Para aqueles que sempre arrumam uma desculpa para adiar o começo de um livro ou para quem diz que não tem tempo suficiente para se dedicar à leitura, Abraão Menezes dos Santos, de 42 anos, é a prova que essas justificativas não se sustentam.
Abraão, que é morador de Barra de Pojuca, em Camaçari, e porteiro de um condomínio de alto padrão na Praia do Forte, na Bahia, contou em entrevista que o estímulo para ler veio de sua madrasta e de alguns professores. Na escola, teve maior contato com os livros após o acesso à biblioteca. Até os 13 anos, era analfabeto funcional e, praticamente, só escrevia o próprio nome. Conseguiu concluir o ensino médio aos 21. Mesmo diante de diversas dificuldades, sempre manteve o interesse pela leitura e pela informação.
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Atualmente, lê, aproximadamente, 50 livros por ano. Durante todo esse tempo, calcula que já chegou a 1000 títulos. Para adquirir as obras, costuma procurar espaços de doações ou, em outros casos, consegue emprestado. Em casa, mantém um pequeno acervo de diferentes gêneros e autores, mas toda leitura realizada é catalogada no celular. Se o livro não é emprestado, ele lê e passa adiante, especialmente para dois ou três amigos, com quem mantém uma espécie de círculo de leitura.
Falta de tempo, outra desculpa comumente utilizada para não ler, também não faz parte da sua rotina. Disciplinado, costuma ler 30 a 40 páginas por dia. Assim, em média, consegue finalizar um livro por semana. Nas horas de folga, também aproveita o tempo livre para a leitura.

O porteiro lê de Paulo Coelho a Nietzsche, inclusive A Espiã e Assim Falava Zaratustra estão entre suas obras favoritas. Crentes, sobre a ascensão da igreja evangélica no Brasil; O Médico e o Monstro; Helena, de Machado de Assis; Odisseia, de Homero; Sêneca: O Grande Mestre do Estoicismo Romano, estão entre alguns livros que já leu em 2025.
Em 2011, desistiu de cursar biologia à distância, pois percebeu que sua maior afinidade era com a área de Ciências Humanas. Prestou vestibular para História em 2013, mas, por pouco, não conseguiu ser aprovado. No entanto, em razão do horário de trabalho, um curso presencial seria inviável no momento.
Para 2031, já tem um plano definido – pretende reler um livro que marcou a sua vida: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. “Em 2031, este livro vai completar 150 anos e me marcou muito a questão do racismo nele. Também, no fim, a fala de Machado de Assis: ‘Não tive filhos. Não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria’. E tem ainda a questão de Prudêncio, o antigo escravo de Brás. Depois de um tempo, Brás encontra o mesmo Prudêncio batendo em outro escravo. Muita coisa no livro me marca, como a questão do autor-defunto e o defunto-autor”, comentou o porteiro.
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