Christian Dunker destrincha o amor em seu novo livro: “A arte de amar: uma anatomia de afetos, emoções e sentimentos”.

O Amor é um assunto que dificilmente compreendemos. Ao mesmo tempo, falamos sobre ele e o queremos sentir, o tempo todo… Em nossas relações familiares, amorosas e fraternais, queremos amar e ser amados. Ao consumirmos produtos midiáticos – filmes, músicas, séries, livros – almejamos uma realidade muitas vezes utópica. Um amor de novela. 

Mas como falar do amor “friamente”? Como tratar um sentimento tão complexo como um objeto de estudo, de uma forma mais refinada e racional, mas que, simultaneamente, seja fácil de entender para os leigos? 

Acredito que foi buscando essas respostas que o psicanalista Christian Dunker publicou o livro “A arte de amar: uma anatomia de afetos, emoções e sentimentos”, fruto do curso ministrado pelo professor na Casa do Saber

Amplamente reconhecido por seu trabalho nas áreas de psicanálise, filosofia e teoria social, Christian Dunker é professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais destacados teóricos da psicanálise lacaniana no Brasil.

O seu livro é dividido em nove capítulos, que procuram identificar a forma e os tipos de amor em nossa sociedade. Em um texto denso, mas muito esclarecedor, o psicanalista nos oferece diversas pistas para olharmos como nós consideramos o amor, como o oferecemos e como o retribuímos. E um destaque para como queremos recebê-lo. O amor nunca vem sozinho, está sempre acompanhado de outros afetos, emoções e sentimentos, que são identificados um a um no livro.

“Uma teoria popular dos afetos afirma que cada um experimenta uma das sete ou seis emoções fundamentais, definidas pela história de nossa espécie. A forma de vida baseada no indivíduo não é universal.” (p.192)

Em “A arte de amar”, Dunker oferece um manual acadêmico sobre o amor, ao mesmo tempo que exemplifica seus pensamentos e teorias, trazendo situações do cotidiano e obras de ficção. Assim, o texto fica palpável para nós, os leitores. Mas não se engane, esse não é um livro fácil de ler. 

Primeiramente, a psicanálise é um campo de estudo complexo. É necessário parar e refletir sobre o texto diversas vezes para compreendê-lo em sua totalidade. São apresentados diversos conceitos de outros estudiosos e literatos, diferentes classificações e correlações, explicadas minuciosamente. E confesso que, mesmo assim, algumas dúvidas ainda permanecem.

Leia também: “A outra filha”: Annie Ernaux retrata trauma de infância em diálogo com a psicanálise

Além disso, “A arte de amar” nos mostra como somos egoístas, narcisistas, mesquinhos e egocêntricos, ou como não escutamos e nem cedemos aos outros em nossos vínculos sociais. Como nós mesmos prejudicamos nossas relações e nos autossabotamos. 

“A lição geral é que não existe um discurso do amor, como existe um discurso da ciência ou um discurso sobre o belo. O amor se diz em cada língua, desde a política até a arte, de modo cômico ou trágico, como horizonte médico ou teológico, por ricos e pobres, por homens e mulheres” (p. 152)

Mas, ao mesmo tempo, o autor nos oferece dicas para podermos subverter essa realidade. Afinal, adentrando no cerne do que seria o amor, já estamos a um passo de compreender como amamos e queremos ser amados. 

Para quem busca se aprofundar no tema e conhecer um pouco mais sobre o seu comportamento em relação ao outro e ao mundo, esse livro será uma boa pedida. Porém, se você busca um livro fácil ou prefere uma obra mais contemplativa, uma obra de Jane Austen talvez seja mais recomendado. 

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