Mia Couto é um dos maiores expoentes da literatura moçambicana na contemporaneidade. Possui mais de 30 livros publicados entre romances, contos, crônicas, poemas, ensaios e infantojuvenis, e vários estão traduzidos em mais de 30 línguas. Recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio Camões (2013) e o Prêmio Internacional Neustadt de Literatura (2014) e Prêmio José Craveirinha (2022).
Embora a maioria de suas obras tenha como contexto o período pós-colonial, é recorrente aparecer as consequências advindas das diversas guerras que aconteceram em Moçambique como, por exemplo, as lutas de resistência colonial, as guerras de independência e a guerra civil. Terra Sonâmbula, A confissão da leoa, Mulheres de Cinzas, O bebedor de Horizontes, entre outros são alguns dos títulos que abordam essa temática.
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Confira algumas citações:
“A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres são os primeiros a serem mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer. Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos.”
“Quem mais sofre na guerra é quem não tem serviço de matar. As crianças e as mulheres: essas são quem carrega mais desgraça.”
“O que se pretende em toda e qualquer guerra não é apenas ganhar. É abolir o inimigo, dissolver o Outro. É fazer desaparecer não apenas o adversário mas todo o seu mundo. Pretende-se anular a sua história, apagar a sua memória.”
“A guerra nunca partiu, filho. As guerras são como as estações do ano: ficam suspensas, a amadurecer no ódio da gente miúda.”
“A guerra é uma cobra que usa os nossos próprios dentes para nos morder.”
“Sorte a dos que, deixando de ser humanos, se tornam feras. Infelizes os que matam a mando de outros e mais infelizes ainda os que matam sem ser a mando de ninguém. Desgraçados, enfim, os que, depois de matar, se olham no espelho e ainda acreditam serem pessoas.”
“Para fabricar armas, é preciso fabricar inimigos. Para produzir inimigos, é imperioso sustentar fantasmas.”
“A guerra é uma parteira: das entranhas do mundo faz emergir um outro mundo. Não o faz por cólera nem por qualquer sentimento. É a sua profissão: mergulha as mãos no Tempo, com a altivez de um peixe que pensa que ele é que faz despontar o mar.”
“O soldado ganha a farda; o homem perde a alma.”
“Ter inimigos é ficar escravo deles. A paz não nasce por se vencer um adversário. A verdadeira paz consiste em nunca chegar a ter inimigos.”
“É estranho o que a guerra faz com os soldados: pede-lhes que apurem a pontaria; mas só deixa que disparem depois de estarem cegos.”
“A mais grave herança da guerra não são as feridas nem os escombros. A pior herança são os vencedores. Acreditam os vencedores que a vitória os fez donos da terra e acham-se no direito de ser os seus vitalícios governantes.”
“O grande rei não é o que conduz o seu povo na guerra mas o que afasta a guerra para longe do seu povo.”
“Em tempos de terror escolhemos monstros para nos proteger.”
“Encheram a terra de fronteiras,
Carregaram o céu de bandeiras,
Mas só há duas nações:
A dos vivos e dos mortos.”