Estudante que alfabetizava lavradores foi torturada e internada num manicômio durante a ditadura no Brasil

A estudante pernambucana Sylvia Montarroyos, foi presa durante o regime militar, aos 17 anos, acusada de distribuir material com conteúdo “subversivo”, pertencer a um movimento de resistência e alfabetizar lavradores. Ela conseguiu escapar, mas foi recapturada e torturada para que denunciasse outros nomes.

O livro Réquiem por Tatiana, relançado em 2013, reúne memórias de Sylvia Montarroyos desde o primeiro dia que foi presa, 2 de novembro de 1964, até a data que saiu do país, quase dois anos depois. Tatiana, no título, refere-se ao codinome que usava enquanto era torturada na época.

No livro, ela descreve a fuga, a prisão e as torturas que foi submetida, além da internação compulsória no manicômio de Tamarineira, em Pernambuco, conforme expôs no seu relato:

“Durante este tempo, fui brutalmente torturada em vários quartéis de Pernambuco e cheguei a ser internada no Hospital Psiquiátrico Ulysses  Pernambucano, que na época era Hospital da Tamarineira, onde fiquei por cerca de 10 meses. Cheguei lá pesando 23 quilos. O tratamento da época era à base de choques elétricos e drogas, mas mesmo assim consegui me recuperar um pouco. Então fui para a casa dos meus pais, mas fiquei só uma semana lá, pois os militares expediram mais um mandato de prisão. Fugi do Recife, passei um tempo no Rio de Janeiro e em São Paulo e, depois, fui para o Uruguai“.

 

Devido à proximidade com membros da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder, aceitou o convite para escrever o livro sobre o período. No entanto, esse livro, com mais de 400 páginas, é apenas o primeiro volume de uma trilogia sobre sua vida. A “Trilogia da América Latina” é composta por Réquiem por Tatiana, Tempestade em Tegucigalpa e Vagas Estrelas da Ursa Maior, os dois últimos ainda sem previsão de publicação.

Atualmente, ela mora em Portugal e dedica parte de seu tempo a ações voluntárias e humanitárias.

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