Ambição, Poder e Destino: Anakin Skywalker, o Macbeth de Star Wars?

Anakin Skywalker, o Macbeth de Star Wars

No vasto domínio da ficção, poucos personagens capturaram a imaginação de tantos como Anakin Skywalker. O herói trágico transformado em vilão da saga Star Wars divide semelhanças notáveis com o Macbeth de Shakespeare, oferecendo um interessante estudo sobre a corrupção do poder e a queda da virtude. Anakin e Macbeth embarcam em jornadas que os levam de figuras reverenciadas à agentes da escuridão, com histórias que se envolvem com temas como ambição, traição e profecia.

A comparação entre Anakin e Macbeth revela algumas das mais profundas escolhas de George Lucas sobre a forma como decidiu tratar sobre a psique humana e a natureza do mal. Começando em encontros com profecias, ambos os personagens navegam caminhos similares de decadência moral até sua transformação última em vilões a serem temidos e, finalmente, destruídos. Suas histórias exploram as forças manipuladoras por trás de suas quedas, o preço da ambição desgovernada, e as consequências devastadoras de suas escolhas naqueles que eles um dia amaram.

Profecia e Destino

A ideia de profecia tem um papel incomensurável em desenhar os destinos tanto de Anakin quanto de Macbeth. Em “Star Wars”, a profecia Jedi prevê a vinda de um escolhido que trará equilíbrio para a Força – um poderoso ser com sensitividade para a Força que, acredita-se, destruirá os Sith. Anakin, com seu nascimento fora do comum e suas habilidades extraordinárias, parece ser a pessoa mencionada na profecia – enquanto na peça de Shakespeare, a profecia das três bruxas cria o cenário para a elevação de Macbeth ao poder, prevendo que ele irá ascender ao trono escocês e plantando as sementes da ambição em sua cabeça.

Essas previsões tem imenso impacto no desenvolvimento das personagens, influenciando suas ações e decisões. Ambas as narrativas exploram a tensão entre destino e livre-arbítrio: enquanto as profecias parecem sugerir determinados caminhos, são as escolhas das personagens que de fato moldam seus destinos. Essa linha tênue entre profecia e agência pessoal coloca em ação arcos trágicos tanto para Anakin quanto para Macbeth, os levando até suas eventuais quedas.

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Sementes de tragédia e começos nobres

A história de Macbeth começa com demonstrações de considerável coragem e nobreza: ele é um bravo líder em batalha, recebendo imenso reconhecimento por sua força e coragem. Ele é a imagem de um súdito leal, lutando valentemente contra forças rebeldes e protegendo e preservando o poder do rei. Ele é descrito como um guerreira quase super-humano, cortando passagem entre linhas inimigas. Suas ações em batalha servem para demonstrar sua honra e dedicação indiscutível ao monarca, e é exatamente essa representação inicial de Macbeth como um homem nobre e destemido que forma a cena para sua tragédia.

Anakin Skywalker começa em uma posição de dificuldades: nascido como escravo em Tatooine, tudo o que ele conhece é uma vida de servidão e controle, experiências que moldam seu caráter e o assombram pelo resto da vida. Apesar desse começo humilde, porém, Anakin está destinado para a grandeza, pois acredita-se que ele é o escolhido que trará equilíbrio para a Força. Ele também é quase super-humano, com poderes acima do normal até mesmo para aqueles que tem sensitividade para a Força.

Tanto Macbeth quanto Anakin possuem imenso potencial, um aspecto necessário para suas eventuais desgraças. A nobreza e a coragem de Macbeth em batalha e o talento e sensibilidade imensas de Anakin para a Força lhes garantem admiração e a confiança de seus pares, marcando-os para destinos significativos; mas essas sementes de grandeza também contém o potencial para a tragédia na medida em que influências externas e desafios internos começam a encaminha-los para a escuridão.

A influência do sobrenatural

Em “Macbeth”, a profecia das bruxas tem um papel impossível de se exagerar na construção da narrativa: sua previsão de que Macbeth se tornará Rei da Escócia coloca em movimento uma série de eventos até sua destruição. Através de elementos sobrenaturais, incluindo bruxas, fantasmas e visões, Shakespeare cria uma atmosfera de mistério e ansiedade ao longo da peça 

Os mistérios da Força em Star Wars tem um papel similar. A Força, central no universo de Star Wars, é descrita como um campo energético mantendo a galáxia unida. Utilizada tanto por Jedi quanto por Sith, ela é a fonte de boa parte da profundidade e da intriga das histórias da franquia. A Força existe de duas formas: a Força viva, representando as energias de todas as formas de vida, e a força cósmica, que une a galáxia e se comunica através de midi-chlorians.

