Eduardo Affonso, arquiteto, escritor e colunista do jornal “O Globo”, publicou em 2020 uma coluna sobre as palavras proparoxítonas. Para quem não conhece, Proparoxítonas são palavras que possuem a sílaba tônica na antepenúltima sílaba, ou seja, a terceira sílaba de trás para frente. A sílaba tônica é aquela que é pronunciada com mais ênfase.
Todas as palavras proparoxítonas são acentuadas com acento agudo ou circunflexo para indicar a posição da sílaba tônica. Por exemplo, as palavras “lúcido”, “século” e “próximo” são proparoxítonas. As proparoxítonas são também chamadas de palavras esdrúxulas. Na língua portuguesa, é pouco comum que a sílaba tônica seja a antepenúltima, o que faz com que as proparoxítonas sejam acentuadas.
Algumas palavras de origem estrangeira, como “deficit”, “performance”, “habitat” e “superavit”, não são proparoxítonas, mas alguns gramáticos já as aportuguesaram, passando a ter acentos gráficos.
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Mas do que fala a crônica de Eduardo Affonso? Confira:
PROPAROXÍTONAS
Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto.
As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico.
Estão para as outras palavras assim como os mamíferos para os artrópodes.
As palavras mais pernósticas são sempre proparoxítonas. Das mais lânguidas às mais lúgubres. Das anônimas às célebres.
Se o idioma fosse um espetáculo, permaneceriam longe do público, fingindo que fogem dos fotógrafos e se achando o máximo.
Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto – e, despóticas, ainda exigem acento na sílaba tônica!
Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito.
É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo.
O inclinado e o íngreme.
O irregular e o áspero.
O grosso e o ríspido.
O brejo e o pântano.
O quieto e o tímido.
Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice.
Uma coisa é estar no topo – outra, no ápice.
Uma coisa é ser fedido – outra é ser fétido.
É fácil ser valente, mas é árduo ser intrépido.
Ser artesão não é nada, perto de ser artífice.
Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser Pontífice.
(Este último parágrafo contém algo raríssimo: proparoxítonas que rimam. Porque elas se acham únicas, exóticas, esdrúxulas. As figuras mais antipáticas da gramática.)
Quer causar um impacto insólito? Elogie com proparoxítonas.
É como se o elogio tivesse mais mérito, tocasse no mais íntimo.
O sujeito pode ser bom, competente, talentoso, inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico, esplêndido.
Da mesma forma, errar é humano. Épico mesmo é cometer um equívoco.
Escapar sem maiores traumas é escapar ileso – tem que ter classe pra escapar incólume.
O que você não conhece é só desconhecido. O que você não tem a mínima ideia do que seja – aí já é uma incógnita.
Ao centro qualquer um chega – poucos chegam ao âmago.
O desejo de ser uma proparoxítona é tão atávico que mesmo os vocábulos mais básicos têm o privilégio (efêmero) de pertencer a esse círculo do vernáculo – e são chamados de oxítonos e paroxítonos. Não é o cúmulo?