Sérgio Vaz é poeta e escritor paulista, fundador da Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa) e de diversos projetos como saraus e atividades culturais na periferia de São Paulo. Estão entre os livros publicados mais conhecidos: Colecionador de pedras (2007), Literatura Pão e Poesia (2011) e Flores de Alvenaria (2016) pela Global Editora.
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Em mais um episódio da série Coleção de Livros do Estadão, o poeta apresentou a sua biblioteca. Entre clássicos e contemporâneos, citou suas principais leituras e comentou um pouco sobre cada livro. Confira:
1. Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves
“É um livro magnífico. Para mim, é definitivo. Eu li duas vezes, um quilo, mil páginas, porque é um livro maravilhoso. E a Ana Maria é uma pessoa maravilhosa, já tive a oportunidade de trazê-la aqui na ‘quebrada’ nos saraus da Cooperifa e foi uma emoção incrível. Uma escritora de mão cheia que, quando você termina de ler, você quer escrever, porque dá vários gatilhos. É muito louco.”
Sinopse: O livro conta a saga de Kehinde, mulher negra que, aos oito anos, é sequestrada no Reino do Daomé, atual Benin, e trazida para ser escravizada na Ilha de Itaparica, na Bahia. No livro, Kehinde narra em detalhes a sua captura, a vida como escravizada, os seus amores, as desilusões, os sofrimentos, as viagens em busca de um de seus filhos e de sua religiosidade. Além disso, mostra como conseguiu a sua carta de alforria e, na volta para a África, tornou-se uma empresária bem-sucedida, apesar de todos os percalços e aventuras pelos quais passou. A personagem foi inspirada em Luísa Mahin, que teria sido mãe do poeta Luís Gama e participado da célebre Revolta dos Malês, movimento liderado por escravizados muçulmanos a favor da Abolição.
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2. Amada, de Toni Morrison
“Se puder, leia. A mulher faz um romance baseado numa história de jornal, em que uma escravizada mata os dois filhos para não serem escravizados também. Ela vai a julgamento e o júri entra num impasse, sem saber se a processa pelo assassinato, o que a tornaria uma pessoa, ou se a processa por ter danificado a ‘mercadoria’. Percebe? É uma premissa muito forte.”
Sinopse: Sethe, uma ex-escrava, que, após fugir da fazenda em que era mantida cativa com os filhos, foi refugiar-se na casa da sogra em Cincinatti. No caminho, ela dá à luz um bebê, a menina Denver, que vai acompanhá-la ao longo da história. A relação familiar, bem como os traumas do passado escravizado, transformarão a vida e o futuro de ambas de forma irreversível. Amada segue uma estrutura não-linear, viaja do presente ao passado, alterna pontos de vista e sonda cada uma das facetas desta história sombria e complexa. Considerado um clássico contemporâneo, este livro faz um retrato ao mesmo tempo lírico e cruel da condição do negro no fim do século XIX nos Estados Unidos.
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3. Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez
“Marcou profundamente minha vida. Li umas três vezes. A primeira muito jovem. E é um livro de literatura fantástica. Do tipo: ‘Está chovendo pétalas’. E eu não estava acostumado ainda. E aí depois eu comecei a anotar os Buendia. Pai, filho, neto. E eu relacionei Macondo com meu bairro, porque quando meu pai chegou em 1971, não tinha asfalto, não tinha luz. Era praticamente tudo chácara. Tinha muitas coisas que não tinham nem nome ainda, né? Como no livro, quando ele fala: ‘tivemos que nomear’.”
Sinopse: Em Cem anos de solidão , um dos maiores clássicos da literatura, o prestigiado autor narra a incrível e triste história dos Buendía – a estirpe de solitários para a qual não será dada “uma segunda oportunidade sobre a terra” e apresenta o maravilhoso universo da fictícia Macondo, onde se passa o romance. É lá que acompanhamos diversas gerações dessa família, assim como a ascensão e a queda do vilarejo. Para além dos artifícios técnicos e das influências literárias que transbordam do livro, ainda vemos em suas páginas o que por muitos é considerado uma autêntica enciclopédia do imaginário, num estilo que consagrou o colombiano como um dos maiores autores do século XX.
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4. Crime e castigo, de Fiodor Dostoiévski
“Em uma entrevista, o Antônio Abujamra me perguntou qual autor eu ainda não tinha descoberto. Eu respondi Tolstói e ele me disse que era indispensável conhecer a literatura russa. Eu tentei ler Crime e Castigo e achei muito difícil. Mas persisti, li de novo, anotando aqueles nomes difíceis e comecei a achar muito foda. É aí que você percebe a mente do escritor, que é um negócio diabólico. Porque eu acho que assim como o Clarice Lispector, eu acho que ele disseca a alma humana.”
Sinopse: Crime e castigo” é um daqueles romances universais que, concebidos no decorrer do romântico século XIX, abriram caminhos ao trágico realismo literário dos tempos modernos. Contando nele a soturna história de um assassino em busca de redenção e ressurreição espiritual, Dostoiévski chegou a explorar, como nenhum outro escritor de sua época, as mais diversas facetas da psicologia humana sujeita a abalos e distorções e, desse modo, criou uma obra de imenso valor artístico, merecidamente cultuada em todas as partes do mundo.