Elementos místicos e sobrenaturais influenciam significativamente as narrativas de ambas as histórias, criando maravilhas, mistérios e pavor. Esses elementos afetam profundamente as ações e decisões dos personagens, formando suas jornadas e sua história como um todo: tanto em Macbeth quanto em Star Wars, os aspectos místicos servem como catalisadores para as transformações dos protagonistas e para o desenrolar dos eventos.

Ambição e poder: o desejo de Macbeth pelo trono e a busca de Anakin por ser um mestre Jedi

A ambição de Macbeth é alimentada pela profecia das bruxas de que ele se tornará rei. Sua esposa, Lady Macbeth, tem um papel crucial em pressiona-lo a agir de acordo com essa ambição, desafiando sua masculinidade e encorajando-o a assassinar o rei Duncan, e mais tarde seu amigo Banquo. A coroa, cobiçada e eventualmente usurpada por Macbeth, simboliza poder e autoridade últimos, representando a ordem natural e o poder de Deus na época de Shakespeare. A decisão de Macbeth de tomar à força tamanho poder o coloca no caminho da busca incansável por mais, levando a múltiplos assassinatos e sua eventual destruição como um tirano.

Já a sede por poder de Anakin Skywalker se manifesta através de seu desejo de se tornar um mestre Jedi. Anakin possui imensos poderes, incluindo telekinese, visões da Força e habilidades fantásticas como piloto. Sua frustração cresce quando ele é colocado no Conselho Jedi sem o status de mestre: essa rejeição, combinada com seu medo de perder sua esposa Padmé, sua inabilidade de lidar com mudanças e seu senso inflado de auto-importância, o torna suscetível às manipulações de Palpatine, que explora sua ambição oferecendo-lhe o poder de salvar vidas, algo que ele diz ser impossível de se aprender de um Jedi.

Ambos os personagens, a princípio, tem boas intenções. Macbeth é descrito como um guerreiro nobre e valente, enquanto Anakin é motivado pelo desejo de ajudar aqueles que ele ama. Entretanto, suas ambições desenfreadas os levam a cometer atos cada vez mais imperdoáveis. A corrupção de suas causas nobres resulta, em última instância, na destruição de tudo aquilo que eles um dia amaram.

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Traição e suas consequências

A traição de Macbeth contra o rei Duncan marca um momento fatal na peça de Shakespeare: a profecia das bruxas leva Macbeth a cometer regicídio e – pior – matar um hóspede debaixo de seu teto. Essa traição dá início a uma cadeia de eventos que mergulham a Escócia no caos. Ao mesmo tempo, a traição de Anakin da Ordem Jedi, que o tinha acolhido e a quem ele costumava servir fielmente, resulta no assassinato de dezenas de crianças e no nascimento de uma ditadura intergaláctica.

Em ambas as narrativas, a traição tem consequências imensas: as ações de Macbeth dão início à um reinado de terror, enquanto Anakin juntando-se ao lado negro da força resulta na queda da Ordem Jedi, afetando não apenas os protagonistas, mas tendo impacto profundo, também, em seus mundos como um todo, ilustrando o poder destrutivo da traição.

A natureza corruptiva do poder

Poder está no centro da histórias tanto de Anakin quanto de Macbeth, levando ao declínio moral dessas personagens. As histórias de ambos ilustram a força destrutiva de autoridade e ambição sem limites.

O sucumbir de Macbeth à tirania é lento: sua transformação de súdito leal à tirano é marcada por seu isolamento cada vez maior e pela perda gradual de seu compasso moral. A medida que ele comete crimes cada vez mais absurdos, ele se encontra preso em um ciclo de violência. Sua famosa fala “A tal ponto atolado estou no sangue que, esteja onde estiver, tão imprudente será recuar como seguir em frente”, reflete sua incapacidade de escapar das consequências de suas ações.

Já a sedução de Anakin para o lado negro da Força é orquestrada pelo senador Palpatine, que explora seus medos e desejos. A promessa de poder suficiente para salvar Padmé se prova irresistível, levando Anakin a trair os Jedi e assassinar todas as crianças que estavam sendo treinadas pela Ordem. Sua transformação física em Darth Vader, que ocorre pouco depois, representa o rendimento completa à influência corruptora do lado negro.

