Assisti ontem o espetáculo Julius Caesar – Vidas Paralelas, em celebração aos 35 anos da Cia dos Atores. Partindo da obra de William Shakespeare, a companhia encena a montagem de uma montagem do espetáculo homônimo de Shakespeare em meio a um turbilhão de transformações das formas de se fazer e pensar o teatro e das próprias pessoas envolvidas na montagem.
Com dramaturgia e direção de Gustavo Gasparini e com elenco de Cesar Augusto, Isio Ghelman, Gabriel Manita, Gilberto Gawronski, Tiago Herz conduzidos pela baqueta de dentro da cena de Suzana Nascimento, Julius Caesar – Vidas Paralelas tem como matéria uma tarefa das mais complexas, mas realizada com maestria: a celebração do teatro pelo teatro no teatro com o teatro a partir do teatro. E se isto parece simples ou pouco, eu provo o contrário.

A gente que é do mundo do teatro passou muitas décadas pensando em como desconstruir a arte da cena, como esfacelá-la para tirar dela as características mais duras de um realismo ora novelístico, ora cinematográfico ou, até, da massificação do teatro ligeiro ou de shopping. Obviamente, esta desmontagem era feita por gente que ama teatro e queria com isto descobrir cada vez mais novas e potentes formas de manter esta arte em pé.
Eis que, de repente, nos deparamos com um grupo de pessoas que assume o poder e resolve destruir todo o traço de cultura e arte do país, assim como de uma pandemia guardou em suas casas produtores de arte, esvaziando ainda mais as possibilidades de se fazer um teatro em tempos como os nossos. Diante do teatro por zoom ou de ensaios à distância, ou de um teatro que volta ao teatro ou do obscurantismo solapando a cultura, a pergunta que perpassava todos nós era: como fazer? E, veja bem, essa também era uma pergunta para Shakespeare!
Julius Caesar – Vidas Paralelas: a resposta vem de Shakespeare…e do presente
E a Cia dos Atores com Julius Caesar – Vidas Paralelas parece nos dar uma resposta a essa pergunta: estamos diante não apenas de todos os dilemas dos produtores do teatro, uma diretoria que começa a fazer sucesso na novela e, sem tempo, causa inveja no elenco; o ator que se sente menosprezado dentro da companhia por não ter seu talento reconhecido; o ator que sobreviveu a uma doença e sente que recebe papéis por condescendência. Está tudo ali.
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Junto a isso, uma história de Shakespeare que se desloca do próprio tempo e espaço para contar a história da Inglaterra. Estamos diante, então, de um dramaturgo que volta à Roma para contar a história do seu país, enquanto uma companhia se volta para Shakespeare para contar o seu próprio tempo, unindo assim, um passado remoto, um passado, um presente – e o ultrapresente do teatro – sendo atualizado em tempo real ao lado da plateia, a gente, que faz vez de coro.
Sem medo de ser frágil, a Cia dos Atores não tem medo de usar recursos comuns ao teatro contemporâneo como as placas com nomes de atores/personagens ou o recurso da peça dentro da peça, outra homenagem ao Hamlet, de Shakespeare, nem tampouco o aspecto blasé debochado das personagens em cena. Eles entenderam que tudo no teatro é ouro, é festa.
É que tudo isso, agora, não serve mais para desmontar o teatro, mas para remontá-lo. Reconstruir dos destroços de quatro anos de sufoco e uma pandemia sufocante para a arte. Usar o teatro para fazer o próprio teatro falar. Uma experiência ímpar de um teatro que está feliz por existir e por isso é profundo, denso, mas, antes de tudo, faz sorrir.
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FICHA TÉCNICA
“Julius Caesar – Vidas Paralelas”
Dramaturgia e direção: Gustavo Gasparani
Direção de produção: Claudia Marques – Fábrica de Eventos
Elenco: Cesar Augusto, Isio Ghelman, Gabriel Manita, Gilberto Gawronski, Suzana Nascimento e Tiago Herz.
Equipe Artística:
Cenografia: Beli Araújo
Figurinos: Marcelo Olinto
Iluminação: Ana Luzia De Simoni
Projeções e Vídeos: Batman Zavareze
Direção musical: Gabriel Manita
Assistente de direção: Menelick de Carvalho
Comunicação:
Assessoria de Imprensa: Paula Catunda
Redes Sociais: Rafael Teixeira
Captação de conteúdo e clipes para redes sociais: Daniel Barboza
Design Gráfico: Felipe Braga
Fotografia: Nil Caniné