Criado em 2022, o projeto que tinha como propósito a divulgação de livros sobre a temática lgbtqiapn+ escritos por pessoas também desta comunidade, funcionava de forma itinerante, em bares de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em 2025, através de uma campanha de financiamento coletivo foi possível realizar o sonho de criar uma loja fixa, a Pulsa, que mais do que uma livraria é também um espaço de acolhimento e divulgação de obras que representam e dão visibilidade. Para conhecer mais sobre este processo, fizemos algumas perguntas a uma de suas idealizadoras, Carol Fernandes:

Larissa – Como surgiu a ideia do projeto?
Carol – Eu sou editora de texto, e já trabalhava no mercado editorial há tempos, e sempre percebi a ausência, ou a falta de aposta em livros de autorias e narrativas lgbtqiapn+. Mesmo editando livros, demorei muito pra encontrar uma história em que eu me reconhecesse. e já estava um pouco cansada do processo de uberização pelo qual passava o mercado editorial, e pensei em formas de investir em algo próprio, então cheguei à ideia da livraria, apostando apenas em autorias e narrativas lgbtquiapn+.
A livraria começou em São Paulo, dentro de um bar, depois passou a ser itinerante, chegou ao Rio de Janeiro, e de bar em bar, com uma mala cheia de livros a livraria tentava se manter viva, o que é praticamente impossível, sem um ponto fixo fica inviável. agora, é hora de uma nova história, com um ponto fixo.
Larissa – Qual a importância da existência de literatura que represente personagens lgbtqiapn+?
Carol – Cresci sem saber da possibilidade de outras existências, de outros amores, e isso fez muita falta. hoje, olho um acervo como o da pulsa, com histórias de todos os corpos, cores, siglas e fico feliz. Ampliar o imaginário, romper um pouquinho que seja a hegemonia das mesmas histórias, é de extrema importância. se há algo de frescor, de novo, de apontamentos de futuro, de revolucionário, isso está nas vozes das crianças, dos povos originários e das minorias políticas. As narrativas de homens, cis, hetero, brancos estão ultrapassadas, limitadas, vimos que não deu certo. Precisamos de outras histórias.
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Larissa – Como a livraria pode contribuir com a comunidade através da divulgação desses livros?
Carol – Penso que a existência de uma livraria é sempre uma contribuição à sociedade. Cada livraria de rua é uma oportunidade, é uma chance, é uma esperança.
Larissa – Qual o papel que a criação de uma livraria física 100% lgbtqiapn+ pode ter na visibilidade desta literatura? Qual a importância desse espaço físico?
Carol – Lembro de uma vez, nas itinerâncias da livraria, num bar, em que um pai me perguntou se havia livros com linguagem de gênero neutro, pois ele entendeu que precisaria aprender uma nova linguagem para se comunicar corretamente com e filhe adolescente, sem perder o laço que construíram. achei tão forte um pai disposto a se letrar para fortalecer um vínculo. em outro momento, uma criança de 9 anos, ficou surpresa por tantos livros lgbtqiapn+, e me contou que ela já havia escrito um livro sobre a história de uma menina que vivia no escuro e após encontrar as cores do arco-íris se iluminou. Prometemos que o lançamento do próximo livro dela seria na pulsa. e é essa a importância: de construção, de poder sonhar outros mundos.
Carol ainda comenta que:
Na livraria, teremos cursos, oficinas, espaço para crianças, música, clube de leitura, café, comidinhas, e um espaço seguro para se fortalecer como comunidade – e não é coincidência que a livraria só venha a existir coletivamente, por meio da contribuição de tanta gente disposta e querendo algo novo.
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É de grande importância podermos ter em nosso país projetos como o da Livraria Pulsa, que nos trazem este espaço de acolhimento para que possamos entrar em contato com nossas narrativas e também narrar nossas histórias.