O Oscar de 2016 é, em muitos aspectos, uma surpresa. Se parece estar um nível abaixo de outros anos por não ter um grande filme na lista, no entanto apresenta algumas surpresas interessantes que não podem passar despercebidas. Como amante do cinema, não poderia deixar de assistir aos filmes. Por isso, classifiquei os candidatos a Melhor Filme de 2016 na ordem, do melhor para o pior, explicando um pouco dos motivos que me levaram a esse breve parecer. Confira:
1- A Grande Aposta, de Adam McKay
Dentre os oito filmes indicados o meu preferido foi A Grande Aposta. E eu explico o porquê: quando penso no filme, parto do pressuposto de que, diante das questões do nosso tempo, creio ser aquele que mais faz um exercício tanto na composição estética, na formação do roteiro e na aceleração dos diálogos e das imagens, quanto na própria temática do filme, a historinha que perpassa por nossos olhos no decorrer da película.
Apesar da temática um tanto quanto obscura – homens prevendo a bolha de Wall Street, o que se destaca na direção de McKay é o uso da temática da bolsa de valores para compor esteticamente sua obra. O movimento acelerado dos diálogos, das ações, da montagem do filme, quase em um caleidoscópio entre a ficção e um pastiche de documentário da Bloomberg, alteram seguidamente a percepção do espectador que se vê submetido a uma mecânica do impossível.
A Grande Aposta, por isso, é para mim a grande aposta para o Oscar 2016. Creio ser o principal filme merecedor da estatueta na medida em que sabe absorver sua época e devolve-la com a mesma brutalidade que ela nos toca.
Leia minha crítica completa:
http://literatortura.com/2016/02/critica-a-grande-aposta-ou-a-velocidade-estetica-do-dinheiro/
2- O Regresso, Alejandro González Iñárritu
O Regresso é o pior filme de Iñarritu e, depois de Birdman – o melhor filme dos últimos anos – isto era esperado. No entanto, é uma obra que já nasce clássica. A qualidade de execução, a crueza na abordagem do tema, o uso da câmera como um personagem-voyer, como alguém que espia as entranhas e os detalhes da cena, fazem do filme um primor de expectação. Isto porque o filme não passa disso: a história de vingança se torna irrelevante, a sobrevivência por um fio por tempo demais perde a dimensão de “por um fio”, o clima frio e silencioso não permite que a natureza fale com DiCaprio que só consegue interagir quando há violência. Assim, O Regresso habita entre a brutalidade e o silêncio e nós somos cúmplices dessa via crucis que se perde na missão – embora ela lá esteja.
Apesar disso, trata-se de um filme que se impõe perante aos outros, tanto na qualidade quanto na capacidade de inventar formas de se fazer cinema. Iñarritu pode vir a se firmar com um dos grandes do cinema, desde que, ano que vem, não tente ser grande como fez em O Regresso.
3- O Quarto de Jack, de Lenny Abrahamson
O Quarto de Jack é o melhor filme de se assistir, embora não seja o melhor cinema. É impossível não estar diante da tela sem respirar em diversos momentos, como se coração quisesse pular na tentativa de ajudar a mãe e o menino em sua aventura, ou saga, ao redor de um quarto. A experiência cinematográfica é intensa, a violência velada, a brutalidade tratada como algo comum e a esperança como agente capaz de manter uma chama acesa, fazem do filme uma grande força da natureza.
Por ser narrado pela visão do menino Jack, as descobertas que ele faz em seu mundo, como se fosse uma espécie de Kaspar Hauser (filme de Werner Herzog) do século XXI, sem entender de dimensões, tamanhos, palavras, afetos, fazem do nosso lugar como cinéfilos um espaço também de infância: reaprendemos a pensar e a criar, observando Jack e seus pensamentos.
Se fosse destacar algo que não gosto do filme são os pequenos excessos que pesam a mão no roteiro. Em certo momento, a sequência de tragédias impede que uma desesperança, muito mais poética, possa sair das entrelinhas. Se fosse destacar algo que gosto seria a excelente escolha na abordagem, evitando se prolongar por muitas arestas que são felizmente podadas.
O Quarto de Jack é, talvez, o filme que eu mais vá indicar por aí, por toda sua força, muito embora não esteja para mim como o melhor filme.
