“Na Teia da Aranha”(2025) – comédia sul-coreana retrata bastidores conturbados do cinema

Fazer cinema é uma atividade apaixonante, mas também enlouquecedora. Não faltam filmes que retratam essa fina dicotomia entre o prazer e a angústia. Desde documentários como O Apocalipse de um Cineasta, retratando as lutas de Francis Ford Coppola durante a produção de Apocalypse Now, até a ficção, com Godard e Truffaut, respectivamente, sendo responsáveis por O Desprezo e Noite Americana, ambos retratando as idas e vindas dos bastidores de um filme, cada um com seu drama particular.

Agora Na Teia de Aranha faz parte desse rol de obras, com o diretor Kim Jee-woon narrando a história do ficcional cineasta Kim (Song Kang-ho), que deseja refilmar o final de uma obra já concluída, também chamada Na Teia de Aranha. Kim possui só um sucesso em sua filmografia, que os críticos colocam na conta de outro artista, Shin (Jung Woo-sung), mentor do protagonista que faleceu durante a produção do longa-metragem concluído por Kim.

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Kim Jee-woon é mais conhecido por trabalhos um tanto sombrios, como Eu Vi O Diabo, O Gosto da Vingança e A Era da Escuridão, com somente uma comédia em seu repertório, Os Invencíveis, e aqui ele parece querer navegar entre os dois tons. A fotografia é escura, em tons de cinza, mas as atuações vão mais pro exagero. O contraste pode ser uma ferramenta de riso, mas assumo ter ficado mais confuso sobre a condução da trama do que intrigado. Demorei a entender que se tratava de uma comédia com pitadas de drama.

Não ajuda também uma montagem que parece trabalhar contra as piadas e situações de humor, privilegiando um ritmo mais devagar que parece privilegiar momentos mais densos emocionalmente, mas que são raros ao longo de Na Teia da Aranha. Essa morosidade também vai de encontro com um dado importante da trama: Kim precisa realizar as filmagens rapidamente, antes que a chefe do estúdio, Baek (Jang Young-nam) retorne de viagem, além dele ter somente dois dias para fazer tudo que deseja. É uma corrida contra o relógio, mas que nunca é sentida no desenrolar da obra.

Há diversas oportunidades perdidas com o contexto das filmagens. Além da questão do tempo, o longa se passa durante a ditadura sul-coreana, e a questão da censura é levantada o tempo todo, assim como a importância de se produzir um filme “anti comunista”, mas esse aspecto é pouco aprofundado.

Na Teia da Aranha ganha certa força quando as histórias se misturam, e a trama ficcional confunde com a realidade, como o ator que interpreta um detetive, que passa a agir como seu personagem, ou o casal de atores, cujo romance complicado espelha o vivido por suas personas. Mas são momentos pontuais, que acabam se perdendo no vai e vem da história.

Assim, divagando entre emoções reais e inventadas, a obra de Kim Jee-woon se perde, dissipando suas energias cômicas e emocionais em uma obra que nunca encontra seu ritmo próprio.

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