Autor: Richard Wright
Editora: Harper & Row
Ano: 1966
Páginas: 289
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A literatura americana do pós-guerra é notadamente marcada pela tentativa de grupos minoritários se afirmarem diante da impossibilidade de fazerem parte da ideia de sonho americano que era vendida pelo país. Assim, teremos uma série de autores e autoras tratando destas questões como Philip Roth, a partir da perspectiva das famílias judaicas; Flanerry O’Connor, tratando de questões ao redor do indivíduo frente a religião; a Beat Generation, contra toadas estruturas das formas do capital na sociedade americana; Vladimir Nabokov, com as questões morais e tabus da sociedade moderna, entre outros. Um dos mais profícuos dessa turma, e talvez o primeiro deles, é Richard Wright que, em 1945, publica sua obra Black Boy, infância e juventude de um negro americano.
Black Boy é um romance autobiográfico de Wright em que ele narra e descreve os seus primeiros anos de vida no sul dos Estados Unidos, passando pela juventude, chegando até o começo da vida adulta quando, em contato com os livros, resolve virar escritor. Sua vida nos bairros negros de Jackson, Mississippi, começa com uma infância conturbada, com um pai silencioso e autoritário que trabalhava como porteiro para sustentar ele e seu irmão. Pouco tempo depois, o pai abandona a família e ele chega a passar fome com a dificuldade que sua mãe tem de arrumar e sustentar seus sub-empregos. Assim, Richard é enviado para um orfanato onde passa um tempo, tentando, inclusive, uma fuga em que, pela primeira vez, pode observa a cidade em toda a sua dimensão. Depois que sua mãe tem um AVC, passa a morar com sua vó ultrarreligiosa que insiste que Richard deveria juntar-se a sua religião, entretanto, esperto, sem submeter a nada e a ninguém, o rapaz começava a se mostrar interessado em tudo que parecia lhe ser retirado enquanto rapaz negro inserido naquele contexto social. Aos poucos, ele encontra meios de estudar e vai começando, passo a passo, a entender que seus problemas ultrapassavam as dificuldades de uma vida comum, mas eram todos marcados e atravessados pelas políticas raciais de seu país de origem.
Assim, Richard decide encontrar meios de ganhar dinheiro para tentar se mudar para o norte dos Estados Unidos, com a esperança de que lá pudesse ter uma vida menos marcada pelo racismo institucional e social. No entanto, no meio do caminho, encontra aquilo que seria a marca de grande mudança em sua vida: os livros. É a partir do seu contato com a literatura que Wright verá seus horizontes se ampliarem e descobrirá que o mundo é infinitamente maior do que lhe era apresentado, tanto na escola quanto em tudo que o mundo em seu entorno lhe oferecia. Ele chega a refletir que fazia parte de um sistema profundamente cruel privar os negros do país de grande parte do que era produzido enquanto riqueza financeira e cultural de um país, empurrando-os para os piores empregos, piores ações, piores relações pessoais, ou seja, uma verdadeira máquina social de construir aquilo que a máquina propriamente queria punir: as desigualdades entre raças.
O mais interessante do testemunho de Wright é que como ele atravessa grande parte da primeira metade do século XX, passando inclusive por toda a primeira grande guerra, conseguimos ter uma exata noção de como a sociedade americana se construía nas frestas desta narrativa que, no entanto, estava afunilada, de maneira até claustrofóbica, pelo próprio horizonte que o autor via em seu caminho. Mais do que perceber a obra como uma denúncia – o que ela propriamente é – é necessário entender que, de hoje para frente, é apenas mudando condições básicas das mais simples estruturas sociais que poderemos ter qualquer possibilidade de um mundo mais justo e menos desigual. Richard Wright mostra um racismo que não só paira por todas as instituições e indivíduos, mas que também se incorpora no corpo e alma dos negros que moldam seus comportamentos através dessa classificação absurda e, pior, fabricada. A literatura americana, depois de Wright, não pode nunca mais ser a mesma.