Há uma crescente demanda por inclusão e diversidade nas personagens da Disney, especialmente no que diz respeito à princesas. Elsa de Arendelle, a icônica protagonista de “Frozen”, surge como uma candidata ideal para, em algum momento nos já anunciados filmes Frozen III e IV, se tornar a primeira princesa não apenas aro0ace, mas também LGBTQIA+, da Disney, oferecendo uma oportunidade única para explorar identidades fora do espectro romântico e sexual convencional através de uma personagem que já está perfeitamente codificada como representante de experiências comuns à arromanticidade e assexualidade. Mas por que Elsa deve ser arromântica e assexual, e não lésbica?
O que é asexualidade e aromanticidade?
A assexualidade e a arromanticidade são orientações caracterizadas pela falta de atração sexual e romântica por qualquer gênero. Estas identidades fazem parte do espectro LGBTQIA+ e oferecem uma perspectiva única sobre a diversidade das experiências humanas no que diz respeito ao amor e à sexualidade.
A assexualidade caracteriza-se por pouco ou nenhum interesse em vivenciar práticas sexuais. Uma pessoa assexual pode não sentir atração sexual por outras pessoas, independentemente do gênero. No entanto, é importante notar que a assexualidade não impede necessariamente o envolvimento em relacionamentos afetivos. Algumas pessoas assexuais podem sentir atração romântica e desejar estabelecer conexões emocionais profundas, mesmo que o sexo não seja um componente fundamental da relação.
Por outro lado, a arromanticidade refere-se a indivíduos que têm pouco ou nenhum interesse romântico por alguém. Uma pessoa arromântica pode não experimentar atração romântica ou ter pouco desejo de se conectar romanticamente com outras pessoas. No entanto, isso não significa que pessoas arromânticas não possam formar laços profundos ou sentir outros tipos de atração, como a atração estética, sensorial ou sexual.
É crucial entender que tanto a assexualidade quanto a arromanticidade existem num espectro. Algumas pessoas podem identificar-se como assexuais e arromânticas simultaneamente, não desejando nem o sexo nem a construção de uma relação romântica. Outras podem situar-se em diferentes pontos destes espectros, experimentando níveis variados de atração sexual ou romântica. Além disso, é fundamental compreender que a orientação romântica e a orientação sexual são distintas, embora possam estar alinhadas em muitos casos. Uma pessoa pode, por exemplo, identificar-se como heterorromântica assexual, sentindo atração romântica por pessoas do sexo oposto, mas sem desejo sexual. Da mesma forma, alguém pode ser alossexual (pessoa que tem desejos sexuais) e arromântico, desejando interações sexuais sem o componente romântico.
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O problema da falta de representação aro-ace
A falta de representação arromântica e assexual (aro/ace) na mídia tem um impacto significativo na visibilidade e compreensão dessas identidades. Enquanto se observa uma mudança positiva, ainda que lenta, na representação de outros grupos LGBTQIA+, a comunidade aro-ace continua a ser largamente ignorada ou mal representada. Para as pessoas arromânticas e/ou assexuais, é comum não haver representação alguma das suas vivências na ficção. Quando existe, frequentemente não valida a existência arromântica ou assexual e até a desumaniza. Isto contribui para a perpetuação de estereótipos e entendimentos ultrapassados das relações humanas.
A assexualidade e a arromanticidade são pouco compreendidas pela sociedade em geral, pois podem ir contra muitas das concepções tradicionais da experiência humana, como a centralização do desejo de apaixonar-se, ter relações sexuais, formar um núcleo familiar e ter filhos como ideal último de humanidade. Esta falta de compreensão dificulta a auto-identificação das pessoas aro/ace, que muitas vezes consideram antes explicações negativas para as suas vivências, como transtornos sexuais ou desregulação hormonal. As poucas representações aro/ace na ficção tendem a contribuir ainda mais para a falta de compreensão dessas identidades. Diversos personagens são retratados como não-humanos, frios e impessoais, pintando a assexualidade e arromanticidade como “a incapacidade de amar e sentir”. Por vezes, a falta de interesse romântico ou sexual de um personagem é atribuída ao estereótipo de “não ter encontrado a pessoa certa”, servindo como um obstáculo a ser superado.