Ambas as personagens pagam um preço pesado por suas buscas pelo poder. O reinado de Macbeth se torna um pesadelo de paranoia e violência, enquanto Anakin perde tudo aquilo que ele buscou proteger. As histórias, assim, se apresentam como contos de aviso sobre os perigos da natureza corruptiva do poder absoluto e da ambição desenfreada.

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Lady Macbeth catalisadora, Palpatine manipulador

Lady Macbeth é talvez a mais importante peça na queda de Macbeth: sua natureza manipuladora se torna evidente quando ela recebe a carta de seu marido sobre a profecia das bruxas, e imediatamente começa a planejar maneiras de acelerar sua ascensão ao poder. Ao questionar sua masculinidade e pôr em dúvida sua coragem, ela convence Macbeth a assassinar o rei Duncan. Seu infame solilóquio – “tirai-me o sexo!” – evidencia sua posição, e sua utilização de todas as suas habilidades de persuasão é fundamental para empurrar Macbeth na direção do regicídio.

Palpatine, como Lady Macbeth, é um mestre manipulador. Ele pacientemente coloca seus planos em movimento muito antes dos eventos de “A Ameaça Fantasma”: Palpatine sutilmente influencia a Rainha Amidala a conclamar um voto de não-confiança, avançando sua posição política; ele continuamente elogia Anakin Skywalker, insulta a Ordem Jedi, e explora os sentimentos de Anakin por Padmé. A cena do teatro em “A Vingança dos Sith” é particularmente significativa, pois é quando Palpatine fala sobre Darth Plagueis para Anakin, dando a entender que os Sith têm poder sobre a morte.

Tanto Lady Macbeth quanto Palpatine travam uma verdadeira guerra psicológica para atingir seus objetivos: ela põe em questão a masculinidade do marido, e ele alimenta o ego e explora os medos do jovem Jedi. Suas técnicas de manipulação servem como catalisadores para a caminhada dos protagonistas até a escuridão, levando à consequências trágicas para todos os envolvidos.

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Falhas trágicas e decisões fatais

A jornada de Macbeth é marcada por um crescente senso de confiança exagerada. Inicialmente um guerreiro leal, a autoconfiança de Macbeth cresce perigosamente à medida que ele abraça seu recém-adquirido poder, incentivado pela profecia das bruxas. Ele passa a acreditar que pode se livrar de qualquer coisa – inclusive escapar das consequências de um regicídio. Essa confiança exagerada atinge seu ápice no Ato 5, quando ele parece se sentir imparável por conta de profecias mal interpretadas. Suas bravatas, baseadas em certezas falsas, o cegam para a realidade de sua situação.  

A falha trágica de Anakin, por sua vez, vem de seu medo profundo de perder as pessoas que ama. Seus relacionamentos próximos com sua mãe e com sua esposa Padmé o tornam vulnerável para esse medo, e Darth Sidious explora essa fraqueza, atormentando Anakin com pesadelos sobre suas mortes. Esse pavor se prova o catalisador que erode o treinamento Jedi de Anakin, levando-o ao lado negro em uma tentativa errônea e falha de salvar Padmé da morte, além, é claro, de sua frustração com o Conselho Jedi e sua sede por mais poder.

Amor, perda e motivação

O papel das mulheres na vida de Macbeth e Anakin não pode ser contestado: as ações de Lady Macbeth ultrapassam as do marido, e ela habilmente o manipula à buscar o trono, fazendo chantagem emocional e plantando, efetivamente, sementes de dúvida na mente de Macbeth. De maneira semelhante, Padmé também toma parte na destruição de Anakin. Seu relacionamento com ele é marcado por imensa afeição e vários momentos doces e divertidos, culminando em um casamento secreto. Entretanto, o medo de Anakin de perder Padmé quando ele começa a ter visões de sua morte se converte no fator mais significativo para que ele se volte para o lado sombrio ao torna-lo vulnerável à Palpatine.

De maneiras diferentes, ambos os relacionamentos demonstram o poder destrutivo do apego e a maneira como o amor, quando utilizado como arma, pode ter consequências devastadoras. A influência de Lady Macbeth leva seu marido a cometer todo tipo de crime, enquanto a ligação de Anakin com Padmé se torna uma fraqueza a ser explorada por seus manipuladores, tornando clara a relação entre amor, ambição e potencial trágico em ambas as narrativas.

Culpa, loucura e conflito interno

MARION COTILLARD stars in MACBETH.

