Após participação em alguns festivais, inclusive vencendo a segunda edição do prêmio Netflix na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Serra das Almas estreia nacionalmente apresentando um thriller cheio de nuances.
O diretor Lírio Ferreira nos apresenta uma cidade no interior de Pernambuco para o cenário da trama de ação, drama e terror de seu novo filme. Serra das Almas acompanha uma emboscada completa que envolve bandidos, investigação jornalística e políticos corruptos. O plano de roubar um conjunto de jóias, leva um grupo a uma sequência de situações inusitadas e catastróficas.
O filme nos envolve logo nos primeiros 5 minutos, deixando uma sensação de tensão em saber o que está acontecendo, porquê, e como essa história termina. E conforme o filme avança e temos acesso a subtrama que conta a origem dos personagens, vemos um destaque para as narrativas femininas, com as personagens de Mari Oliveira e Julia Stockler ganhando força. Serra das Almas nos intriga com o suspense sobre a história dessas mulheres, que não são entregues logo de cara, fragmentando pouco a pouco como elas foram parar ali e quais são suas angústias.
Em termos de atuação, temos excelentes performances como o caso de Julia Stockler, Ravel Andrade, Mari Oliveira e Jorge Neto, que com atuações sutis apresentam camadas muito sensíveis como a relação de Vera com a música, e de Gislano com Serra das Almas.
No thriller Lírio Ferreira utiliza o agreste de Pernambuco para o desenvolvimento da mitologia por trás de toda a história, tensionando a trama e apresentando as mitologias de Serra das Almas como botijas enterradas, ou assombrações onde sons inexplicáveis contribuem para criar um lugar “assombrado”. Esses recursos dão um tom sobrenatural ao filme.
O roteiro de Maria Clara Escobar, Paulo Fontenelle e Audemir Leuzinger, é complexo, ao utilizar muitos recursos técnicos como a exploração de temas como impotência ou fracasso, e a desconstrução de expectativas do público, ao inserir uma personagem que pode gerar uma virada na história. Mas também ao criar uma história não linear, que contribui ousadamente para misturar aventura, ação, thriller e até terror, buscando fugir das limitações de um único gênero, e criando uma narrativa mais próxima do que seria a “vida”.
Serra das Almas consolida-se como um thriller cativante, que mistura ação, drama e terror com maestria, entregando uma narrativa repleta de camadas e suspense. Lírio Ferreira não somente constrói uma trama eletrizante em torno de um assalto que desencadeia eventos catastróficos, mas também mergulha nas profundezas das personagens, especialmente as mulheres, cujas histórias são reveladas de forma fragmentada e impactante. Com atuações sensíveis e um roteiro complexo, o filme desafia expectativas, explorando temas como impotência e mitologias regionais, enquanto mantém o espectador imerso em sua atmosfera tensa e sobrenatural. Ao fugir das amarras de um único gênero, Serra das Almas oferece uma experiência cinematográfica ousada e visceral, confirmando seu lugar como uma das produções mais intrigantes do cinema nacional recente. Uma obra que não apenas entretém, mas também provoca e ressoa muito além da tela.