O mais recente relatório da GLAAD sobre a representação na televisão constatou que, com o cancelamento de séries como “Shadowhunters” e a finalização de “BoJack Horseman”, atualmente não existem séries com representação assexual em papéis de destaque. Esta falta de representação tem consequências reais. Ao não se verem refletidas em nenhum lugar, pessoas aro/ace tendem a ter dificuldade em se entender e desenvolver uma visão compreensiva e positiva sobre a forma como experimentam – ou não – o amor e a atração sexual. Além disso, a exacerbação do amor romântico nos média tem um impacto direto no estado psicológico e emocional das pessoas arromânticas e/ou assexuais, fazendo-as sentirem-se excluídas e não-humanas.
Amatonormatividade: por que todos acham que a Elsa é lésbica?
A amatonormatividade é um conceito que descreve a crença generalizada de que todos devem aspirar a relacionamentos românticos e sexuais como parte fundamental da experiência humana. Esta noção, irmã da heteronormatividade – a ideia do heterossexual como o “normal” -, tem um impacto significativo na forma como a sociedade percebe e interpreta as relações interpessoais, muitas vezes apagando ou marginalizando as experiências das pessoas assexuais e arromânticas.
No caso de Elsa, a protagonista de “Frozen”, a amatonormatividade tem um papel crucial na forma como o público interpreta a sua personagem. Apesar de não haver qualquer indicação explícita ou implícita, em momento algum, de que Elsa pode se interessar por mulheres – de fato, fora sua irmã, só vimos Elsa ter interações mais ou menos significativas com uma única mulher, Honeymaren, e essas foram rápidas e sem qualquer particularidade romântica, perfeitamente comparáveis aquelas que ela tem com seu cunhado Kristoff -, muitos espectadores assumem que ela deve ser gay simplesmente porque não demonstra interesse romântico por homens.
Esta suposição é um exemplo claro de como a amatonormatividade funciona. A sociedade está tão condicionada a esperar que todos tenham algum tipo de atração romântica ou sexual que, quando uma personagem não se encaixa no molde heteronormativo tradicional, a conclusão imediata é que ela deve interessar-se pelo sexo oposto – afinal de contas, ela deve se interessar por alguém, certo?
No entanto, esta interpretação ignora completamente a possibilidade de Elsa ser assexual ou arromântica. A ausência de interesse romântico ou sexual por homens não implica necessariamente interesse em mulheres: Pode simplesmente significar que a personagem não experimenta esses tipos de atração.
A tendência de assumir que Elsa é gay porque ela não demonstra interesse romântico por homens é problemática por várias razões. Primeiro, reforça a ideia de que todos devem ter algum tipo de orientação sexual baseada na atração. Segundo, apaga a existência e a validade das identidades no aspecto da assexualidade e da arromanticidade. Terceiro, perpetua estereótipos sobre como as pessoas LGBTQIA+ devem se comportar ou aparecer. E quarto, ignora completamente a maneira como a Disney codificou Elsa como uma personagem assexual, de maneira similar a forma como outros personagens de suas animações – frequentemente vilões, como Úrusula, Scar e Jaffar – foram, ao longo das décadas, codificados como gays ou trans.
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Rainha do Gelo: Fria, insensível, sem coração… frígida?
O arquétipo da “Rainha do Gelo” tem sido frequentemente retratado na ficção como uma personagem fria, insensível e sem coração. Estas mesmas características são muitas vezes associadas a pessoas arromânticas e assexuais, perpetuando o equívoco de que a falta de interesse romântico ou sexual indica frieza emocional. As lutas de Elsa com a percepção que os outros e ela própria têm de si espelham a experiência de pessoas aro-ace na vida real. Sua busca por compreender e expressar as suas emoções é evidente na forma como ela interage com os outros. Esta complexidade emocional funciona perfeitamente para a quebra do arquétipo da Rainha do Gelo, mas também serve como metáfora para as dificuldades de pessoas desafia o estereótipo de que pessoas no espectro da arromanticidade e da assexualidade são incapazes de sentir ou expressar emoções profundas.
A percepção de Elsa como “fria” e “insensível” espelha os preconceitos que muitas pessoas aro-ace enfrentam na sociedade. Assim como Elsa é mal interpretada devido aos seus poderes de gelo, pessoas aro-ace são frequentemente mal compreendidas devido à sua falta de atração romântica ou sexual. Esta má interpretação pode levar a sentimentos de isolamento e auto-aversão, temas que são centrais na jornada de Elsa. A sua jornada de auto-aceitação e a descoberta de que os seus poderes não a tornam uma pessoa má refletem a luta de muitas pessoas aro-ace para aceitar e celebrar as suas identidades numa sociedade que muitas vezes as vê como “frias” ou “sem coração”. Reclamar a imagem do frio e de uma rainha do gelo como um ícone assexual e arromântico seria de extrema importância para uma comunidade que com tanta frequência é confrontada com esses estereótipos.