Não é tão difícil convencer Macbeth a assassinar seu rei. Ele não conta, porém, com o peso de sua escolha. Logo após cometer regicídio, Macbeth fica horrorizado com suas ações, sentindo-se incapaz de se livrar das adagas ensanguentadas. A manipulação de sua esposa, porém, o encaminha ainda mais para a escuridão, incentivando-o a lavar o sangue de suas mãos. Nesse momento, o destino de Macbeth é selado, e inicia-se uma série de eventos violentos.

A loucura progressiva de Macbeth é marcada por alucinações vívidas: depois de matar Duncan, ele ouve vozes e vê uma adaga ensanguentada, simbolizando sua culpa. Visões da mesma coroa que ele cobiçou o assombram, refletindo seus medos e seu conflito interno.  Mais tarde, o fantasma de Banquo aparece no banquete, revelando a paranoia crescente de Macbeth. Esses eventos, combinados com a cena de sonambulismo e loucura de Lady Macbeth, na qual ela imagina sangue em suas mãos, e seu eventual suicídio, demonstram o impacto psicológico devastador de suas ações.

Anakin também tem pesadelos e visões – sendo ele próprio capaz de ver imagens que parecem indicar o futuro – que o levam à loucura, e é através delas e do medo que elas lhe causam que ele é convencido a se juntar ao lado negro da força. O medo e a culpa associadas ao que ele imagina que virá a acontecer, de acordo com suas visões, o tornam um alvo fácil para manipulação.

O papel de mentores e conselheiros

Na peça de Shakespeare, a visão cuidadosa de Banquo contrasta visivelmente com a impulsividade de Macbeth. Enquanto Macbeth abraça rapidamente as profecias das bruxas, Banquo permanece cético, avisando seu amigo dos potenciais perigos a seguir. Sua natureza de excelente discernimento fica evidente nas palavras “Os instrumentos das trevas contam-nos verdades, cativam-nos com insignificâncias claramente honestas, só para trair-nos em consequências as mais profundas”.

A história de Anakin Skywalker espelha a de Macbeth, com Obi-Wan e Palpatine servindo como influências opostas. Como Banquo, Obi-Wan representa a precaução e a sabedoria, enquanto Palpatine, como as bruxas, explora as ambições de Anakin. O impacto desses mentores molda o desastre trágico de Anakin, como a profecia das bruxas move a desgraça de Macbeth. Os conselhos contrastantes oferecidos por conselheiros, amigos e mentores tem influência imensa nas decisões dos protagonistas, indicando a maneira como influências externas encaminham a bússola moral e o destino último desses dois personagens.

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Enfrentando o Destino: Batalhas Finais

Os elementos proféticos de ambas as histórias culminam nas batalhas finais enfrentadas tanto por Macbeth quanto por Anakin, e têm um papel fundamental nelas. Macbeth, encorajado pela profecia das bruxas de que nenhum homem nascido de mulher pode lhe fazer mal, enfrenta Macduff com arrogância. Porém, Macduff revela que ela foi “rasgado do útero de sua mãe antes do tempo” – isto é, nascido de cesariana, e portanto não de uma mulher, mas de um cadáver, já que sua mãe já estava morta no momento de seu nascimento – destruindo a falsa sensação de invencibilidade de Macbeth. Esse desenvolvimento acaba por assegurar a derrota e decapitação de Macbeth, cumprindo a profecia e restaurando a paz na Escócia.

De maneira parecida, a transformação de Anakin em Darth Vader alcança seu clímax em Mustafar, onde seu duelo contra Obi-Wan Kenobi representa o confronto final entre seu antigo eu e sua nova, sombria persona. Essa batalha termina com Anakin mutilado e, eventualmente, sendo totalmente queimado, simbolizando a destruição completa de Anakin Skywalker e a ascensão de Darth Vader e o cumprimento da profecia. Anos depois, Darth Vader finalmente perderá a vida em um outro duelo, dessa vez contra seu filho, Luke.

A queda de Macbeth e a ascensão de Darth Vader

A queda de Macbeth culmina em sua morte pelas mãos de Macduff, resolvendo o conflito político-social criado por seu reinado de tirania. Malcom, o herdeiro legítimo, recupera o poder, restaurando a ordem na Escócia, simbolizando o reestabelecimento da paz depois de um pedido de caos e autoritarismo. O papel de Macduff na derrota de Macbeth e no apoio à ascensão de Malcom ao trono enfatiza ainda mais o tema da ordem triunfando sobre a desordem.

