Editora Isto Edições lança edição inédita de poemas e curiosidades de Federico García Lorca que inclui análises e, claro, muita poesia!
A nova obra de Federico García Lorca (e muitas curiosidades sobre a vida de um dos melhores poetas da língua espanhola, será lançada pela Isto Edições e, além de trazer uma nova tradução dos poemas vem com um enfoque mais LGBTQ+. O livro traz um artigo da professora Noël Valis, da Universidade de Yale (EUA), sobre como Lorca, apesar da guerra, do seu assassinato e da homofobia, tornou-se um “ícone gay”. A professora, aliás, acabou de lançar um livro sobre ele: Lorca after life. Seu artigo foi originalmente publicado no catálogo da exposição Jardín Deshecho: Lorca y el amor, do Centro Federico García Lorca (Granada — Espanha).
No texto de apresentação vem com a história por trás dos poemas e tem informações relevantes sobre os últimos amores do autor — os possíveis musos na época da escritura dos textos (a maioria dos estudiosos diz que foi Rafael, mas alguns dizem que o amado que dorme no peito do poeta poderia ser Juan). Assim como uma apresentação do poeta escrita pelo professor Hugo Retamar, doutor em Letras pela UFRGS, que fez seu mestrado sobre Lorca.
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Confira as 11 curiosidades sobre Federico García Lorca:
— Federico García Lorca foi um importante poeta e dramaturgo espanhol dos anos 1920/1930, natural de Granada (Andaluzia), com alguns livros publicados em vida (outros após sua trágica morte) e algumas peças encenadas com grande êxito (Bodas de sangue é a mais conhecida no Brasil). Até hoje seu trabalho ecoa e é importantíssimo. Nos países de língua hispânica ele é um ícone LGBTQ+
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— Ele também desenhava, fazia conferências, adorava declamar seus poemas, tocava piano e foi diretor de um grupo de teatro: congregava sempre muita gente à sua volta, era um influencer da época.

— Lorca era gay, do jeito que se podia ser gay então, escondido e sofrendo muito preconceito quando desconfiavam (por exemplo, seu colega, o cineasta Luis Buñuel, veio a se afastar dele por causa dos boatos e tratava-o com desprezo desde então, fazendo seu primeiro filme, o famoso Um cão andaluz, com este título em referência a Lorca — pelo menos assim achava o poeta, que ficou ofendido).
— Na juventude foi colega de grandes nomes da cultura, que formaram a chamada “Geração de 27”. Entre eles, seu maior amigo foi Salvador Dalí, com quem teve uma íntima relação. Dalí, bem mais tarde, viria a fazer declarações explícitas sobre o poeta. Em 1986 ainda disse: “Era uma honra para mim que Federico estivesse apaixonado por mim. Aquilo não era uma amizade, era uma paixão erótica muito forte” — Há um filme com o Robert Pattinson que fala da relação dos dois: Little Ashes
— Lorca teve algumas relações amorosas mais duradouras, como com o escultor Emílio Aladrén, que o largou por uma mulher (e Lorca ficou depressivo, indo com um amigo para Nova York em 1929, o que resultou em seu mais reconhecido livro, Poeta en Nueva York, lançado postumamente).

— Em 1932 Lorca conhece Rafael Rodríguez Rapún, jogador de futebol, estudante de engenharia, aspirante a ator, com quem vai manter uma relação de quase 4 anos, até a guerra e seu assassinato.
— Rafael era bissexual e isso trouxe diversos conflitos para a relação; em um desses conflitos, abandonado em uma viagem, Lorca escreveu o que viria a ser os Sonetos do amor obscuro, que são marcados por uma paixão profunda mas atormentada pelo medo da perda e escondida pela sociedade que os observa. Em um dos poemas ele fala das pessoas que saltam aos jardins esperando ver “teu corpo e a minha agonia” e adverte: “perceba que ainda nos vigiam!”
— Lorca foi assassinado fuzilado em 1936, com 38 anos, pelos fascistas que tentavam dar um golpe militar (golpe esse que resultou na Guerra Civil Espanhola que ia durar 3 anos e que eles, os fascistas, venceram). Seu corpo nunca foi encontrado.
— Atormentado pela morte do companheiro, Rafael Rapún se alista na guerra e morre exatamente um ano depois (alguns dizem que ele deixou-se ferir, de tão deprimido que estava).
— Desde 1935 Lorca tinha um “segundo ficante”, Juan Ramírez de Lucas, de 19 anos, que morria de medo de ser descoberto gay (a última carta de Lorca é para ele, em que fala sobre isso).

— Um dos seus últimos poemas é para Juan, um lindo poema apaixonado que trazemos traduzido no livro também (talvez pela primeira vez no Brasil, já que o poema ficou inédito até 2012). Um trechinho:
Semeou em minha noite escura
Seu jasmineiro amarelo.
Tanto me quer e eu lhe quero
Que meus olhos ele levou.
Eu não posso olhar pra ele!
— Juan morreu com mais de 90 anos e nunca revelou publicamente sua relação com o poeta mais influente da Espanha. Somente depois de sua morte ele autorizou sua família a divulgar informações (o poema, a última carta, desenhos etc). Pela coincidência de datas dos dois relacionamentos, chegou-se a especular que Juan era o muso dos sonetos — mas o mais aceitável é que tenha sido Rafael mesmo.
— Os sonetos que formam o livro ficaram inéditos por quase 50 anos (com exceção de 2 deles). A família dificultava acesso a eles e não permitia que, em qualquer obra de Lorca, se fizesse alusão à homossexualidade.
— A publicação dos sonetos veio por meio de uma edição pirata: em 1983, alguém que teve acesso aos manuscritos fez um livro anônimo com os 11 poemas e distribuiu para pessoas importantes, o que gerou muita comoção no meio literário (“como assim a família tem esses poemas MARAVILHOSOS do Lorca inéditos e nunca publicou?”)
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— Hoje em dia, não achamos nada escandaloso, mas pelo menos em um dos poemas se vê claramente que o amor com quem o poeta fala nos textos é masculino, e isso era um tabu para a família e a sociedade conservadora mesmo após o fim da ditadura.

— A família então autoriza a publicação oficial em 1984, no jornal ABC, de viés direitista, junto a textos que negavam qualquer referência (embora nunca seja citado diretamente) à homossexualidade nos poemas e dando a entender que Lorca não era gay (isso era “equívoco e maledicência”) mas SE FOSSE, bem, era muito discreto, ninguém percebia e a literatura dele não era pederasta nem militante, diz um dos artigos — inclusive são publicados com o título apenas de Sonetos de amor, não “do amor obscuro”, como exigência do seu irmão Francisco.
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Sonetos do amor obscuro
de Federico García Lorca
Tradução: Ederson Nunes
Tamanho 14x19cm
80 páginas
Em campanha de crowdfunding
no Catarse:
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Edição de Ederson Nunes. Capa de Bia Clementino. Tradução do artigo de Lívia Stumpf. Revisão de Rafael Tourinho Raymundo.
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