Longlegs – Vínculo Mortal (2024): Muito barulho por nada

Há um equilíbrio difícil de se manter quando se trata de estimular a imaginação do espectador, algo particularmente caro no gênero do terror. É possível mostrar demais e impedir o medo de crescer na mente de quem vê, tornando a narrativa uma experiência guiada, o que é não lá muito assustador. Mas mostre de menos, e no lugar de instigar, há frustração ou tédio, pois os acontecimentos da trama não parecem levar a muita coisa. Longlegs – Vínculo Mortal consegue uma proeza muito peculiar, que é de fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

O filme de Osgood Perkins chega aos cinemas sob uma pesada campanha de marketing que parece acompanhar quase todo filme do gênero atualmente. “O filme mais assustador de todos os tempos!” promete um cartaz, com direito até a notícias sobre os batimentos cardíacos de Maika Monroe, atriz que interpreta a protagonista do longa, a agente Lee Harker.

Assumo que mesmo já bem ciente dos mecanismos de publicidade dessas obras, fiquei um tanto curioso com sua repercussão, isso porque, até o momento, Perkins era um diretor interessante, mas que não havia chegado ainda ao grande público, e seu trabalho sempre foi muito eficaz em criar mal-estar a partir de uma narrativa esparsa, onde as peças só se conectam bem ao final.

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Nesse sentido, Longlegs é bem conectado à filmografia do diretor, com estrutura similar e revisitando alguns temas como satanismo, a natureza do mal, e segue o ritmo vagaroso, com movimentos de câmera econômicos, predominando os planos estáticos, e se valendo de espaços vazios para sugerir que algo, talvez, pode aparecer ali. Desde as primeiras cenas a estranheza se instaura, e a presença de Harker só a fortalece, com Monroe fornecendo uma atuação fria e rígida, se destacando dos personagens mais naturais que a cercam.

A atmosfera funciona inicialmente, mas conforme a narrativa se desenvolve, fica evidente que o filme não tem muito mais a oferecer para além disso, e o suposto “filme mais assustador do ano” se revela uma versão aguada de True Detective, mas sem o senso de descoberta de algo profundamente estranho que consome a vida dos detetives. Longlegs mantém o mesmo tom do início ao fim, há pouco contraste para que o peso das forças malignas presentes na trama se façam sentir. O aspecto investigativo do filme também não funciona pois, na tentativa de criar um mistério, o roteiro oferece poucas pistas sobre o que, afinal, o assassino Longlegs deseja, ao mesmo tempo que trata elementos particularmente óbvios como grandes surpresas.

Não é à toa que, próximo de sua conclusão, o longa dedique um momento para conectar todas as peças e mostrar exatamente o que está acontecendo. Não é nem uma questão de não confiar que o espectador vá entender a trama, é mais um reconhecimento do próprio filme que a hora prévia pouco fez para conduzir de modo eficaz à sua conclusão.

A experiência com Longlegs acaba sendo simplesmente frustrante, pois há elementos interessantes na história para criar o que poderia ser, de fato, uma obra assustadora, mas faltou equilíbrio entre o que mostrar e o que esconder. Quando as coisas se conectam, é tarde demais para gerar qualquer impacto.

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