Com narrativas intensas e personagens marcantes, Myriam Scotti explora, em “Sol abrasador prepara solo fértil”, a resistência humana em meio à floresta, em obra que combina lirismo e denúncia social
A Amazônia é muito mais do que uma paisagem exuberante: é um território de histórias silenciadas, contradições e resistência. É essa complexidade que a escritora, crítica literária e mestre em Literatura Myriam Scotti desvenda em “Sol abrasador prepara solo fértil“ (2025, 136 págs.), coletânea de contos que estreia o catálogo da editora orlando.
Com uma prosa que oscila entre o poético e o cru, a autora constrói um mosaico de vozes amazônicas, desde seringueiros até moradores de periferias urbanas, todos unidos pela luta diária em um ambiente tão belo quanto hostil. O livro conta com texto de apresentação assinado pela escritora e jornalista Bianca Santana, colunista da Folha de S.Paulo, e texto de orelha de autoria da escritora e crítica literária Thaís Campolina.
Apesar de ser sua estreia no gênero, o “Sol abrasador prepara solo fértil” nasce com credenciais sólidas: Myriam é vencedora do Prêmio Manaus de Literatura (2020) e teve obras selecionadas pelo PNLD. Também dialoga com grandes nomes da literatura engajada, como João Ubaldo Ribeiro e Milton Hatoum, mas traz uma perspectiva genuinamente interiorana: “Manaus não é apenas um cenário; é uma presença que molda desejos e frustrações”.
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O mesmo sol abrasador que ilumina, também oprime Manaus
Myriam Scotti frisa que sua intenção não é romantizar a floresta nem reduzir seus habitantes a vítimas passivas. “Meus contos mostram a potência de quem vive na Amazônia, mas também as feridas abertas por séculos de exploração”, afirma. Em narrativas como “Terra Prometida” e “O Soldado da Borracha”, a autora expõe conflitos sociais e ambientais sem perder de vista a singularidade de cada personagem. A obra, que levou sete anos para ser finalizada, reflete sua formação jurídica e literária: “O Direito me ensinou a enxergar estruturas de poder; a Literatura me deu as ferramentas para humanizá-las”.
Quem assina a apresentação do livro é a escritora e jornalista Bianca Santana. No texto, ela reforça o compromisso de Myriam de retratar a Amazônia sem o exotismo com que se costuma olhar o Norte: “As personagens não são heroínas, no sentido óbvio. Muito menos vítimas passivas dos ciclos de exploração que atravessam suas histórias de vida. São mulheres — em sua inteireza, contradição e potência — marcadas pelo calor da borracha, da migração, da saudade, do amor. Gente atravessada pela seca do Nordeste, pelos delírios de desenvolvimento, pela solidão das que sustentam mundos à custa de seus próprios desejos, pela infância sonhada, pela velhice adiada. Gente penalizada pela desigualdade sem baixar a cabeça ou deixar de sentir”.
Quem é Myriam Scotti?
Myriam Scotti nasceu em 1981, em Manaus (AM). É escritora, crítica literária e mestre em Literatura pela PUC-SP. Seu romance “Terra Úmida” foi vencedor do Prêmio Literário de Manaus 2020. Em 2021, seu romance juvenil “Quem chamarei de lar?” (editora Pantograf) foi aprovado no PNLD literário e escolhido pelo edital Biblioteca de São Paulo.
Em 2023, lançou o livro de poemas “Receita para explodir bolos” (editora Patuá). Foi finalista do prêmio Pena de Ouro 2021 na categoria Conto. No ano passado, ficou em segundo lugar na categoria conto do prêmio Off Flip
A autora conta que começou a escrever na infância, mas que, ao tornar-se mãe, resolveu publicar crônicas sobre este novo momento de sua vida em um blog. A escrita passou a ser uma atividade profissional em 2014.
Atualmente, Myriam está escrevendo dois projetos de romance, um deles contemporâneo e, o outro, com temática histórica.
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