Em 2023, a escritora italiana de alma brasileira, Miriam Squeo, lançou o romance sáfico Por trás dos meus cabelos. O livro é um misto de ficção e memória da autora enquanto se descobria uma mulher LGBTQI+. A relação da narradora com os pais, as dúvidas já na vida adulta, a troca do medo pela coragem, os primeiros relacionamentos, bons e ruins, com mulheres, e também a forma como ela, hoje, encara a vida.
Ela escreve de um jeito tão descontraído, tão à vontade, tão próximo, que é fácil sentir que nós, leitores, estamos sentados em um bar bebericando algo enquanto ela nos tem como confidentes. Porém, ela deixa espaço para imaginarmos o que é realidade e o que é fantasia em uma história que acima de uma biografia, e sem cair na autoajuda, promove uma narrativa que conecta e inspira.
“Por trás dos meus cabelos” é uma história LGBTQI+ de encontros e desencontros, uma história de autoaceitação e autoconhecimento, pessoal e sexual. Uma ode a si mesma, mas também ao caminho percorrido até aqui, na vida e no texto, pois dele nasceu, não só nossa narradora, mas também Miriam Squeo como escritora.
O Jornal Nota realizou uma entrevista exclusiva com a autora e você pode conferi-la abaixo:
O que as pessoas podem esperar ao longo da leitura do seu livro?
– Acho que as pessoas vão facilmente se identificar com a protagonista e vão vivenciar juntos dela uma história de descoberta e de autodesenvolvimento, passando por vários países e vários lugares: Itália, Paris , Rio de Janeiro e Fernando de Noronha são os lugares onde a história acontece. Os leitores vão se inspirar e encontrar vários temas sobre a complexidade e as contradições humanas, as várias formas do amor, mas tudo de uma forma leve e muito fácil de ler.
Logo no início você traz algumas poesias escritas pela narradora adolescente. Qual o papel da poesia na sua vida pessoal e na sua vivência como escritora?
– A poesia é minha maneira mais autêntica e espontânea pra revelar as minhas emoções. É uma escrita impulsiva mas que dá voz aos meus silêncios e as emoções mais difíceis de exprimir. Escrevi recentemente uma poesia que explica exatamente isso:
“as poesias são
aqueles silêncios
que quebram
dentro de mim
e saem
como necessidade primária
se transformando em palavras”
Essas vidas se misturam, a pessoal e a de escritora?
– Com certeza. Eu sempre pensei que dentro de mim existem duas gêmeas, a artista e a business woman, e acabei encontrando a possibilidade de fazer coexistir essas duas Mirians, não abandonando a poesia que sempre foi a minha expressão artística desde pequena.
O que têm de Miriam personagem-narradora e Miriam escritora em “Por trás dos meu cabelos?” Por que a opção de mesclar ficção e memória?
– No início do livro eu escrevo “ Entre a realidade e a fantasia, criam-se histórias e as histórias conectam e inspiram”. Então sim, tem muito da minha vida pessoal dentro do livro. Acho que na escrita eu encontrei o meu propósito: através dessa história eu queria dar para as pessoas as referências que queria ter tido ao viver essas minhas experiências.
No livro você fala da falta de referências LGBTQIA+ na infância e na juventude. Hoje, quais são suas referências nesse sentido?
– Sim, completamente. Eu não tinha nenhuma amiga bi ou lésbica (pelo menos não declarada). O meu primeiro amigo gay chegou nos meus 24 anos. O sul da Itália era um lugar cheio de preconceitos e extremamente homofóbico. Hoje, a maioria das minhas referências se encontram na literatura que oferece muito mais no tema LGBTQIA+ versus alguns anos atrás. Livros como Dear john, I love jane ou Os 7 maridos de Evelyn Hugo, que eu amo, normalizam a fluidez da sexualidade e são importantes para reflexão. E também tive a sorte de chegar no Rio de Janeiro e encontrar uma grande comunidade de mulheres e homens, de várias orientações sexuais, que são as minhas referências cotidianas.
“Por trás dos seus cabelos” é também um livro de viagens. Qual o impacto das viagens na sua escrita?
– As viagens são um instrumento poderoso de catarse, autoconhecimento e conexão com os outros. A cada viagem eu descubro não só algo sobre uma outra cultura, mas também sobre mim. Novos países, culturas, cenários. São ocasiões únicas pra encontros e desencontros, com os quais nós aprendemos a viver. Eu não seria a Miriam que sou hoje se não tivesse vivido tantas experiências diferentes entre vários países. E as viagens são também para mim momentos muitos ricos pra escrita: escrevi grande parte do meu livro viajando e o terminei em uma viagem sozinha no nordeste brasileiro.
Morar no Rio de Janeiro foi uma decisão que mudou tudo e possibilitou, inclusive, a existência desse livro. Como foi escrever em uma língua que não é a sua língua materna?
– O Rio de janeiro e o Brasil para mim representam liberdade e também são os lugares onde eu encontrei a minha essência. Com certeza em uma outra vida eu nasci brasileira. Escrever em português pra mim foi a coisa mais natural do mundo porque a maioria da historia é influenciada pelo meu contado com o Brasil e acontece no Brasil. Claro, poderia ter tido mais riqueza de linguagem ou menos erros gramaticais se tivesse sido a minha língua materna, mas o que importa é saber comunicar o que tem no coração e saber chegar a outras almas.
Por fim, qual recado você deixaria para quem está passando pelo processo de autodescoberta da própria sexualidade, pelo processo de autoaceitação que o livro explora?
– A mensagem que quero deixar é um pouco o que eu tento comunicar no livro: se permitam. Ousem, assumam riscos, amem, chorem, riam alto. Tenham a coragem de sair da zona de conforto e de ir atrás dos seus próprios desejos e sonhos. O sofrimento, as dúvidas, fazem parte do caminho, mas viver a nossa verdadeira essência é algo imperdível.
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