Os Inklings eram um grupo informal de discussão literária ligado a alunos e professores da Magdalen College, da Universidade de Oxford. O grupo reuniu-se entre os anos 30 e 50, tendo como seus dois maiores membros os escritores J. R.R. Tolkien e C. S. Lewis. As reuniões aconteciam às terças-feiras nas dependências de Lewis na faculdade, com o intuito de discorrer sobre o papel da narrativa fantástica e, posteriormente, ler seus manuscritos em voz alta. Outras reuniões aconteciam no pub The Eagle and The Child, também conhecido como The Bird and The Baby, entretanto, essas consistiam apenas na discussão literária e os membros não se aventuravam com a leitura de suas histórias nele. Entre as primeiras obras lidas entre os Inklings, constam-se O senhor dos anéis, de Tolkien, Além do planeta silencioso, de Lewis, e All Hallow’s Eve, de Charles Williams, todas publicadas e relevantes para a literatura britânica.
Tendo em vista o cenário social da época, o grupo era estritamente composto por homens. Dorothy L. Sayers, renomada autora de literatura policial e cristã, apesar de ser amiga de Lewis e Williams, nunca frequentou as reuniões dos Inklings. Outro fator do grupo era a cristandade, tema abordado frequentemente tanto nas produções quanto nas discussões, mesmo que não se mostrava critério para ser um membro. Antroposofistas, ocultistas e simpatizantes de outras instituições religiosas também faziam parte das reuniões.
Além dos livros de O senhor dos anéis e As crônicas de Nárnia, essa lista apresenta outros títulos de autores dos Inklings para conhecer e desvendar um pouco mais sobre a natureza de escritores que foram direta e indiretamente influenciados pelos encontros em Oxford.
1 – A trilogia cósmica de C. S. Lewis

Profundamente influenciado pelo cristianismo, a trilogia cósmica (ou espacial) de Lewis começou a ser escrita em 1938 e seu primeiro volume Além do planeta silencioso foi lido e discutido entre os Inklings. O protagonista é um filólogo chamado Ransom, personagem que faz uma alegoria a Tolkien, grande amigo do autor. Ransom é sequestrado por dois cientistas e levado ao espaço, para um planeta chamado Perelandra, onde descobre que a Terra é um planeta isolado do sistema solar. Suas sequências são Perelandra e Aquela fortaleza medonha. A trilogia é uma análise do universo sob os preceitos cristãos e utiliza-se em abundância alegorias para elucidá-los.
E eu também digo isso, não acredito que a floresta seria tão brilhante, nem a água tão calorosa, nem o amor tão doce, se não existisse nenhum perigo nos lagos.
2 – Árvore e folha, de J. R. R. Tolkien

O livreto conta com “Sobre histórias de fadas” e “Folha, de Migalha”, o primeiro sendo um ensaio do autor sobre as histórias de fadas, para se divergir dos chamados “contos de fadas”. Esses últimos seriam narrativas sobre seres sobrenaturais como as fadas, quando as “histórias de fadas” narrariam as relações entre essas entidades e os humanos. As histórias de fadas, portanto, evidenciariam a racionalidade do mundo dos mortais num outro contexto, conceito essencial para a construção da ética humana. Já o conto “Folha, de Migalha” é sobre Migalha, um pintor morador de uma cidade onde ninguém aprecia arte e teme que seu trabalho nunca será valorizado.
A associação entre crianças e histórias de fada é um acidente da nossa história nacional. Histórias de fada foram relegadas, no mundo letrado moderno, ao “berçário”, como mobília velha e obsoleta é relegada ao quarto de brinquedos, primariamente porque os adultos não a querem, e não ligam se fizerem mal uso dela.
J. R. R. Tolkien em “Sobre histórias de fada”
3 – Dicção poética: um estudo do significado, de Owen Barfield

O livro publicado em 1928 se inicia perguntando porque chamamos um agrupado de palavras “poesia” e porque estas despertam uma “imaginação estética” e produzem prazer em um leitor receptivo. Barfield explora em seu livro os interesses fundamentais para o entendimento da poesia, como a natureza da metáfora, a diferenças entre prosa e verso e a essência do significado.
4 – Salvar as aparências: um estudo sobre idolatria, de Owen Barfield

Barfield examina a relação do homem com a natureza e a evolução da sua consciência num livro denso que pega emprestado pedaços da história, da literatura, filosofia, teologia e ciência. Considerando sua vastidão, é um livro extremamente conciso, possuindo apenas 200 páginas e tido como um dos 100 melhores livros espirituais do século XX, assim como As crônicas de Nárnia.
5 – A descida da pomba, de Charles Williams
Conhecido como “o terceiro Inkling”, Williams se apropria do simbolismo cristão para contar a história de como os seres humanos se perdem em suas projeções narcisistas de um modo que nenhum consegue ser capaz de amar e se envolver profundamente com alguém. A história acontece durante uma peça realizada pelos moradores de uma cidade nos arredores de Londres. Essa se localiza num nó do tempo, fazendo com que personagens do passado reapareçam, e numa porta para além, onde todos são convocados para o Céu ou para o Inferno.
Amor era ainda mais matemático do que poesia. Era a matemática pura do espírito.
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