Com um desenho cênico arriscado e texto original, Um Jardim para Tchekhov é uma declaração de amor às obras de Anton Tchekhov.
Constantemente me surpreendo com a capacidade que o teatro tem de apresentar coisas novas, com suas excelentes dramaturgias, atuações e direções potentes que jamais poderiam ser exploradas no audiovisual. Um Jardim para Tchekhov é um combo de surpresas que combina dramaturgia e atuações, acrescido de um DNA brasileiro.
Um jardim para Tchekhov tem dramaturgia assinada por Pedro Brício, carioca com uma extensa experiência no teatro e audiovisual. A peça narra a história de Alma Duran, uma atriz reconhecida, mas que já não consegue trabalho como antes. Desempregada há três anos, ela enfrenta o fracasso e a falta de dinheiro. Ainda assim, não perde a capacidade de se reinventar: morando de favor com a filha médica e com o genro, um delegado de polícia, ela pretende voltar aos palcos com uma montagem de O jardim das cerejeiras, do dramaturgo russo Anton Tchekhov.
De acordo com Maria Padilha, “a história dessa peça começa com sua paixão por Tchekhov, que remonta desde o começo de seu encanto pela profissão.” O encontro com o Pedro Brício, por sua vez, se deu na peça Diários do Abismo, adaptação dele para a obra da escritora mineira Maura Lopes Cançado. O resultado foi tão bonito que ela quis repetir, e propôs a ele umas ideias confusas que se transformaram na peça Um Jardim para Tchekhov.
Uma das coisas que eu acho geniais dessa peça é justamente ter como cerne o encontro de uma atriz que está apaixonada pelo texto com um dramaturgo, ainda mais quando falamos de um dramaturgo como Tchekhov. Acredito que qualquer pessoa independente de sua área de atuação, tem no seu íntimo, o desejo de encontrar sua inspiração E este é o caso deste espetáculo: ele se torna genial pela simples questão de encontrar a sua inspiração.
Leia também: “Dom Casmurro”: musical renova a obra-prima de Machado de Assis com um olhar feminino
O elenco formado por Maria Padilha, Leonardo Medeiros, Erom Cordeiro, Olivia Torres e Iohanna Carvalho me surpreendeu em todos os sentidos. São artistas que vemos muito no audiovisual, mas essa é primeira vez que os vejo no teatro. No palco, eles tiveram a oportunidade de apresentar todo seu potencial e vivacidade na construção das densas e complexas personagens. Maria Padilha apresenta todas as camadas necessárias para uma personagem tchekhoviana, além de acrescentar cores num monólogo de O Jardim das Cerejeiras, que integra.
Leonardo Medeiros, constrói um Tchekhov tão vivo, genuíno e perdido numa contemporaneidade brasileira que faz com que se conecta automaticamente com um público brasileiro. Erom Cordeiro, sempre querido e galã no audiovisual, desenvolve um dos monólogos mais viscerais do Jardim das Cerejeiras, arrancando lágrimas de quem não conhece o texto…mas também de quem o conhece.
A direção artística assinada por Georgette Fadel é primorosa. Ela nos ganha já no posicionamento de Maria Padilha na primeira cena. Um dos destaques na direção foi a dinâmica criada no coro que interage com a Alma Duran, através de um bate-bola muito bem desenhado e arriscado, mas que funciona muito bem. Temos também uma luz de Maneco Quinderé que cria toda atmosfera que nos envolve na narrativa de Alma Duran, assim como a trilha sonora de Lucas Vasconcellos trazendo toda uma brasilidade que só pode ser traduzida por um nome como Cartola, que faz parte da trilha sonora.
Acredito que Um jardim para Tchekhov é antes de tudo uma declaração de amor ao teatro e nada melhor do que realizar essa declaração com uma dramaturgia refinada, podemos ver que Pedro Brício bebe muito bem das referências de Tchekhov para construir seu texto, não abrindo mão do cuidado na construção de personagens e nos trazendo também toques de humor, itens valorizados por Tchekhov.
Nas mãos de Brício esta mistura entre dramaticidade e comicidade ganha uma contemporaneidade e brasilidade que nos contagia, ainda tratando de assuntos que doloridos em alguns momentos. Por fim, temos um elenco e uma direção que assinam essa declaração com um beijo, realizando um espetáculo com um olhar apaixonado de quem deseja honrar sua inspiração: o teatro.
Ficha Técnica:
Dramaturgia: Pedro Brício
Direção Artística: Georgette Fadel
Elenco:
Maria Padilha – Alma Duran
Leonardo Medeiros – Anton Tchekhov
Erom Cordeiro – Otto
Olivia Torres – Isadora
Iohanna Carvalho – Lalá
Interlocução de dramaturgia: André Emídio e Maurício Paroni de Castro
Iluminação: Maneco Quinderé
Cenário: Pedro Levorin e Georgette Fadel
Figurino: Carol Lobato
Trilha Sonora: Lucas Vasconcellos
Preparação Corporal: Marcia Rubin
Designer Gráfico: Luiz Henrique Sá
Fotos de Divulgação: Filipe Costa e Guto Muniz
Assistência de Direção: Bel Flaksman
Operação de Luz: André Pierre
Operação de som: JP Hecht
Contrarregra: Wallace Lima
Coordenação Administrativo-financeira: Letícia Napole e Alex Nunes
Produção Local: CULT_B – Gustavo Valezzi
Assistência de Produção: Luciano Pontes
Produção Executiva: Ártemis
Direção de Produção: Silvio Batistela
Produção: Cena Dois Produções Artísticas
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil e Ministério da Cultura
Patrocínio: Banco do Brasil e Governo Federal
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério e Carina Bordalo