Kafka certa vez afirmou que “devemos ler apenas os livros que nos ferem, que nos apunhalam. […] Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós.” Se você concorda com o autor de “A Metamorfose”, então muito provavelmente compreenderá e apreciará “Inventário de Predadores Domésticos” de Verena Cavalcante.

Seus contos nos ferem, nos apunhalam repetidamente, marcam a mente do leitor como os corpos de suas personagens são marcados por violência, revelando os aspectos mais sombrios e sangrentos do ser humano
A primeira parte do livro é composta por narrativas contadas do ponto de vista de crianças, o que torna estes contos ainda mais macabros, pois as inocentes criaturas estão sempre em perigo, sendo ou prestes a serem vítimas de algum tipo de violência.
A forma como Verena adapta o estilo da linguagem de um conto para o outro, retratando o ponto de vista de uma criança pequena, como é o caso do conto “Shopping”, e o de uma pré -adolescente, no conto “Diário”, torna as narrativas mais realistas e, exatamente por isso, mais chocantes.

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Na segunda parte do livro, encontramos contos com narradores diversos, alguns se utilizando de linguagens mais líricas, outras vezes variando para tons mais viscerais, enfatizando descrições mais fisiológicas dos eventos narrados, e concluindo com um conto de tons oníricos, em que a narrativa em segunda pessoa leva o leitor junto a explorar os recantos sombrios de sua imaginação.
Uma obra definitivamente marcante, para leitores de estômago forte e coragem de adentrar um mundo fictício selvagem e sangrento, reflexo assustador do mundo real.