A transformação de Anakin em Darth Vader marca o final trágico de um Jedi antes promissor. Sua traição para o lado sombrio da força resulta no estabelecimento do Império, com consequências imensas para a galáxia como um todo – o surgimento de um governo ditatorial que, de alguma maneira, alcança imenso apoio legítimo, como frisado pela senadora Padmé Amidala em “A Vingança dos Sith” (“Então é assim que morre a liberdade, ao som de estrondoso aplauso”). A ascensão de Anakin como um Lorde Sith, de maneira similar à de Macbeth como rei, é o começo de um reinado de terror. Apenas cerca de duas décadas depois o Império será derrotado: nessa ocasião, Darth Vader duela contra seu filho, Luke Skywalker, e perde. A morte de Vader e a queda do Império simbolizam o retorno da democracia, da paz e da ordem à galáxia após um governo de tirania e medo.

A Jornada do Herói dá errado

Tanto Macbeth quanto Anakin tem um arco que subverte a jornada do herói tradicional. Começando como protagonistas nobres perfeitos, eles logo saem da narrativa clássica do herói ficcional: A hesitação inicial de Macbeth em cometer assassinato logo cede à manipulação de sua esposa, e ele assassina seu rei e convidado; a queda de Anakin começa com o massacre Tusken, movido por ódio e fúria. Ambos os personagens tem conflitos de consciência, mas terminam por sucumbir a seus impulsos mais sombrios, em um caminho marcado por crescente isolamento, paranoia e capacidade de cometer ações cada vez mais terríveis. Ao invés de superar os desafios e retornar transformados para o melhor, ambos sucumbem à seus demônios interiores, desafiando o clássico caminho do herói e apresentando uma visão mais complexa e trágica da natureza humana

Poder e consequências

O governo tirânico de Macbeth mergulha a Escócia em caos. Seu reinado, marcado por violência e paranoia, o isola de seus súditos; seu velho amigo, Banquo, se torna um problema, e Macbeth o mata; Lady Macbeth, seu único verdadeiro apoio, e inicialmente a força motriz por trás de suas ambições, sucumbe à culpa e loucura, cometendo suicídio. Macbeth perde tudo.

A transformação de Anakin em Darth Vader é o que torna realidade aquilo que ele queria evitar: a morte de Padmé, que ocorre em grande parte em função da imensa decepção pela qual ela passa ao ver o que aconteceu com seu marido. É assim também que ele perde seu melhor amigo, Obi-Wan, e seus filhos, Luke e Leia. Mais tarde, como Comandante Supremo do Exército Imperial, Darth Vader exercita imenso poder no Império Galáctico, tendo um papel crucial em suprimir rebeliões e manter a ordem. Entretanto, como Macbeth, Vader descobre que autoridade suprema vem com um preço.

Ambas as personagens se tornam cada vez mais isoladas à medida que seu poder cresce, presas por suas próprias ações. Macbeth lamenta estar atolado em sangue, sem poder voltar atrás, enquanto a posição de Vader o aliena de todos – inclusive do que restou de sua família

Destino e Livre-Arbítrio

A relação entre destino e livre-arbítrio é um tema central tanto em Macbeth quanto na trilogia de Anakin. Profecias moldam seus destinos, mas são escolhas pessoais que movem suas ações – e que, eventualmente, fazem com que essas profecias de fato se realizem. Ambos os personagens confrontam momentos em que precisam decider se vão abraçar seu destino ou resistir o caminho que foi traçado para eles, e ambos acabam criando suas próprias tragédias ao tentar brincar com o destino. Essas histórias levantam a quetão: qual a natureza do livre arbítrio na face de forças externas ponderosas?

Ambição, Poder e Destino

As histórias de Anakin Skywalker e Macbeth são olhares brilhantes sobre ambição, poder, destino e a natureza humana, e sobre a forma como pessoas promissoras podem ter destinos trágicos quando sua ascensão não tem limites. A influência de uma série de figuras centrais em suas vidas, a capacidade de sedução do poder e o peso da predestinação profética são fundamentais para moldar essa descida à caminho da escuridão. No fim, ambos os personagens atuam como avisos sobre a corrupção que vem do poder desenfreado, e dos perigos de permitir que o medo seja combinado com a ambição e o talento ao guiar as ações de indivíduos, e do delicado equilíbrio entre predestinação e livrea arbítrio. Esses temas atemporais continuam a impressionar audiências modernas, e fazem desses personagens clássicos inegáveis em seus respectivos domínios.

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