Sim, existe cinema brasileiro fantástico e/ou de terror para além de José Mojica Marins, o nosso querido Zé do Caixão. Prova disso é “Prédio Vazio”, longa de Rodrigo Aragão. Mas este filme prova que nosso cinema de terror sofre com o imaginário do colonizador, haja vista os cacoetes do cinema do mesmo gênero hollywoodiano que são imitados sem dó e não reinventados com o toque tupiniquim. E dá-lhe jump scare, gore, zumbis, gritos, luzes piscantes…
O prédio vazio em questão é o Edifício Magdalena, localizado em Guarapari, cidade “onde os problemas não existem”, conforme alardeava uma antiga propaganda. Luna (Lorena Corrêa), jovem sem sobrancelhas, deixa Belo Horizonte com seu namorado Fabio (Caio Macedo) para ir para a cidade praiana atrás da mãe Marina (Rejane Arruda), que estava lá curtindo o carnaval. Luna teve um pesadelo e interpretou que era um mau agouro.
Gilda Nomacce é onipresente em “Prédio Vazio” e no cinema brasileiro como um todo. Em quase uma centena de produções, tanto curtas quanto longas-metragens, ela sempre rouba a cena e aqui não é diferente. Sua vilã sanguinária é, ouso dizer, ainda mais inesquecível que a “final girl” (a última sobrevivente em filmes de terror).

Rodrigo Aragão assina o roteiro, a direção e a produção. Em mais de 30 anos de carreira, ele acumula sucessos, mas não fica só na sua zona de conforto. Mudando cenário e tom, com uma influência internacional, ele declara sobre o novo projeto:
“Prédio Vazio é minha tentativa de levar o espírito de Dario Argento para o litoral ensolarado de Guarapari”.
Os créditos nos informam que “este é um projeto filme-escola rodado em Guarapari, Espírito Santo”. Isso justifica e até desculpa o amadorismo que permeia “Prédio Vazio”, incluindo aí os piores clichês do terror hollywoodiano e dois usos injustificados do contra-plongée. Além disso, o chroma-key grita nas cenas em que um personagem precisa olhar para fora do prédio através de alguma porta ou janela.
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Talvez minha rabugice para com “Prédio Vazio” venha do fato de que meu letramento no cinema de terror é limitado e muito associado aos monstros dos estúdios Universal da década de 1930 – sendo meu favorito “O Homem Invisível” de 1933. Isso significa que gosto mais de filmes que criam um clima de suspense e terror do que aqueles que efetivamente mostram o sangue jorrando.
A mesma linha de raciocínio justifica minha predileção pelo cinema fantástico – em vários sentidos – de Juliana Rojas, em especial “As Boas Maneiras” (2017), este sim um filme que deglutiu o cinema hollywoodiano e entregou um produto com toques tupiniquins. Mas isso não significa que “Prédio Vazio” não vai encontrar seu público. Quem gosta do já citado Argento vai amar a versão brasileira e se refestelar no banho de sangue.
Revisado por Gabriel Batista
“Prédio Vazio” estreia nos cinemas em 12 de junho. Confira o trailer:
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