As 17 melhores frases de Vidadupla, de Sérgio Godinho

Sérgio Godinho é um dos melhores cantores e compositores da música portuguesa. Criador de canções como O Primeiro Dia, Com um Brilhozinho nos Olhos e O Coro da Velhas, Godinho também passeio por outros tipo de arte como as séries televisivas, o teatro e, claro, os contos e os romances. Vidadupla é uma coletânea de pequenas histórias – não sei se ele chama de contos – em que pequenos fragmentos da vida cotidiana são vistos em suas transparências, ou seja, naquilo de imperceptível que toda ação deixa como rastro, como escombro.

Assim, estamos diante, por exemplo, de um sujeito que vê-se ao lado de um atropelamento e é acusado do crime porque lhe criaram um álibi falso; ou de um carrasco, outrora preso inocentemente que se vê tornando-se um assassino por profissão; ou um sujeito que lembra da mulher morta e projeta uma nova vida ao ver uma jovem ruiva, e muito mais. No entanto, o que importa não são exatamente as ações, aquilo que realmente se passa, mas em como a vida, ou a “vidadupla”, está que realmente acontece e esta que passa sem que se perceba dentro de uma subjetividade coletiva, parece se atualizar sempre em diversas camadas, inapreensíveis. Estas vidasduplas, quase sempre, nos escapam. Trata-se de um grande livro de um grande compositor e também grande escritor!

O NotaTerapia separou as 17 melhores frases da obra:

Porquê pintar o mar se a casa dá para o mar?

Tínhamos tido direito a quase uma semana livre, se é que livre se aplica a um momento em que o prisioneiro grita por socorro por ter acabado de fugir.

Eu era uma coisa e seu contrário, nada de incomum.

E nenhum dos dois atendia o telemóvel. Parecia-me que tinham retrocedido à era dos sinais de fumo, ainda antes de terem sido inventados os sinais de fumo.

Um homem só tem de imperfeito aquilo que prefere.

As minhas memórias são as do esquecimento. Há sempre duas formas de esquecimento, o que afunda para sempre e o que flutua escuro em águas escuras, e reaparece como que adaptado às circunstâncias.

Rezei de dores a deus e aos santos, como antes tinha rezado para crescer forte e inquebrável e feliz.

Falta minha comida à liberdade, mas é a liberdade – mesmo pobre e falsa – é a liberdade.

Eu sou ao contrário dos criacionistas, que pensam que tudo teve uma simples origem. Em penso que tudo tem um simples fim. Divino ou não, a nós a escolher.

A ordem dos factores era arbitrária, como em boa parte das finanças não sentimentais. Numa e noutra, ninguém sabe ao certo. Gráficos são artes aproximativas.

Não falava muito mas falava melhor. Eu não sou bem como ele, falo quando é preciso e não é preciso, exagero quase sempre. É complicado.

O ciúme é o dito por não dito, explicou-me, e não explicou nada. Para mim, o ciúme é parte dos estúpidos. Mas parece mal não ter, acham que é não amar.

Como boa carta anônima, tinha a assinatura de ninguém e de toda a gente. Mas também, como boa carta anônima, deixava pistas para todo lado.

Faltavam-me as várias luzes, faroleiro se sai ao caminho em dias de folga, deixa os parcos onde estão.

Que é isso, o futuro, se não se consegue explicar sequer o passado, e mais, justificá-lo?

A osmose é a forma menos translúcida das ubiquidades.

Domingo é a semana seguinte a desfazer-se da antiga.

Editora Quetzal, 2014

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