Nos dias atuais, a trilha sonora tem uma importância grande quando se fala em filmes de terror. No entanto, nem sempre isso foi possível, pois os primeiros filmes de terror foram mudos. Com forte influência do expressionismo alemão, é notável como o jogo de luzes e contrastes de claro e escuro são as técnicas mais utilizadas para causar um efeito de forma a impactar o público. Claro que o terror presente em tais filmes é bem distinto daquele ao qual estamos acostumados nos dias de hoje: ainda que haja aparições repentinas em algumas cenas, a ausência de som impossibilitava a execução dos chamados jumpscares, aquelas cenas em que a trilha sonora é intensificada e algo ou alguém surge repentinamente, geralmente fazendo um barulho estrondoso, de maneira a fazer o telespectador saltar da poltrona. Ainda que tal tipo de efeito não fosse possível, os filmes de terror mudos conseguiram construir uma atmosfera sombria que pode causar uma tensão crescente ao longo da narrativa. Portanto, confira esta breve lista com alguns exemplos marcantes e terror do cinema mudo.
1.Frankenstein (1910)
Antes mesmo de Boris Karloff marcar gerações como sua atuação na pele do monstro de Frankenstein, a primeira adaptação da obra-prima de Mary Shelley para o cinema foi em 1910, produzida por Edison Studios, escrita e dirigida por J. Searle Dawley e filmada em apenas 3 dias no Bronx, Nova York. Algo que chama bastante atenção é a maneira como foram filmadas as cenas finais: completamente em frente a um espelho, no qual vemos o monstro evanescer e nele surgir a imagem de seu criador, Victor Frankenstein, evidenciando a mistura da identidade entre ambos, as quais são bastante confundidas pela mídia, enquanto também suscita uma reflexão sobre como o monstro pode ser visto como um reflexo do próprio Frankenstein, visto que suas atitudes destrutivas são resultado do comportamento egoísta do jovem cientista, que criou vida por pura vaidade e abandonou sua criatura ao ficar horrorizado com o resultado de sua experiência.
- Das Cabinet des Dr. Caligari (O Gabinete do Dr. Caligari) (1920)
Um dos mais clássicos filmes de terror mudos, esta obra é um dos maiores símbolos do expressionismo alemão, e influenciou gerações de cineastas até os dias de hoje.
- The Haunted Castle (1896)
Ainda no século dezenove, George Melies inova com efeitos especiais nunca antes vistos na época.
- La maison ensorcelée (The House of Ghosts) (1908)
Um dos primeiros filmes a apresentar assombrações (após Melies), este curta de 6 minutos, dirigido pelo cineasta espanhol Segundo de Chomón mostra atividades paranormais cujos efeitos são bastante surpreendentes, considerando que isso era o início do cinema do século XX.
- Edgar Allen Poe (1909)
O primeiro filme sobre Poe, dirigido por D.W. Griffith. Este tinha que estar na lista, pois, apesar de não ser terror em si, carrega uma presença sombria ao apresentar a agonia de um escritor solitário, sofrendo em volta do leito de morte da mulher amada e tendo quase que uma inspiração divina (ideia que o próprio Poe rejeita sobre a composição de literatura) ao ver o corvo surgir a sua frente e lhe motivar a escrever. O curta romantiza o processo de composição do poema O Corvo (1945), ao misturar fatos da biografia de Poe, como sua pobreza e a perda de sua esposa Virginia, com a inspiração para a escrita do poema. Porém, misturar biografia e ficção é algo que é feito com bastante freqüência pelos chamados biopics, filmes sobre biografias de personalidades literárias, e Poe foi homenageado por uma destas obras menos de cem anos após sua morte, tal já era a força de seu legado.
6. Nosferatu (1922)
A primeira e não oficial adaptação de Dracula para o cinema, onde o vampiro se chama Nosferatu. O roteiro, escrito por Henrik Galeen, foi processado por violação de direitos autorais, pois não teve autorização dos herdeiros de Bram Stoker para se utilizar da obra para o cinema. Portanto, o filme acaba por copiar o enredo do livro, alterando nomes de personagens, o que levou o vampiro a se chamar Nosferatu.
7. Alice in Wonderland (1903)
A primeira adaptação da obra de Lewis Carroll para o cinema, dirigida por Cecil Hepworth e Percy Stow. O filme apresenta efeitos especias também bastante surpreendentes para o começo do século XX, como mostrar Alice aumentando e diminuindo de tamanho. Apesar de também não ser exatamente terror, a atmosfera do curta, de 8 minutos, apresenta um toque sombrio e uma tensão crescente.