatura nacional.
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