No dia 18 de junho, Omar Hamad celebrou seu aniversário. Informação comum, você diria, aniversários acontecem todos os dias. A questão é que Omar Hamad é Palestino e, em Gaza,é paradoxal quando comemora-se vida em um lugar onde sangue e morte são protagonistas do cotidiano. Como escreveu no X, Hamad diz que não há bolos em Gaza, porém ele possui livros. Ele formou uma espécie de bolo literário e, no meio, colocou uma vela. Este ano, ele comemora a existência com os livros que leu este ano.
Você pode estar se perguntando como alguém que vive em um genocídio, pode ler todos estes livros. Porém ler, antes meu refúgio e hábito, tornou-se uma fuga para tudo o que eu vivo. Quando sinto medo, me abrigo nos livros, quando sinto fome, devoro um romance. Quanto sinto alegria, leio um trecho. Ao nascer e pôr do sol, leio – de novo, de novo, de novo – e depois escrevo.
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Em suas redes sociais, Hamad compartilha como que o genocídio mudou sua relação com as letras. Antigamente, elas a acariciavam, ofereciam conforto. Agora, há uma batalha entre ele e a letra. Não é mais possível escrever com tintas. Ele escreve com sangue e sobre o sangue.Sua mão nem treme mais, talvez, já tenha se habituado com tanta desgraça — ou não. Sua tristeza e sangue estão silenciando suas pulsações.

Do outro lado do oceano, nossas vidas estão intactas, não tememos mísseis ao olhar para o céu. O que nos resta é acompanhar palestinos como Omar Hamad e ler literaturas sobre a Palestina Recentemente, a editora Bazar Tempo lançou um livro intitulado Gaza está em toda parte, da jornalista portuguesa Alexandra Lucas Coelho. Ela chama chama a atenção:
A Europa disse: nunca mais, e era mentira. Estamos a ver o genocídio ao minuto num campo de concentração. Milhões pelo mundo, incluindo milhares de judeus, manifestam-se pelo cessar-fogo.
Enquanto houver genocídio, Omar Hamad continuará a refugiar-se nos romances e os devorando. A literatura no meio do caos é a sua forma de resistir. Noite após noite, escrevendo sobre o sangue de seus companheiros.