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5. A hora da estrela, de Clarice Lispector
“Gosto de Clarice desde a juventude. Ela é de uma profundidade incrível. E eu acabei fazendo um poema do meu livro novo, inspirado no conto dela, do Mineirinho. Chama-se ‘Recado’.”
Sinopse: Lançada pouco antes de sua morte em 1977, a obra conta os momentos de criação do escritor Rodrigo S. M. (a própria Clarice) narrando a história de Macabéa, uma alagoana órfã, virgem e solitária, criada por uma tia tirana, que a leva para o Rio de Janeiro, onde trabalha como datilógrafa. Em A hora da estrela Clarice escreve sabendo que a morte está próxima e põe um pouco de si nas personagens Rodrigo e Macabéa. Ele, um escritor à espera da morte; ela, uma solitária que gosta de ouvir a Rádio Relógio e que passou a infância no Nordeste, como Clarice.
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6. Capitães da areia, de Jorge Amado
“Foi o primeiro livro que eu li assim e falei: ‘caramba, aqui tem uma realidade parecida com a nossa’. Eu só não era maloqueiro, mas vivia praticamente no trapiche. E os personagens, Pedro Bala, Sem Pernas, Dora, eram como os amigos que a gente tinha no bairro. Eu li as últimas páginas chorando porque ia acabar. Mais recentemente eu li novamente e não foi a mesma coisa. Acho que o livro cresceu demais. Ou eu cresci e o livro ficou pequeno. A gente começa a ver coisas que não se vê quando se está apaixonado pela obra.”
Sinopse: Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro foram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. Ao longo de sete décadas a narrativa não perdeu viço nem atualidade, pelo contrário: a vida urbana dos meninos pobres e infratores ganhou contornos trágicos e urgentes. Várias gerações de brasileiros sofreram o impacto e a sedução desses meninos que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais.
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7. Sobrevivendo no inferno, dos Racionais MCs
“É o clássico dos clássicos. Nos anos 1990, eu comecei a ouvir rap, os caras falando dos bairros onde eles moravam… E eu falei: ‘mano, eu preciso saber o que é isso’. Então passei a pedir para declamar poesia nos shows de hip-hop.”
Sinopse: Na virada para os anos 1990, os Racionais MC’s emergiram como um dos mais importantes acontecimentos da cultura brasileira. Incensado pela crítica, o disco Sobrevivendo no inferno vendeu mais de um milhão e meio de cópias.
Agora publicados em livro, precedidos por um texto de apresentação e intermeados por fotos clássicas e inéditas, os raps dos Racionais são a imagem mais bem-acabada de uma sociedade que se tornou humanamente inviável, e uma tentativa radical, esteticamente brilhante, de sobreviver a ela.
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8. Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus
“Eu tentava escrever muito rebuscado, travado, e quando eu descobri Carolina, foi como se ela esticasse a mão para mim e me tirasse do afogamento. Foi um aval para escrever o que eu quisesse como eu quisesse. E aí eu passei a pensar a escrever realmente falando de periferia, de negritude, escrever sobre e para o meu bairro.”
Sinopse: O diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus deu origem à este livro, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. A linguagem simples, mas contundente, comove o leitor pelo realismo e pelo olhar sensível na hora de contar o que viu, viveu e sentiu nos anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com três filhos.
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9. Dom Quixote, de Miguel de Cervantes
“Quando eu terminei de ler, eu percebi que não tinha problema nenhum em gostar de ler num ambiente em que ninguém lia. O problema era dos outros. Foi um livro que mostrou que eu era um sonhador e que viveria de literatura.”
Sinopse: Dom Quixote de La Mancha não tem outros inimigos além dos que povoam sua mente enlouquecida. Seu cavalo não é um alazão imponente, seu escudeiro é um simples camponês da vizinhança e ele próprio foi ordenado cavaleiro por um estalajadeiro. Para completar, o narrador da história afirma se tratar de um relato de segunda mão, escrito pelo historiador árabe Cide Hamete Benengeli, e que seu trabalho se resume a compilar informações. Não é preciso avançar muito na leitura para perceber que Dom Quixote é bem diferente das novelas de cavalaria tradicionais – um gênero muito cultuado na Espanha do início do século XVII, apesar de tratar de uma instituição que já não existia havia muito tempo.
10. Eram os deuses astronautas?, de Erich Von Däniken
“Meu pai sempre gostou de assuntos exotéricos, de disco voador, essas coisas de mistérios do universo. E eu lembro que esse livro me deu um nó na cabeça também.”
Sinopse: O autor, que dedicou a vida a pesquisas pelo mundo todo, defende neste livro a existência de outros seres inteligentes no Universo e propõe que extraterrestres tenham trazido grandes conhecimentos ao nosso planeta. A evidência disso estaria nos achados arqueológicos, monumentos antigos, mapas e marcas intrigantes em solos rochosos, que Däniken analisou em várias partes do mundo. Ele comparou, por exemplo, fenômenos semelhantes ocorridos em épocas e culturas muito diferentes.
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