Elsa, aversão ao toque e visão racional do amor
No primeiro filme, Elsa apresenta características que ressoam com experiências comuns e quase estereotípicas entre pessoas assexuais e arromânticas. A sua magia de gelo, que a leva a evitar o toque de outras pessoas, é similar a repulsa ao toque que é frequentemente observada em indivíduos assexuais. A repulsa ao toque é uma sensação de desconforto ou aversão ao contato físico, que pode variar em intensidade e contexto. No caso de Elsa, o seu poder de gelo atua como uma barreira física, impedindo-a de estabelecer contacto próximo com os outros. Esta representação visual pode ser interpretada como uma analogia à experiência de muitas pessoas assexuais que se sentem desconfortáveis com intimidade física.
Além disso, Elsa demonstra uma abordagem lógica e pragmática em relação ao amor, que é particularmente evidente na sua reação ao repentino envolvimento romântico da sua irmã Anna. A sua incapacidade de compreender como alguém pode apaixonar-se por uma pessoa que acabou de conhecer reflete uma perspectiva comum entre pessoas arromânticas, que não experienciam atração romântica, e frequentemente observam o amor romântico de um ponto de vista externo, sem envolvimento ou experiência e portanto, com frequência, com verdadeira dificuldade de entendimento. A abordagem de Elsa ao amor romântico espelha esta perspectiva, focando-se mais na lógica e no pragmatismo do que na emoção.
Esta representação de Elsa oferece uma oportunidade única para explorar e validar experiências aroace no contexto de uma personagem popular da Disney. Ao retratar uma protagonista que demonstra características associadas à assexualidade e à arromanticidade, “Frozen” abre caminho para uma maior visibilidade e compreensão destas identidades frequentemente mal representadas na mídia, além de já codificarem Elsa como uma potencial personagem aro-ace.
Diferentes tipos de amor: uma história sobre laços não românticos
“Frozen” apresenta uma narrativa refrescante que se afasta das histórias de amor romântico tradicionais. O filme explora principalmente o amor próprio e o amor entre as irmãs Elsa e Anna, demonstrando que o amor verdadeiro pode manifestar-se de diversas formas. Elsa destaca-se como uma princesa Disney única, não sendo definida por nenhum relacionamento romântico. Em vez disso, a sua jornada centra-se na compreensão dos seus poderes e na liderança do seu reino. O seu vínculo fraternal é o centro emocional da história, demonstrando que o amor familiar pode ser tão poderoso e transformador quanto qualquer romance.
Ao focar-se nestas formas de amor não romântico, “Frozen” oferece uma perspectiva mais inclusiva e diversificada sobre o que significa amar e ser amado. Esta abordagem ressoa particularmente com indivíduos que se identificam como assexuais ou arromânticos, validando as suas experiências e demonstrando que relações significativas e satisfatórias não dependem necessariamente do amor romântico ou sexual.
Fria e má?
A jornada de Elsa em “Frozen” oferece uma poderosa metáfora para as experiências de pessoas arromânticas e assexuais (aro-ace) na sociedade. Inicialmente, todos acreditam que Elsa é uma vilã – incluindo ela própria – devido aos seus poderes de gelo. Esta percepção espelha os preconceitos que muitas pessoas aro-ace enfrentam devido à sua falta de interesse romântico ou sexual. À medida que a história evolui, Elsa começa a perceber que ser quem ela é não a torna uma pessoa má, mas sim que são os outros que não a compreendem. Esta realização de Elsa pode ser vista como uma analogia à experiência de pessoas aro-ace que enfrentam preconceitos e auto-aversão devido à sua falta de interesse romântico e, assim como Elsa, aprendem a aceitar suas identidades e compreendem que a falta de interesse romântico não indica incapacidade de amar.
A jornada de Elsa para aceitar os seus poderes e a si mesma demonstra que ser diferente – e, especificamente em seu caso, que ser “frio” – não é sinónimo de ser mau. A forma como ela abraça seus poderes de gelo e aprende a percebê-los como uma parte dela é uma maneira interessante de reclamar a percebida “frieza” imputada aos assexuais e arromânticos como algo que não deve ser percebido como algo negativo. Esta narrativa oferece uma representação positiva e validação para pessoas aro-ace, mostrando que a falta de interesse romântico ou sexual não diminui o valor, a bondade ou a capacidade de amar de uma pessoa.