4- Spotlight: Segredos revelados, de Tom McCarthy
Spotlight é um filme de excelentes escolhas. Trata do tema de pedofilia na igreja católica com lucidez, cuidado, inventividade e imaginação. Ao abordar a visão de jornalistas em busca de suas notícias e tendo de encarar as dissimulações da igreja, o filme acerta por escolher um lado e saber se manter frente a ele até o fim. Um risco óbvio seria, para dar ênfase ou para fazer um sensacionalismo, explorar tudo que gira em torno do tema como histórias pessoais, dramas familiares ou narrativas com descrições minuciosas. Não que elas não estejam lá, mas estão como caráter jornalístico. Podese dizer que, se fosse descrever o filme, seria como uma obra sobre a investigação de um jornal.
O problema do filme, no entanto, está na crença infinita no jornalismo como algo dignificante, engrandecedor e fora das corrupções. E esta crença se mantém do início ao fim. A todo momento, havia uma ponta que me dizia que alguém trairia o grupo ou se desviaria em benefício próprio. Entretanto, o filme segue firme em suas escolhas e termina porque seu tema se esgota. No fim, o que se vê é um desvanecimento da película sem que ela termine. Spotlight é excelente, mas míngua justamente por conta de suas boas escolhas.
5- Ponte dos Espiões, de Steven Spielberg
Nunca fui fã de Spielberg e sempre achei seus filmes um bocado chatos e repetitivos. Tentando ser clássico, ele só consegue ser sentimental e quando tenta ser sentimental, acaba por ser raso demais. São sucessivos os filmes do diretor que mantém uma grande esperança na humanidade em que boas pessoas salvam o mundo ou são salvas por ele. Em geral, existem maus anônimos, ou maus humanos como máquinas e seres humanizados em suas mazelas. No fim, uma pequena tristeza pra “humanizar” a esperança.
Ponte dos Espiões é exatamente isso. Mas na média é mais interessante que filmes anteriores como Cavalo de Guerra (2011) ou o chatíssimo Lincoln. Tom Hanks se sai muitíssimo bem em seu personagem Donavan e a história que se passa na Guerra Fria consegue nos manter atentos a tela durante duas horas. Ademais, é aquilo de sempre: homens que conseguem se juntar e ter esperanças em dias melhores porque são bons e dignos, não importa em que lado da política estejam. O filme chega até agradar em sua montagem nos primeiros momentos, com uma edição rápida e que suspende a narrativa enquanto apresentar os personagens, mas isto dura pouco, bem pouco.
Spielberg é um cineasta de ontem e alguém precisa dizer.
6- Perdido em Marte, de Ridley Scott
O plot do filme é até bastante bom e, se não fosse desenvolvido por Hollywood, poderia até ser algo mais do que é. Matt Damon, sozinho em Marte tendo de sobreviver, segura nossa atenção a cada pequena conquista, principalmente quando consegue plantar batatas no planeta vermelho. E assim o filme poderia avançar: nos tornando espectadores deste homem em uma missão quase impossível.
No entanto, logo ele consegue manter contato e a NASA desenvolve mil e uma maneiras de tirar o homem de lá. Existem os gênios que descobrem coisas novas e os políticos que tentam atrapalhar a missão. Tudo isso com uma boa dose patriótica que mina as qualidades do filme, apresentando pedaços interessantes em um todo muito simplório.
7- Brooklyn, de John Crowley
Brooklyn é um filme singelo, de história simples que poderia comover. Uma moça vai para Nova Iorque tentar a vida e conhece um namorado italiano com quem se casa. Quando volta para casa tentam casa-la com outro e ela vive esse dilema entre as conquistas em um país novo e a segurança de sua história e tradição.
O problema do filme está no fato dele perseguir algo que não consegue fazer: em busca de um drama romântico ou de uma comédia dramática, a obra não encontra seu gênero. Oscila de lá para cá e não se fixa em lugar nenhum. Ao final, decepcionado com o que vi, disse a seguinte frase: os franceses fariam isto muito melhor. E acho que este é o ponto.
8- Mad Max: Estrada da Fúria, de George Miller
O pior filme de todos os candidatos, Mad Max é uma corrida desenfreada do início ao fim com explosões e perseguições em um mundo que nos é mal apresentado e com personagens que acabamos de conhecer. A pressa é tanta, para sobrar tempo para os efeitos especiais, que passei o filme classificando as personagens para poder acompanhar: esse é bom! Esse é ruim! No fim, o filme é que é era ruim.