Na década de 80, Vargas Llosa publicou o livro A guerra do fim do mundo, inspirado em Os sertões, de Euclides da Cunha. Este é um dos livros mais importantes de Mario Vargas Llosa, um épico latino-americano em que ele reconta a Guerra de Canudos – conflito que está entre os mais dramáticos da história do Brasil -, com toda a genialidade que o consagrou como um dos grandes autores de língua espanhola da atualidade.
A pesquisa para o livro demandou um esforço concentrado. Impressionado com a leitura de Os sertões, de Euclides da Cunha, Vargas Llosa se embrenhou em arquivos históricos no Rio de Janeiro e em Salvador, viajou pelo sertão da Bahia e de Sergipe e criou um a obra que, hoje, é reconhecida como o seu tour de force.
“Peregrinei por todas as vilas onde, segundo a lenda, o Conselheiro pregou”, escreve ele, “e nelas ouvi os moradores discutindo ardorosamente sobre Canudos, como se os canhões ainda trovejassem no reduto rebelde e o Apocalipse pudesse acontecer a qualquer momento naqueles desertos salpicados de árvores sem folhas, cheias de espinhos”.
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Em A guerra do fim do mundo, o autor dá uma nova dimensão à figura de Antônio Conselheiro, esse homem de túnica roxa e olhos que “flamejavam com um fogo perpétuo”, capaz de levar uma multidão de fiéis até os limites da loucura e, finalmente, à morte. A obra envolveu uma pesquisa profunda, na qual o escritor viajou para o sertão da Bahia e de Sergipe.
Ao Globo, em 2007, Vargas Llosa disse:
E escrevi esta novela porque li “Os Sertões”, que, para mim, é uma das grandes experiências que tive como leitor. Interessou-me tanto a Guerra dos Canudos quanto o caso de Euclides da Cunha. Euclides é um dos intelectuais brasileiros responsáveis pela desinformação que se criou no Brasil em relação ao que estava acontecendo em Canudos, pelos preconceitos ideológicos. Quando estoura a Guerra dos Canudos, Euclides da Cunha escrevia artigos em São Paulo dando uma interpretação ideológica, apresentando os jagunços como sendo da monarquia, como instrumentos dos senhores feudais. Isso tudo é uma ficção ideológica, nada disso é verdadeiro. Mas o preconceito ideológico é tão forte que, inclusive quando Euclides vai para Canudos, o que vê não é o que está acontecendo, mas sim as imagens ideológicas que ele traz. As crônicas que ele escreve em Canudos falam, inclusive, de jagunços louros, de olhos claros, que poderiam ser oficiais ingleses.
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