Orquestra Sinfônica Municipal e Coral Paulistano trazem ao palco a loucura do personagem Tom Rakewell que, movido pela ganância e prazeres, se deixa influenciar por satanás. A obra traz a relação de escolhas, amor e a adaptação do provérbio popular: Diabo acha ocupação para corações e mentes ociosos.
Ópera em três atos do compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971), interpretada por orquestra e coros brasileiros, The Rake’s Progress marca o final da temporada lírica de 2021 do Theatro Municipal de São Paulo. A montagem tem direção cênica de Maria Thais e Juliana Santos e direção musical de Roberto Minczuk. O espetáculo marca o 50º aniversário de falecimento de Stravinsky.
Com libreto escrito por Wystan Hugh Auden e Chester Kallman, a obra de Stravinsky foi baseada nas oito pinturas de The Rake’s Progress (1733-1735) de William Hogarth, que o russo havia visto em uma visita ao Instituto de Artes de Chicago, em 1947. A obra narra uma história de amor e perda entre Tom Rakewell, que será interpretado por Fernando Portari/Anibal Mancini e Anne Trulove (interpretada por Lina Mendes/Marly Montoni). Na trama, Anne é abandonada por seu amor, que se mudou para Londres e teve sua vida banhada em prazeres e experiências na companhia de Nick Shadow, representando Satanás.
A história
Depois de algumas desventuras, todas iniciadas pelo tortuoso Shadow, Tom acaba em um hospício em Londres; Anne não tem como salvar a vida ou a sanidade de Rakewell, mas a lembrança da imagem dela o salva de ser levado para o inferno. Em paralelo com o quinteto final de Don Giovanni, de Mozart, os cinco protagonistas param em frente à cortina para um epílogo, que demonstra as lições morais ao público de forma explícita, e resume a relevância do que foi visto ao adaptar um provérbio popular: o Diabo acha ocupação para corações e mentes ociosos.
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Diz a diretora
Para Maria Thais, diretora cênica do espetáculo, “a obra, tanto na sua narrativa quanto na música, é uma obra de encanto e magia; ela transita por tempos e lugares com muita liberdade e aí talvez seja o encanto dela”, afirma. Parceira de direção, Juliana também compartilha a relevância do tema.
“O que me chamou atenção foi ler essa obra e conectar com questões diretamente relacionadas ao nosso mundo contemporâneo, como a gente lida com o tempo, como a gente lida com as escolhas. Além de ter a sensação de que é uma obra que não me leva para a década de 50, mas me traz para a realidade que vivemos hoje e me leva para frente, a pensar que tipo de realidade estamos também escolhendo para o amanhã.”
Maria também ressalta que, por meio das escolhas do personagem, a narrativa também ensina a forma de enxergar o passado.
“Não existe futuro se a gente não olha para o passado, e talvez o que tem ficado é que parece que a gente parou de olhar para o passado e só repetiu os erros novamente. A obra nesse sentido traz de alguma maneira que precisamos olhar para isso.”
Marcando a volta da capacidade total da casa, Juliana também compartilhou um pouco da sensação desse momento: “ter essa possibilidade de voltar com segurança é muito importante, o que o Theatro trouxe e as formas de que a gente descobriu de fazer esse espetáculo de maneira segura para todos que estão no palco, durante o processo de ensaios, orquestra, coro, para se sentirem à vontade e se sentirem seguros de estar ali, além da importância também da arte estar de volta, da ópera estar de volta com esse espaço”, conclui.
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