O Corpo (2000) e Parabelo (1997): conheça os espetáculos do Grupo Corpo

A temporada carioca do primeiro semestre de 2024 do Grupo corpo, que acontece de 22 de maio a 2 de junho no Teatro Multiplan, junta no programa duas obras de estética e ambientação quase opostas. Tendo estreado no ano 2000, O Corpo tem trilha do ex-Titã Arnaldo Antunes; Parabelo, de 1997, é a festejada união musical do baiano Tom Zé e do paulista José Miguel Wisnik. Ambas voltam ao Rio depois de longa ausência – O Corpo foi visto em 2011 pela última vez e Parabelo, em 20131.

As duas coreografias de Rodrigo Pederneiras, reunidas nesse programa, traduzem a brasilidade urbana e sertaneja, do Sudeste e do Nordeste, do tecnopop vertiginoso e da tradição em artesania.

O Corpo

GRUPO CORPO “O Corpo” Foto: José Luiz Pederneiras

Com o palco às escuras, as vozes filtradas puxam o mote: pé/mão/pé/mão. No fundo, piscam luzes vermelhas como as de um painel eletrônico. Os bailarinos, de malha preta pontuada por amarrações e volumes, mergulham na batida tecno enquanto as palavras (mão/umbigo/braço) vão se tornando mais e mais percussivas, mais som e menos significado. Tambores eletrônicos ressoam, permeados por melodias de várias origens – do funk à música árabe, do baião ao reggae.

Assim começa O Corpo, a primeira criação para a dança do compositor, escritor, poeta e performer Arnaldo Antunes. Ele partiu para uma tradução musical, sonora e semântica do corpo, como organismo e como engrenagem, mecanismo. É o corpo, então, “esse composto de ossos carne sangue órgãos músculos nervos unhas e pelos” que preside a peça de oito movimentos gravada com instrumentos acústicos, elétricos e eletrônicos; ruídos orgânicos como grunhidos, gritos e sangue nas veias fundem-se com guitarras, violões, teclados, baixo, percussão e as vozes de Arnaldo, Saadet Türkoz e Mônica Salmaso.

Neste balé, que celebrou no ano 2000 os 25 anos do Grupo corpo, Rodrigo Pederneiras arquitetou movimentos mais secos e vertiginosos para a companhia. A pulsação ao mesmo tempo tribal e futurista incorpora-se nos movimentos, que vão do fetal, intra-uterino, ao autômato.

O linóleo é vermelho e o cenário virtual, projetado por Paulo Pederneiras, faz a sincronização de luzes vermelhas em diversas saturações, muitas vezes acompanhando a trilha e dialogando com graves e agudos; um quadrado branco delimita, aqui e ali, o espaço cênico.

O Corpo (2000)

Coreografia: Rodrigo Pederneiras

Música: Arnaldo Antunes

Cenografia e iluminação: Paulo Pederneiras

Figurino: Freusa Zechmeister e Fernando Velloso

Banda: guitarras (Edgard Scandurra) / violões (Paulo Tatit e Alê Siqueira) / baixo (Paulo Tatit) / teclados (Zaba Moreau) / percussão (Guilherme Kastrup) / voz (Arnaldo, Saadet Türkoz e Mônica Salmaso)

[duração: 42 minutos]

Classificação indicativa: livre

Parabelo

A palavra é a corruptela de parabélum, pistola automática de procedência alemã, cuja etimologia deriva da máxima latina ‘Si vis pacem, para bellum’ (‘Se queres a paz, prepara-te para a guerra). Em 1997, estreou Parabelo, celebração das cores, aromas e sons dos sertões mineiro e nordestino. A trilha, composta pelo baiano Tom Zé e pelo paulista José Miguel Wisnik, se traduziu, pela criação de Rodrigo Pederneiras, na “mais brasileira e regional” de suas criações – em suas palavras.

O agreste surge da música a quatro mãos, em nove temas. A autoridade e experiência do baiano, aluno de Hans-Joachim Koellreutter, Walter Smetak e Ernst Widmer, com suas invenções (apitos, garrafas, o bochecho, o ruído de bolinhas de soprar, o roçar de cordas, a aspereza do serrote contra um tubo PVC, apitos, garrafas), encontra a urbanidade pop-erudita do paulista. Tom Jobim e Luiz Gonzaga ganham citações, enquanto pontos e contrapontos se sucedem. A base instrumental ficou a cargo da banda de Tom Zé, com piano e teclados de Wisnik, rabeca pernambucana, percussão, sanfona, violões e vozes – as de Luanda (do Trovadores Urbanos), Nilza Maria, Tom Zé, Wisnik, Paulo Tatit; da baiana de Irecê, Gilvanete Silva, e de Ná Ozzetti e Arnaldo Antunes.

A regionalidade e a brasilidade se traduziram, na coreografia de Rodrigo Pederneiras, no uso mais intenso dos quadris, no desmonte das formas, do vai-e-vem do xote e do xaxado, dos movimentos das lavadeiras, no prazer sensorial e também da vivência do sagrado. Essa dualidade é expressa no cenário de Paulo Pederneiras e Fernando Velloso, com ex-votos em dois painéis. Da mesma forma, a luz (de Paulo Pederneiras) vai do mistério azulado da noite à explosão solar do meio-dia no sertão.

Os figurinos de Freusa Zechmeister são malhas de pernas e mangas compridas em variações de vermelho, laranja e amarelo, no início cobertas de tule negro. Em trocas constantes vão do marrom metalizado à vibração das cores sólidas.

Parabelo (1997)

Coreografia: Rodrigo Pederneiras

Música: Tom Zé e José Miguel Wisnik

Cenografia: Fernando Velloso e Paulo Pederneiras

Figurino: Freusa Zechmeister

Iluminação: Paulo Pederneiras

[duração: 42 minutos]

Classificação indicativa: livre

Banda: Gilberto Assis (violão, baixo e baixolão) / Marco Prado (guitarra e violão) / Jarbas Mariz (bandolim) / Lauro Léllis (bateria) / José Miguel Wisnik (piano e teclados) , Siba (rabeca pernambucana), Toninho Ferragutti (sanfona) / Marcos Suzano (percussão) / Paulo Tatit e Alê Siqueira (violões) / Luanda Lemos, Nilza Maria, Tom Zé, Wisnik, Paulo Tatit, Gilvanete Rocha Silva, Ná Ozzetti e Arnaldo Antunes

Conheça mais sobre o grupo aqui!

SERVIÇO
Teatro Multiplan VillageMall (Av. das Américas, 3900 – Barra da Tijuca) De 22 de maio a 02 de junho de 2024 Dias 22, 23, 24, 25 e 26 de maio | 29, 30, 31 de maio e 01, 02 de junho Horários: de quarta a sábado às 20h. Domingo, às 17h
Ingressos: Plateia VIP R$ 280 (inteira) | R$ 140 (meia) Plateia R$ 250 (inteira) | R$ 125 (meia) Plateia Superior Nobre R$ 40 (inteira) |R$ 20 (meia) Frisas R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia) Camarote Inferior R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia) Vendas pela plataforma Sympla Classificação indicativa: livre Duração: 1h44 (com intervalo de 20 min.)

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