Em Nosso corpo estranho, apesar de ser agora comparado a grandes nomes como Leonilson, Banksy, Cildo Meireles e Marina Abramović, João Pedro Bennetti Bier foi ignorado pela crítica e pelo circuito de galerias do país natal, o que torna o registro de sua exposição retrospectiva um ato de reparação.
Nascido em 1960, o protagonista mudou-se de Porto Alegre para o Rio de Janeiro e depois para Nova York, onde iniciou a carreira artística. Teve contato com ícones da pop art, como Andy Warhol, e esbaldou-se na cena noturna da badalada Big Apple. Como tantos outros de sua geração, viu paixões se transformarem pelo medo do HIV. Contemporâneo de Basquiat, realizou performances, colagens, instalações e pinturas, vivendo tendências como grafitti e body art, mas não teve reconhecimento.
Reginaldo Pujol Filho, autor de Não, não é bem isso (Não Editora, 2019) e Só faltou o título (Record, 2015), recorre à paródia, recurso literário que ele renova a cada novo lançamento, para que o leitor de Nosso corpo estranho tenha acesso aos textos de parede da mostra, como se caminhássemos por entre as obras. Mas quais delas? Sem imagens que lhes dê materialidade, somos convidados a exercitar a imaginação, deixar-nos levar pelas palavras do escritor que, ao assumir a curadoria, transforma-se em personagem de sua invenção.
“Reginaldo Pujol Filho é um dos mais imaginativos escritores da literatura contemporânea brasileira. […] O principal procedimento de suas narrativas: a paródia. Não de textos específicos, mas de um gênero textual ou de um estilo — expediente que torna seus textos, além de engenhosos, engraçados.” — Veronica Stigger
O curador-escritor do romance se apropria da gramática da crítica de arte, distinguindo três fases de João Pedro, ou “nosso JayPee” — visceral, crítica e trágica. Com humor, sarcasmo e muito domínio da linguagem, Pujol Filho que, além de autor, é tradutor, professor, doutor em Letras e Escrita Criativa pela PUC-RS e curador da coleção Gira de literaturas em língua portuguesa da Dublinense, descreve o arco da inocência à desilusão, a descoberta e a intoxicação com as engrenagens do meio artístico pelo qual passou o artista. E, como leitores, passamos pelo mesmo processo ao recebermos as pistas de que tudo não passa de engodo.
Para além da relação com o mundo da arte, esta narrativa também trágica nos leva a pensar nos limites da ficção e em seus mecanismos. Do que é capaz a linguagem? O que é apenas verossímil e, mais profundo, o que é a realidade?
Ficha Técnica
Título: Nosso corpo estranho
Autor: Reginaldo Pujol Filho
Capa: Laura Lotufo
Formato: 13,5 x 20 cm
Número de páginas: 120 pp
ISBN: 978-65-6000-048-3
ISBN e-book: 978-65-6000-049-0
Preço: R$ 69,90 (e-book: R$ 48,90)
Data de livraria: 13/09/24
Editora: Fósforo
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