Todo o dilema de Duna – tanto a parte 1 quanto a parte 2 – está numa luta inescapável entre duas forças totalmente desproporcionais. Uma batalha entre Davi e Golias que, aparentemente, busca valorizar mais o esforço dos encontros das minorias do que propriamente a necessidade de vencer. E isto, que poderia ser uma saída interessante para o filme, de alguma maneira pode se tornar sua maldição.
A história do filme é diminuta e nem sempre muito bem resolvida para caber em quase 3 horas. O jovem Paul Atreides, que perdeu toda a família, se junta aos Fremen e a jovem Chani para enfrentar os poderosos que mataram seu povo. Diante de um impasse entre os povos do sul e do norte, ele vai ser reconhecido como um Messias anunciado nas profecias do passado e passar por provações que o tornam líder dos povos oprimidos.
Duna – parte 2 podia ser um filme bastante interessante se não tivesse se apegado a alguns erros cometidos por Villeneuve no primeiro filme. O filme ainda é excessivamente escuro e oscila entre dois registros muito diferentes um do outro que nos distraem: as cenas de organização e conspiração, feita nos túneis e fundos das montanhas, e as cenas épicas de naves, batalhas e tiros.
O primeiro parece sempre muito pouco detalhado, com termos em outras línguas e nomes que nem sempre entendemos o que significam. Ali, se retrata a tentativa de uma sobrevivência quase impossível, sempre à meia luz, quando muito. Já o segundo é riquíssimo, épico e iluminado, e não tem muitos dilemas morais ou éticos, fazendo uso de efeitos especiais que saltam aos nossos olhos com maior foco, dessa vez, nas lutas travadas mais nas distâncias do que no corpo a corpo dos exércitos. Entretanto, o que parece fazer falta é a junção dessas duas coisas.
As principais discussões do filme são a exploração desenfreada, o monopólio e o desperdício de recursos naturais, a colonização de uns povos sobre os outros, incluindo a posse da terra, tema que cai super bem em momentos de genocídio palestino; a fé cega e desenfreada que pode acarretar em escolhas apressadas e nem sempre corretas para as decisões políticas de seu povo e, por fim, a manipulação política através do uso da guerra como instrumento de manutenção do controle. Parece pouco, mas é bastante coisa que o filme oferece quando a gente adentra bem as questões.
Falando da ordem pessoal, é um pouco difícil acreditar que o Timothée Chalamet, com suas feições ainda quase adolescentes de um jovem dos Estados Unidos, seja o Messias de um povo com traços árabes do deserto. Além disso, também soa difícil para mim que Zendaya, uma militante guerrilheira da causa do seu povo, se apaixone por esse jovem a ponto de quase romper com parte de sua própria etnia. Porém, essa crítica não é sobre o que eu penso.
A premissa principal do filme é que aqueles que são considerados ratos de esgoto podem se unir para superar os poderosos conspiradores que estão juntos apenas pelo poder. Entretanto, a caricaturização excessiva dos vilões cria um aspecto pouco crível remetendo algumas vezes aos vilões de séries de televisão como Power Rangers ou Jaspion: um homem gordo numa banheira de água, por exemplo.
Ao mesmo tempo, ter a figura de Christopher Walken, o Morty de Click (2006), como governador e líder da oposição, ajuda na dificuldade de comprar completamente estes vilões como tais. A impressão que fica é que o objetivo é mesmo que a gente quase ria dos poderosos por não perceber como é possível que eles tenham chegado ali.
Ao que parece, e isto não é uma tentativa de desfazer dos esforços do filme, Denis Villeneuve tenta fazer um filme mais inteligente do que consegue e, como sabemos, o esforço excessivo para fazer uma coisa entregar a dificuldade de realização da própria coisa.Então Duna – parte 2 tenta muito trazer grandes reflexões de dilemas da humanidade e consegue isso até a página 2. Mas…esse é mesmo o filme 2, não é?