Pesquisadores da UFMG descobrem que pintura de Anita Malfatti esconde mulher nua

O retrato representa Dora, parente de Anita Malfatti, que esconde em um sorriso contido uma pintura encoberta de uma mulher que posa nua. A produção feita 1934 apresenta as facetas do trabalho de uma das principais artistas do modernismo brasileiro.

Dora, quadro pintado por Anita Malfatti — Foto: TV Globo

A descoberta foi feita por professores pesquisadores do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (Cecor), da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Dora, uma familiar de Malfatti, é retratada na pintura com um vestido claro, de mangas bufantes e sem decote. O sorriso contido na cena é bem diferente da que está encoberta: uma mulher posando nua.

Para a análise, a obra passou por uma série de investigações e, para um diagnóstico mais preciso da imagem encoberta, o quadro passou por um exame no aparelho chamado de IRR, que usa a radiação infravermelha refletida da imagem. Em entrevista para o G1, o programador Lucas Cotta explica o trabalho desenvolvido com o dispositivo que foi fornecido pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ):

“Nós conseguimos identificar uma outra obra, uma outra pintura feita por trás dessa. Identificamos que tem uma moça deitada aqui, nua, por trás dessa pintura. Conseguimos reparar a cabeça dela, o braço, o corpo, outro braço e a perna. Até os pés a gente consegue ter uma vaga noção de como foi feito, como foi desenhado o esboço dela”

Veja mais: 30 anos depois: encontrado o diário desaparecido de Anita Malfatti

Pesquisadores utilizaram equipamentos de raio-x e infravermelho para descobrir outra pintura debaixo da Dora — Foto: TV Globo

Além disso, os pesquisadores explicam que já foi possível identificar alguns tipos de pigmentos e colas usados para pintar uma tela de 1967. Para esse estudo, a obra de arte também passou por exames no Macro XRF, um equipamento que analisa os elementos químicos presentes na pintura. André Pimenta, também pesquisador do IFRJ, descreve a surpresa ao encontrar o detalhamento do desenho escondido:

“É claramente visível que você tem uma pintura por trás. Interessante é que não foi só um rascunho. [Com esse aparelho] aqui a gente sabe que esse rascunho teve uma camada pictórica, que ele foi realmente pintado. Tem pigmento a base de estrôncio que foi usado para fazer essa coloração”

Anita Malfatti é uma das pioneiras do modernismo no Brasil, reconhecida como a primeira grande modernista, sendo notório o seu trabalho por integrar influências europeias e norte-americanas com temas nacionalistas. Além de Malfatti, outras obras de artistas modernistas também passaram pelo mesmo processo de análise, como no caso de uma tela atribuída a Di Cavalcanti, onde foram encontrados alguns tipos de pigmentos e colas usados para pintar uma tela de 1967.

Tela atribuída a Di Cavalcanti também está sendo analisada pelos pesquisadores — Foto: TV Globo

Essas descobertas não apenas enriquecem o entendimento sobre os processos criativos, mas são fundamentais para a conservação das obras. Cada pincelada, pigmento ou suporte carrega vestígios de seu tempo, fazendo da técnica pictórica uma chave valiosa para o passado.

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