Isolamento, solidão e frio
A jornada de Elsa em “Frozen” reflete profundamente as experiências de isolamento e solidão que muitas pessoas arromânticas e assexuais (aro-ace) enfrentam na sociedade. Desde jovem, Elsa foi isolada e mantida em reclusão pelos seus pais, confinada no seu quarto até que aprendesse a controlar os seus poderes. Mais tarde, ao ser descoberta em sua coroação, Elsa se isola em uma montanha, convencida de que viver inteiramente sozinha é sua única esperança de liberdade.
A experiência de Elsa espelha a de muitas pessoas aro-ace que acreditam que a sua falta de interesse em sexo, romance, ou ambos, significa que terão de viver as suas vidas isoladas e solitárias. O medo de Elsa de magoar os outros com os seus poderes pode ser visto como uma metáfora para o medo que muitas pessoas aro-ace têm de não conseguirem corresponder às expectativas sociais relacionadas com o amor romântico e sexual.
No entanto, a jornada de Elsa também oferece esperança. Ao longo do filme, ela aprende que os seus poderes de gelo não têm de significar isolamento perpétuo. O arco narrativo de Elsa de perceber que tem família e amigos que a amam pelo que ela é espelha o caminho de muitas pessoas aro-ace que descobrem que, apesar de não desejarem romance ou sexo, não têm de estar sozinhas. Esta narrativa oferece uma poderosa mensagem de esperança e aceitação para a comunidade aro-ace, mostrando que existem muitas formas de amor e conexão além do amor romântico tradicional.
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“The cold never bothered me anyway”
O arco de Elsa através dos filmes “Frozen” é uma história sobre aprender a amar-se a si própria, ser independente e encontrar liberdade das imposições sociais e do ódio a si mesma. Mais uma vez utilizando o frio como uma metáfora para a falta de interesse romântico e sexual, as músicas, falas e atitudes de Elsa ao longo de ambos os filmes servem como uma excelente maneira de representar a ideia de que a falta de um relacionamento romântico ou sexual não é um problema para aqueles que se identificam com a assexualidade e a arromanticidade, e sequer sentem esse tipo de atração.
Uma identidade queer fácil de incluir
A assexualidade e a arromanticidade são identidades queer menos “explícitas” do que outras, pois envolvem a ausência de sexualidade. Isto significa que são ideais para a Disney iniciar a sua jornada de representação na franquia das princesas Disney. As acusações de “sexualização das princesas Disney” ou de forçar romances LGBTQIA+ em filmes infantis – normalmente feitas por parte de audiências mais conservadoras, mas que ainda tem muito peso, sobretudo financeiro, nas decisões da companhia – seriam anuladas por uma identidade que, virtualmente, é a inexistência de qualquer tipo de interesse romântico ou sexual.
Elsa é um exemplo perfeito de uma personagem que pode ser facilmente interpretada como aroace. A sua falta de interesse romântico ao longo dos filmes não requer explicação ou elaboração complexa. Não há necessidade de incluir um parceiro romântico ou mostrar Elsa fazendo ou vivendo algo em particular para estabelecer a sua identidade aroace – algo que não é verdade para a maior parte das outras identidades LGBT+, que provavelmente se beneficiariam da criação de um par romântico do mesmo gênero, e por consequência de uma história completa ligada a esse romance, por exemplo.
A história da franquia nos próximos filmes pode permanecer inalterada, e não há a menor necessidade de incluir uma linha narrativa inteira sobre isso, tendo em vista que a jornada de Elsa como um todo já serve como uma grande metáfora. Uma fala seria suficiente para transformar Elsa em uma personagem aro-ace de maneira canônica e sem a menor dificuldade para a produção.
Esta abordagem torna a representação aroace mais fácil de implementar e relativamente discreta. A Disney pode criar uma personagem canonicamente aroace sem ter de construir uma história inteira em torno dessa identidade. Isto permite que a empresa dê passos em direção a uma franquia de princesas Disney mais progressista de forma gradual e cuidadosa, abrindo um precedente que certamente beneficiaria imensamente o progresso da representatividade LGBTQIA+ dentro da Disney no futuro próximo como um todo, sem, contudo, se jogar de cabeça naquilo que todos sabem que a empresa ainda não está preparada para fazer por completo.
O impacto da amatonormatividade na vida real
A amatonormatividade tem consequências no mundo real e também nas representações ficcionais. A ideia de que todos estão em busca de um relacionamento romântico acaba tendo consequência secundárias, normalmente advindas da interpretação de todo e qualquer tipo de afeto como necessariamente romântico ou sexual. Isso implica na manutenção de diversas estruturas e percepções rígidas que não beneficiam a ninguém.
