Recentemente, o Rio de Janeiro foi declarado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Capital Mundial do Livro, e sediou a Bienal do Livro, grande evento literário da cena cultural brasileira. Mas quem pode ir a um evento desta natureza? Como colocar livros nas mãos dos filhos de trabalhadores?
Por mais que o valor da entrada na Bienal seja considerado democrático, com direito à meia-entrada para crianças e estudantes, permita a entrada de alimentos, e a disponibilização de ônibus que passavam por lugares estratégicos da cidade do Rio de Janeiro, nem todas as pessoas conseguiram acessar os livros e a literatura nos dias do evento apesar de todos esse ‘esforços’.
Há uma barreira quase imperceptível para que pessoas pobres, filhos de trabalhadores e os próprios trabalhadores consigam acessar ambientes como esse. Não há uma placa na porta que diga: ‘Você não pode entrar aqui!’, mas nem precisa ter…
Como o trabalhador conseguiria se deslocar ao longo dos dias em que ocorreu a Bienal, tendo que trabalhar em uma escala 6×1? No final de semana, já não há energia suficiente para sair, e ainda há milhares de tarefas domésticas para serem feitas em casa. Como colocar livros nas mãos dos filhos dos trabalhadores?
Como colocar livros nas mãos dos filhos de trabalhadores?
A Bienal é um evento que acontece a cada dois anos, mas é preciso colocar livros nas mãos dos filhos de trabalhadores todos os dias. É necessário que as crianças tenham acesso aos livros e a cultura continuamente, mesmo com tantas dificuldades.
Para cumprir esta missão, muitas bibliotecas comunitárias têm conseguido colocar livros nas mãos dos filhos de trabalhadores de suas comunidades espalhadas pelo Brasil. Sem custos, sem discriminação e com muitas dificuldades, elas seguem firmes em seu propósito.
No Brasil, existe uma lógica de discriminação que se estende interseccionalmente pelas periferias até as pessoas negras de baixa renda, que faz com que essas pessoas tenham mais dificuldade de acessar ao livro, sendo privadas do seu direito de sonhar, “o direito humano à literatura” (Antônio Cândido).
Os livros mudam vidas
São inúmeras as tentativas de manter os filhos de trabalhadores longe dos livros, seja por meio de projetos de lei descabidos em câmaras de vereadores, apelando para retirada de livros clássicos das escolas, seja pelo sucateamento dos recursos nas instituições públicas.
Colocar livros nas mãos dos filhos de trabalhadores fará com que eles mudem a realidade deles e de suas famílias a médio e longo prazo, por meio do desenvolvimento do pensamento crítico e do desenvolvimento de habilidades e competências para o mercado de trabalho.
Com os livros nas mãos, crianças e adolescentes descobrem um mundo em que outras realidades são possíveis. Descobrem novas possibilidades de existir em um mundo que nega direitos básicos aos seus pais e tantas gerações anteriores.
Os livros não podem mudar o passado, mas mudam vidas no futuro!
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