Escrito aos dezoito anos, Declaro-me: o sopro das rosas marca o início de um belo caminho a ser percorrido pelo jovem poeta Enzo Peixoto. Os poemas da coletânea, na verdade, passaram a ser escritos quando ainda descobria sua paixão pela literatura e escrita, ainda aos quinze anos. Tempo depois, seus escritos foram publicadas pela Viegas Editora, contando com belíssimas ilustrações de Zack Miranda.
Dividido em quatro partes — “Rosa”, “Rabiscos”, “Relógio” e “Ramalhete” —, sua poesia percorre diferentes temáticas que nem sempre é o que mais importa – às vezes, basta apenas sentir e apreciar a escolha das palavras, ritmos e combinações; às vezes, basta evitar racionalizar o que é puro sentimento. Apesar de ser um livro sobretudo de poemas, Enzo esporadicamente também se doa à prosa, que é tão poética quanto os versos das tantas outras páginas. Ao longo da leitura, fica evidente que Declaro-me: o sopro das rosas reflete também o amadurecimento e a sensibilidade do autor frente ao que passa a esbarrar em sua juventude.
Seus textos serão cativantes sobretudo para aqueles que passam parte considerável de suas vidas pensando e repensando o sentido da vida, que sempre estão a procura da literatura para se consolarem. Seus leitores também encontrarão um tom confessional emaranhado nas entrelinhas, o que certamente acaba por dar estrutura ainda mais forte aos “por que” e “porque” destrinchados no livro. Como em todo bom compilado de poesia com teor confessional, Enzo também se propõe a trabalhar questões que vão além do sentimento pelo outro; há momentos em que mais importa observar e rimar sobre o relacionamento que se tem ou que se deixa de ter consigo mesmo.
Particularmente sou muito mais apaixonada por esse tipo de “tema”, pois só nos mesmos temos dimensão da carga que carregamos em nosso âmago, e, quando conseguimos nos aproximar das dores do outro (sobretudo num contexto de literatura), adquirimos a consciência de que nenhum fardo é individual — o que muitas vezes é absurdamente libertador. E devo dizer que a forma como Enzo Peixoto lida com essas questões em Declaro-me: o sopro das rosas é uma das características mais interessantes de analisar.
“Do silêncio vazio, nasce a folha.
A tinta que lhe desce é pouca,
Machucando-a nas cicatrizes que ficam.
Quem escreve não sente a dor, como disse o poeta.
Não sabe o que sente, mas que inventa na sorte do tempo.
Tudo é espera, um colapso em face à ideia: uma mentira.
A escrita, na realidade do mundo, não existe.
Um outro louco, num dia, me disse:
os livros são feitos de vida,
Mas nunca, a vida será feita dos livros que se lê…
[…]”(versos do poema Ilustrar)
E é claro que outros artistas sempre cruzam o caminho e as palavras de escritores. Para tanto, notamos referências e menções aos que construíram o legado brasileiro de música e literatura, como Gal Costa, Caetano Veloso, Chico Buarque e Vinícius de Moraes. A questão é que Enzo engloba essas figuras, trazendo-as à tona não apenas pela mera referência, mas para deles nascer parte do sentido de suas estrofes.
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Além dos temas abordados, outro aspecto que merece destaque é a musicalidade presente nos poemas. Enzo Peixoto demonstra uma habilidade notável em criar versos ritmados e melodiosos, que quase pedem para ser lidos em voz alta. Essa musicalidade, aliada às imagens poéticas que o autor cria, torna a leitura uma experiência sensorial, na qual o leitor é convidado a não apenas compreender o significado das palavras, mas também a sentir sua sonoridade e ritmo.
Quanto ao projeto gráfico, vale pontuar que as ilustrações de Zack Miranda, que acompanham os poemas, complementam a obra de maneira primorosa. A combinação da poesia com a arte de Zack resultam em uma coletânea repleta de visões artísticas de um mesmo assunto, outro detalhe que acredito acrescentar ainda mais riqueza à estreia de Enzo no meio literário.
“[…]
É verdade que somos embalados por uma história,
Pelo fluxo interminável dos momentos
Que nos subtraem os dias e somam as experiências…[…]
Na saúde, a indiferença é desprezo.
Arrependimento no tempo não é volta.
Na morte, perdão não é lágrima.”
(versos do poema Vivere la Vita)
Outro ponto que vale ser mencionado é a coragem do jovem poeta em se expor por meio de sua escrita. Declaro-me: o sopro das rosas parece ser, em muitos aspectos, uma obra autobiográfica. Essa exposição, longe de ser um ato de vaidade, parece aos olhos do leitor uma forma de compartilhar os extremos das experiências vividas em seus poucos anos de vida.
Em resumo, Declaro-me: o sopro das rosas é uma obra que merece ser lida e relida. Não apenas pela qualidade da poesia de Enzo, mas também pela sensibilidade e autenticidade de cada verso. É um livro que fala ao coração e à mente, que convida o leitor a refletir sobre a vida, o tempo, o amor e a existência de uma forma poética e profunda. Enzo Peixoto, com sua estreia literária, prova ser um talento promissor, alguém que certamente ainda terá muito a oferecer ao mundo da poesia.
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