Um exemplo clássico disso está na forma como homens heterossexuais são afetados pelo problema: diversos estudos – e observação empírica – sugerem que homens tem menos tendência a demonstrar abertamente afeição por seus amigos e parentes homens exatamente pelo medo de serem percebidos como gays. Homofobia à parte, isso por si só indica que há uma imensa dificuldade em conceber a ideia de afeição não-sexual entre pessoas. A sexualização do afeto de maneira geral prejudica e fetichisa relacionamentos platônicos, criando barreiras sobretudo entre amigos do sexo masculino e também entre amizades entre homens e mulheres – que muitos ainda percebem como invariavelmente sexuais, gerando dinâmicas possessivas e tóxicas dentro de relacionamentos na medida em que cria-se uma compreensão de que pessoas comprometidas devem abrir mão de todas as amizades com o sexo oposto, por mais importantes e inocentes que essas sejam.
A interpretação de toda interação entre dois personagens, sejam eles do sexo oposto ou do mesmo, como potencialmente romântica ou sexual é um problema reconhecido na cultura de fandom, que com frequência cria teoria extremas sobre personagens com base em migalhas de interação. A presença de mais personagens assexuais e arromanticos na mídia é uma excelente maneira de diminuir esse tipo de comportamento, e a normalização da ideia de relacionamentos platônicos permanecerem platônicos – mesmo que nenhum dos envolvidos esteja no espectro da assexualidade ou arromanticidade – é fundamental para a criação de um ambiente mais saudável para relacionamentos afetivos platônicos diversos no mundo real.
A importância de uma Elsa aro-ace
A representação de Elsa como uma personagem potencialmente aroace em “Frozen” tem um impacto significativo na visibilidade e compreensão dessas identidades frequentemente marginalizadas. A jornada de Elsa para aceitar os seus poderes e a si mesma espelha as experiências de muitas pessoas aroace, oferecendo uma narrativa poderosa sobre auto-aceitação e a importância de diferentes formas de amor além do romântico.
Ao apresentar uma princesa Disney que não é definida por um relacionamento romântico, “Frozen” abre caminho para uma representação mais diversa e inclusiva em mídias infantis. Ao mesmo tempo, ao tornar canônica a identidade aro-ace de Elsa, a companhia passaria uma excelente mensagem de combate à preconceitos, validação de experiências e promoção de autoaceitação. Afinal, a história de Elsa desafia os estereótipos associados à “frieza”, mostrando que ser diferente não diminui o valor ou a capacidade de amar de uma pessoa.
A jornada de Elsa ressoa com a comunidade aroace, validando suas experiências e demonstrando que relações significativas e satisfatórias não dependem necessariamente do amor romântico ou sexual, e a mensagem de “Frozen” sobre amor próprio, independência e liberdade das imposições sociais oferece uma lição valiosa para todos, independentemente da sua orientação romântica ou sexual. A representação positiva e a aceitação de identidades queer, incluindo aroace, têm um impacto significativo na saúde mental de jovens e adultos LGBTQ+.
A representação de Elsa como aroace tem o potencial de impactar positivamente a vida de muitas pessoas, especialmente jovens queer que raramente se veem representados na mídia mainstream. Ao ver uma personagem poderosa e amada como Elsa potencialmente representando suas identidades, pessoas aroace podem sentir-se validadas e empoderadas para abraçar quem são. Isso, por si só, já é motivo para tornar a personagem canonicamente assexual e arromântica.
Acima de tudo, porém, Elsa deve ser uma personagem aro-ace pois ela já foi codificada dessa maneira, intencionalmente ou não. A jornada de Elsa para aceitar os seus poderes e a si mesma, sua existência como rainha do gelo, os tipos de desafios e preconceitos que ela encontra, e mesmo seus símbolos e temas, espelhamm as experiências de muitas pessoas aroace, oferecendo uma narrativa poderosa sobre auto-aceitação e a importância de diferentes formas de amor além do romântico.
Mantê-la ambígua, apesar de uma oportunidade vergonhosamente abandonada de dar visibilidade à identidades tão pouco compreendidas, é compreensível. Negar uma representação tão óbvia fazendo dela qualquer outra coisa, porém, seria, nesse ponto, um ato deliberado de exclusão. Assim, esperemos que os já anunciados Frozen III e IV sigam no caminho que construíram – e, quem sabe, deem ao público sua primeira princesa da Disney LGBTQIA+, e um dos maiores exemplos de representatividade canônica da assexualidade e do arromanticismo já vistas na mídia.