Nosso Gilberto Gil, de 79 anos de idade, tomou posse na Academia Brasileira de Letras como o primeiro representante da música popular a ser eleito para a instituição. Para o seu discurso, Gil fez um poema, escrito especialmente para o evento. No poema, ele lembra que nos anos 60 tirou uma foto com o fardão, mas como ironia e, agora, estava ele vestido com o fardão. Veja o poema:
Eu mesmo, nos meus tempos de aventuras, / cheguei a envergar um garboso fardão, / vestido então como ironia dura, / a fantasia pura da ilusão! / juntava-me, naquele instante, aos muitos / que alfinetavam a Instituição / mal sabia eu quais os intuitos, / do destino astuto a interrogação. Um amigo lembrou-me outro dia / que as ironias sempre trazem seu revés / papéis trocados, eis aqui, vida vadia: / fardão custoso, bordado a ouro, vistoso, / me revestindo da cabeça aos pés.
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O NotaTerapia separou trechos do discurso completo de Gilberto Gil. Confira:
“Entre tantas honrarias que a vida generosamente me proporcionou essa tem para mim uma dimensão especial, não só porque aqui é a casa de Machado de Assis, um escritor universal, afrodescendente como eu, mas também porque a ABL, fundada em 20 de julho de 1897, representa mesmo para quem a critica a instância maior que legitima e consagra de forma perene a atividade de um escritor ou criador cultura em nosso país”
“É importantíssimo que a casa acolha com essa compreensão do negro na vida brasileira, vá acolhendo todos aqueles que pleiteiam vir pra cá, que trazem suas qualificações para vir pra cá”.
“A Academia Brasileira de Letras é a Casa da Palavra e da Memória Cultural do Brasil. E tem uma responsabilidade grande no sentido de fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do obscurantismo, da ignorância, e demagogia de feição antidemocrática”
“Sou filho de uma professora primária e um médico. A eles devo o meu amor às letras e música. A imagem dos meus pais está comigo nessa noite e sua memória para mim é uma benção”
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“Tive grandes êxitos e alegrias nesta vida, mas também muitas tristezas, a maior e mais dolorosa, a perda do meu filho Pedro Gil”
“Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora. Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da Internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos”
“A ABL tem muito a contribuir nesse debate civilizatório. E eu gostaria, aqui, efetivamente, de colaborar para o debate, em prol da cultura e da justiça”
“Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora. Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da Internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos”
“Sempre houve críticas à Academia, que a casa de Machado não faria jus ao sonho que sonhara ser um dia. Todos ali representados por alguns. Tal ampla representatividade sonhada por Nabuco e demais fundadores, jamais fora alcançada de verdade, jamais todos os saberes e sabores. Eu mesmo, nos meus tempos de aventuras, cheguei a envergar um garboso fardão vestido então como ironia dura à fantasia, pura da ilusão. Juntava-me naquele instante aos muitos que alfinetavam a instituição. Mal sabia eu quais os intuitos do destino astuto a interrogação”, falou. “Um amigo meu lembro-me agora, há poucos dias, que as ironias sempre trazem seu revés. Papéis trocados, eis aqui vida vadia, fardão custoso, bordado a ouro, vistoso, me revestindo da cabeça aos pés”
Veja a cerimônia e o discurso de posse completos aqui:
E você, o que achou da entrada do Gilberto Gil na Academia Brasileira de Letras?